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    Cifras & Letras

    Protagonista de escândalo de Wall Street é alvo de jornalista em livro

    JOHN GAPPER
    DO "FINANCIAL TIMES"

    11/02/2017 02h00

    Steve Marcus - 4.nov.2013/Reuters
    Hedge Fund Manager Steven A. Cohen, fundador e presidente da SAC Capital Advisors, durante uma entrevista, em Las Vegas (EUA). A empresa SAC Capital Advisors Cohen vai se declarar culpada em um tribunal federal e pagar mais de US $ 1 bilhão para quitar as despesas decorrentes de uma investigação de insider trading expansivo, que durou mais de cinco anos. *** Hedge fund manager Steven A. Cohen, founder and chairman of SAC Capital Advisors, responds to a question during an interview in Las Vegas in this file photo taken May 11, 2011. Cohen's embattled hedge fund SAC Capital Advisors will plead guilty in federal court and pay more than $1 billion to settle charges stemming from an expansive insider trading investigation that lasted more than five years, sources familiar with the matter said on Monday. REUTERS/Steve Marcus/Files (UNITED STATES - Tags: BUSINESS CRIME LAW)
    Steven Cohen, fundador do SAC Capital, fundo que admitiu culpa por 'insider trading'

    Muita gente não confia em Wall Street. O mercado financeiro é visto como uma máquina de fazer dinheiro comandada por pessoas com pouco interesse em seu propósito declarado –o de canalizar capital para negócios e ajudá-los a crescer de forma a beneficiar a sociedade. Para esses céticos, Steven Cohen é a prova número um de suas afirmações.

    O antigo fundo de hedge de Cohen, o SAC Capital, dominava as operações de ações em Wall Street antes de se admitir culpado, em 2013, por insider trading (uso indevido de informações privilegiadas), o que lhe valeu US$ 1,8 bilhão em punições.

    Cohen escapou de um indiciamento criminal. Hoje, ele dirige um fundo privado com US$ 11 bilhões em ativos.

    Em "Black Edge" (Vantagem Negra, sem tradução para o português), Sheelah Kolhatkar, jornalista da revista "New Yorker", expõe a maneira pela qual o fundo se tornou tão "abençoado".

    Cohen pagava grandes comissões a bancos para que fosse informado primeiro sobre novidades, e isso permitia que o SAC Capital chegasse antes de outros fundos de hedge e investidores ao mercado. A prática dava ao SAC aquilo que Cohen desejava acima de tudo: "vantagem" sobre os concorrentes.

    Havia diferentes tipos de vantagem. "Vantagem branca" significava conhecimentos que criavam oportunidades legítimas; "vantagem cinzenta" é o que acontecia, por exemplo, quando um executivo de uma empresa dava uma dica informal sobre seus resultados antes do anúncio oficial –que não chega a constituir ilegalidade.

    E havia também "vantagem negra", como a obtida por Mathew Martoma, um dos assessores mais próximos de Cohen, ao obter informações privilegiadas sobre um remédio para o mal de Alzheimer de um médico que estava conduzindo testes.

    Cohen exercia intensa pressão sobre os operadores para que eles produzissem essas vantagens, mas evitava se informar sobre a "cor".

    Ele exigia estratégias operacionais classificadas com um "índice de convicção" de 1 a 10, em lugar de uma explicação sobre a origem das informações empregadas –Martoma atribuiu à sua informação sobre o remédio o grau 9, por exemplo. Isso protegia o fundador do SAC Capital de ameaças legais.

    Os procuradores do governo e as autoridades regulatórias não conseguiram acusar Cohen, ainda que tenham se esforçado ao máximo. O melhor que puderam fazer foi impor uma sentença de nove anos de prisão a Martoma.

    Nenhum leitor do livro concluiria que Cohen é inocente. Até mesmo a maneira pela qual obtinha informações legítimas deixa um sabor desagradável na boca.

    'BRILHANTE'

    Cohen era, e sempre foi, um brilhante operador. Ele ascendeu vindo das trincheiras do mercado, trabalhando em uma corretora chamada Gruntal, e não em empresas de primeira linha como o Goldman Sachs. Ele era "excepcionalmente melhor que todo o mundo", segundo um de seus ex-colegas.

    Kolhatkar relata de maneira lúcida como Cohen estava na vanguarda da virada de poder, dos bancos para os fundos de hedge –exploradores pouco regulamentados e muito ágeis dos movimentos de capital.

    Ao longo do caminho, ele mudou o conceito do que quer dizer "investimento". Adquiria ações não para retê-las, como os fundos tradicionais, mas para renegociá-las rapidamente. Era uma prática altamente lucrativa, mas privou Wall Street de sua camuflagem como suposta propulsora do crescimento da economia. Quer suas transações fossem legais, quer não, elas eram sempre dúbias.

    A ausência forçada de Cohen do setor coincidiu com um período duro para os fundos de hedge. A questão a responder agora é se seres humanos são capazes de concorrer com os computadores. Se Cohen retornar, estará concorrendo com um robô, e torço pelo robô.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    *

    BLACK EDGE
    QUANTO: R$ 80,90 (livro digital; 368 págs.)
    AUTOR: Sheelah Kolhatkar
    EDITORA: Random House, 2017

    Edição impressa
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