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    'Não financio mais políticos; não tenho dinheiro na pessoa física', diz Joesley

    RENATA AGOSTINI
    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    15/02/2017 02h00

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 13.02.2017 - Entrevista Joesley Batista, dono da JBS, durante entrevista a Folha na sede da empresa em Sao Paulo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
    Joesley Batista, dono da JBS, durante entrevista na sede da empresa, em São Paulo

    O empresário Joesley Batista afirmou à Folha que, com a proibição de doações eleitorais por empresas, não pretende mais contribuir com políticos: "É que eu não tenho dinheiro na pessoa física. Aí é fácil".

    Nesse trecho da entrevista, ele diz que a J&F Investimentos e suas controladas faziam doações eleitorais milionárias porque era permitido por lei.

    Em 2014, foi o grupo que mais doou a candidatos pelo país.

    "A partir do momento que é permitido, o candidato te pede", disse, ao ser questionado sobre o que motivava o grupo a fazer tantos desembolsos.

    *

    Folha - Uma questão que costuma aparecer, quando fala-se sobre a empresa, é o volume muito grande de doações eleitorais. É um valor expressivo.

    Joesley Batista - É alto.

    Na última eleição foi o grupo que mais doou.

    Foi o que mais doou oficialmente.

    Por que fazer tantas doações? Doações milionárias. É muito dinheiro...

    [Pausa]. É muito dinheiro. É legal. Não fiz doações que não fossem oficiais, todas estão lá, é aquilo. Se fizer uma análise, são doações proporcionais aos partidos, ao tamanho dos partidos, proporcionais à quantidade de candidatos, em termos dos Estados, das representações dos Estados.

    Um Estado maior foi mais. Um menor foi menos. Percentualmente, teve gente que doou muito mais. Para o tamanho da empresa, é muito dinheiro no absoluto, mas no relativo não é tanto.

    Mas por que fazer doações tão expressivas e tão amplas? O que vocês ganham?

    O simples fato de ser permitido é a explicação. Porque a partir do momento que é permitido, o candidato te pede. E a partir do momento que é permitido e ele te pede Hoje é simples, mudou, não é permitido, então está resolvido. Se é permitido, o candidato te pede. Você participa da sociedade lá, seja no Tocantins, seja no Acre. Como não vai participar do processo?

    DONO DA JBS
    Outros trechos da entrevista com Joesley

    Mas qual o objetivo de fazer doação para todos? Não ter problema com ninguém?

    A resposta mais simples e objetiva é "Eu doei porque é permitido", e isso faz muita diferença. Você é casada? Se é permitido teu menino ir na piscina, por que é que você não vai deixar? Você vai ser uma má mãe. "Pô, mãe, mas pode! Por que a senhora não deixa?". Agora, se não é permitido... "Meu filho, você não vai porque não pode".

    Mas, se o filho não sabe nadar, a mãe não deixa nem que seja permitido.

    Mas é que se uma empresa do nosso tamanho, com a diversificação da nossa, não participar do processo que é legal, de que todo mundo participa Nós, certos ou errados, tomamos a decisão de participar.

    E com a proibição, pretende continuar participando como pessoa física?

    Não, está tudo resolvido agora.

    O senhor é a favor da proibição?

    É uma ótima medida, porque esse negócio é proibido, pronto, então não há discussão.

    Mas é permitido doar na pessoa física, e nada impede que os candidatos venham lhe pedir. Qual será o argumento para negar?

    É que eu não tenho dinheiro na pessoa física. Aí é fácil, porque não tenho dinheiro [risos].

    Ninguém vai acreditar no senhor.

    Mas é sério, dinheiro, não tenho. Tenho patrimônio. A questão de ter mudado por si só já é um avanço.

    Nas contas de vocês, quando vem a recuperação econômica?

    Neste ano para de cair. Quando estivermos no segundo semestre, olhando para 2018, já vamos ter as perspectivas econômicas bem positivas. Vamos ver um Brasil de um segundo semestre bem melhor que o do primeiro semestre de 2017, porque quando estivermos olhando 2018 vai ser bastante animador.

    Está falando de reaquecimento do consumo?

    Não, de expectativa. Consumo, mesmo, acho que volta só em 2018, 2019. Mas as perspectivas, Bolsa já subindo, fluxo de capital vindo

    Volta investimento?

    Vai demorar um pouco, porque a indústria está com muita capacidade ociosa. Vai começar a voltar o emprego. Quando ocupar a capacidade ociosa, que está muito baixa

    Como está a capacidade de vocês?

    Nós não temos capacidade ociosa. Não demitimos, não encolhemos, todas as empresas fecharam acima do orçamento no ano passado, com todo barulho. Apesar de que, dá porta pra fora, há esses barulhos com que temos que lidar, queremos mais é ter certeza de que, da porta para dentro, estamos crescendo, produzindo, ganhando market share [participação de mercado]. E isso está acontecendo. Crescemos em volume, preço e market share em praticamente todas as divisões.

    A eleição de Donald Trump afetou seus negócios nos Estados Unidos?

    Estamos muito otimistas com os EUA. A economia está aquecendo rapidamente. O desemprego está caindo, o consumo está aquecido. As empresas estão gerando caixa. Os salários estão começando a subir, vai ter um pouco de inflação.

    Tudo isso na sua operação?

    Sim.

    Então vai haver pressão de custos?

    Sim, mas o preço está bom, porque o consumo está na frente. O consumo de frango, boi e porco está crescendo acima da produção. Com o desemprego baixíssimo, começa a haver dificuldade na produção, limitante por falta de capacidade de mão de obra. Mas há muito consumo, as margens melhoram.

    Quando será a abertura de capital ?

    Depois da publicação do balanço, em março ou abril. Em isso acontecendo, marcam-se dez anos de que a companhia é de capital aberto, e confirma-se toda a nossa tese de investimento de 2007, quando fomos para os EUA porque lá estava muito barato e aqui estava caro, e isso iria mudar no futuro. Vai ser a realização de uma estratégia concebida há dez anos.

    E aí finalmente o senhor vai ter dinheiro na pessoa física? [risos]

    [risos]. É curioso, mas realmente não temos a tradição de ter a pessoa física e a jurídica. Não tenho coisas na minha pessoa física, tenho ações da empresa. O dinheiro é o pró-labore, os dividendos, mas para viver, para consumir. Na pessoa física só tenho uma casa, um carro. Nós somos o seguinte: nós trabalhamos, os amigos nossos são do trabalho, a gente tira férias com gente do trabalho, trabalha com gente que tirou férias, não tem partido político, a gente sai aos fins de semana, tira poucas férias, não temos dinheiro na pessoa física, somos como eu chamaria isso somos bem descomplicados

    Falando no IPO, já conseguiram tranquilizar o BNDES, que vetou a primeira operação e falou em desnacionalização da empresa?

    Nunca entramos no motivo da decisão. Havia um acordo de acionistas, e o BNDES exerceu o direito dele de vetar. Nunca fomos lá perguntar o motivo. Ele tem o direito, ele vetou. Para nós, o motivo que eles deram não faz a menor diferença. Falou-se também em uma mudança de postura que não houve. Na administração anterior foi longamente discutido tecnicamente e na troca de administração não havia conclusão. Quem tomou a decisão não foi a nova diretoria, foram os mesmos técnicos que já vinham estudando.

    Acha que não houve mudança de orientação no BNDES com a troca de administração?

    No nosso caso, não houve. Tratamos tecnicamente, fizemos apresentações, e com a antiga administração não existia acordo ou sinalização, nada. Não atribuo o veto à esta administração. O BNDES tem uma governança que funciona, do que a gente conhece.

    A operação de lá já é maior, mas ainda tem uma imagem de empresa brasileira que ganhou o mundo. Será que isso vai mudar quando houver o IPO nos Estados Unidos?

    Se tivesse feito, sim. Porque seria verdade. Ia desnacionalizar mesmo. O fato de desnacionalizar ou não sob o olhar dele pode ter relevância, porque é um banco de desenvolvimento. Sob o olhar do investidor, o investidor quer ver o preço subir. Por isso, na época o preço das ações caiu.

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