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    Como um investimento ruim nos EUA deixou Toshiba à beira do precipício

    DA BBC BRASIL

    16/02/2017 19h01

    AFP
    Toshiba enfrenta graves dificultades financieras.
    Presidente da Toshiba, Satoshi Tsunakawa; empresa enfrenta graves dificuldades financeiras

    O que aconteceu com a Toshiba, a empresa que já foi considerada o símbolo do milagre econômico do Japão pós-guerra, mas hoje enfrenta sérias dificuldades financeiras?

    Com 79 anos de história, a companhia anunciou que se prepara para reportar perdas de pelo menos US$ 3,4 bilhões (R$ 10,5 bilhões) no último ano.

    "E muitos acreditam que o pior ainda está por vir", afirmou Karishma Vaswani, correspondente de negócios da BBC na Ásia. O futuro da empresa, advertem alguns especialistas, está em risco.

    Um dos principais responsáveis pela atual situação da Toshiba é o desempenho de sua unidade nuclear nos Estados Unidos, que vai provocar uma baixa contábil de aproximadamente US$ 6,3 bilhões (R$ 19,45 bilhões), conforme revelado nesta semana.

    O deficit elevado levou à renúncia do presidente da empresa, Shigenori Shiga, e também forçou a companhia a adiar por um mês a publicação de seu balanço contábil.

    ELETRÔNICOS NO PASSADO

    "As pessoas ainda reconhecem o nome Toshiba pelos produtos eletrônicos, mas esse já não é mais o coração de seus negócios", observa Bill Wilson, repórter especialista em negócios da BBC.

    A Toshiba, lembra Wilson, não mais fabrica televisores para exportação, e sua linha de eletrodomésticos dá prejuízo.

    Nos dias atuais, a japonesa é um conglomerado com diferentes negócios, como a energia nuclear, que responde por um terço de sua renda e, agora, gera prejuízo.

    A Westinghouse Electric, subsidiária nuclear da Toshiba nos EUA, comprou ativos de outra firma do setor, a Chicago Bridge & Iron (CB&I), em 2015.

    Bill Wilson diz que os ativos adquiridos provavelmente valiam menos do que o estimado inicialmente —e agora há uma disputa sobre o pagamento.

    DIFICULDADES MUNDIAIS

    O setor de produção de energia nuclear enfrenta desafios em todo o mundo.

    Desde o desastre ocorrido na japonesa cidade de Fukushima, em 2011, a energia nuclear é um produto muito mais difícil de vender.

    Alguns governos têm reduzido a dependência em relação a esse tipo de energia e, em alguns casos, como em Taiwan, houve cancelamento total dos planos de geração de energia atômica.

    Além de protestos recorrentes e pressão de ambientalistas, há dificuldades regulatórias e de escassez de pessoal qualificado, o que muitas vezes leva à demora e agrega custo adicional aos projetos.

    À ESPERA DE AJUDA

    Apesar das dificuldades, a Toshiba não se dá por vencida.

    A companhia espera que sua salvação venha de suas outras linhas de negócios, como a unidade que fabrica chips de memória para telefones e computadores, avaliada entre US$ 9 bilhões e US$ 13 bilhões (R$ 27,7 bilhões a R$ 40 bilhões).

    A venda de parte desse negócio compensaria as perdas do setor nuclear. Como fabricante desses chips, a empresa só perde para a coreana Samsung.

    Mas alguns dizem que os problemas da japonesa têm raízes mais profundas.

    Um exemplo é que sua gestão é classificada como "desastrosa" por Amir Anvarzadeh, da empresa de investimentos BGC Partners, de Cingapura.

    Parte do problema é que a gigante japonesa está confiante de que o governo em algum momento vai ajudá-la, diz Karishma Vaswani, correspondente da BBC na Ásia - e como se trata de uma empresa que emprega 180 mil pessoas, é difícil de imaginar um cenário diferente.

    Vaswani lembra que outras gigantes japonesas, como a Sharp, Takata e a Mitsubishi, também enfrentam dificuldades.

    "A Toshiba não está gerando lucros e mentiu sobre isso. Fez maus investimentos e mentiu sobre isso", acrescenta.

    Segundo a correspondente, a empresa sobrevive em grande parte por causa da proteção governamental —uma situação que pouco lembra seus velhos tempos de glória.

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