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    o brasil que dá certo - tecnologia

    Microalgas são o próximo passo na revolução dos biocombustíveis

    NÁDIA PONTES
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/02/2017 02h00

    Entre as centenas de espécies de microalgas que analisa, o robô do laboratório da Embrapa Agroenergia, em Brasília, é programado para não perder nenhum detalhe. Essa seleção automática pode levar à próxima revolução no setor de biocombustíveis.

    Esses microorganismos crescem em qualquer tipo de água (até mesmo a suja), acumulam biomassa mais rápido que as plantas terrestres, reproduzem-se o ano todo e em menor área de cultivo. E o óleo que acumulam pode virar o biocombustível mais eficiente do mundo.

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    "Nós vemos a microalga como uma biofábrica", diz Guy de Capdeville, da Embrapa Agroenergia. "Com a ajuda do robô, já identificamos cepas capazes de crescer em vinhaça e produzir biomassa com até 30% de amido."

    A vinhaça, líquido residual da produção do etanol de cana-de-açúcar, é bastante usada para adubar o solo. Mas, com o tempo, deixa o terreno mais salino e acaba prejudicando a produção. "As microalgas reduzem a carga de sal da vinhaça e ainda produzem amido, que é matéria-prima para ser convertida em etanol", explica.

    Com a tecnologia atual, microalgas apresentam o dobro da produtividade na geração de combustível em comparação com outras fontes agrícolas, como cana e soja, diz o pesquisador Bruno Brasil. Segundo ele, biocombustíveis a partir de microalgas devem ganhar escala industrial a partir de 2030.

    CANA

    A cana-de-açúcar continua como um tema quente do setor. Desde que se transformou numa fonte alternativa ao petróleo no país, há quatro décadas, a planta recebeu atenção até chegar a um patamar para "aguentar tudo", afirma Gonçalo Pereira, diretor do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol e professor da Unicamp.

    Ele fala da cana-energia, produzida a partir de melhoramento genético. "É o início de uma revolução técnica", afirma Pereira. Com menos açúcar e mais fibra, a nova cana aumenta em até 1.000% a produção de energia elétrica, com queima em caldeiras.

    A planta deve ainda aumentar a produção de etanol de segunda geração, que transforma em combustível o açúcar insolúvel contido na biomassa, na palha e no bagaço de cana, por exemplo.

    "Ainda há um caminho para se atingir grande lucratividade, mas o desenvolvimento dessa tecnologia é importante para o Brasil liderar", diz Pereira. A primeira grande colheita comercial está programada para a safra 2017/2018 em usinas de São Paulo, Alagoas e Goiás.

    Apontado como sustentável e aliado no combate às mudanças climáticas, o etanol ainda tem desafios "escondidos", afirma Arnaldo Cardoso, da Unesp. "O uso de fertilizantes e a queima do combustível produzem macronutrientes no solo e na atmosfera. E o excesso deles no planeta é um grande problema que vamos enfrentar."

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