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    Resultado fraco frustra planos de Abilio Diniz no comando da BRF

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    25/02/2017 02h00

    Divulgação/BRF
    Presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, em meio às comemorações de 70 anos da Sadia CRÉDITO: Divulgação/BRF
    O presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz

    Na primeira reunião com os vice-presidentes da gigante de alimentos BRF após assumir a presidência do conselho de administração da empresa, Abilio Diniz disse que dobraria seu investimento e levaria as ações da companhia para R$ 100 em cinco anos.

    O empresário está longe de cumprir a promessa. Nesta sexta (24), as ações da empresa fecharam a R$ 40,6, patamar similar aos R$ 42 do dia 9 de abril de 2013, quando Abilio chegou à companhia, conforme a Economática.

    Criada a partir da fusão da Sadia com a Perdigão, os papéis da BRF atingiram R$ 70,11 em agosto de 2015, mas, desde então, o valor de mercado da empresa caiu pela metade, saindo de R$ 61 bilhões para R$ 32,4 bilhões.

    Os investidores têm castigado a companhia por causa de seus fracos resultados recentes. No ano passado, a empresa teve prejuízo de R$ 372 milhões, o primeiro desde que foi criada em 2009.

    A empresa vem sofrendo com uma tempestade perfeita: redução do consumo doméstico por causa da recessão, concorrência com a rival JBS (dona da marca Seara) e aumento do custo dos insumos, especialmente o milho.

    Medida pelo indicador Ebitda, a capacidade de geração de caixa caiu de 17% em 2015 para 10% em 2016. Pressionada pelos custos elevados, a BRF reajustou preços acima dos cobrados pela concorrência e perdeu mercado.

    Ex-dono do Pão de Açúcar, Abilio investiu R$ 1,16 bilhão no negócio e detém 3,17% da BRF por meio da Península, empresa que administra seu patrimônio. Em média, ele pagou R$ 44 por ação —ou seja, se decidisse vender hoje a participação na BRF, o empresário sairia com prejuízo.

    Os resultados decepcionantes da companhia alimentam boatos de que Abilio vai vender sua parte e deixar a presidência do conselho. Ele nega e reafirma que o investimento é de longo prazo.

    Em abril, a BRF faz sua assembleia de acionistas, que define o comando da empresa a cada dois anos. Pessoas próximas dizem que dois importantes acionistas —os fundos de pensão Previ, dos funcionários do BB, e Petros, dos funcionários da Petrobras— estão insatisfeitos.

    Abilio chegou à presidência do conselho da BRF com apoio de Previ, do fundo Tarpon e dos herdeiros da Sadia.Mas sua escolha enfrentou resistência da Petros na época, porque surpreendeu Nildemar Secches, ex-presidente da Perdigão e idealizador da BRF.

    Quando assumiu o negócio, Abilio foi bastante crítico à gestão anterior. Dizia que a BRF "empurrava barbante" ao focar custos e forçar a venda. Sua receita seria "puxar o barbante" e produzir o que o consumidor desejava.

    MEA CULPA

    Em conferência com analistas nesta sexta-feira para explicar os resultados do ano passado, o empresário fez um mea culpa e reconheceu que a empresa "descentralizou" demais e que a cadeia entre consumidor e produtor "ficou interrompida".

    Para tentar reverter a situação, Abilio decidiu participar mais diretamente da gestão da empresa, entrando num comitê especial criado para aconselhar Pedro Faria, atual presidente global da BRF.

    Abilio, José Carlos Magalhães (Tarpon), Walter Fontana e Eduardo Fontana Davila (ex-Sadia) se reunirão semanalmente nos próximos três meses para analisar a gestão da empresa. Procurados, Abilio e BRF não deram entrevista. A pessoas próximas Abilio diz que não desistiu de levar a ação da empresa a R$ 100.

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