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    Ação a US$ 17 faz dona do Snapchat valer US$ 24 bilhões no mercado

    DO "NEW YORK TIMES"

    01/03/2017 20h06 - Atualizado às 09h38

    Prejuízo de mais de US$ 500 milhões no ano passado. Uma empresa cujos cofundadores podem, na prática, manter o controle sobre ela anos depois de deixarem seus postos. E um crescimento antes explosivo no número de usuários que parece ter esbarrado em um obstáculo.

    Para muitos dos investidores na empresa que controla o Snapchat, nada disso importará muito, pelo menos a princípio.

    Na quarta-feira, as ações da Snap tiveram seu preço estipulado em US$ 17 —acima da faixa esperada, de entre US$ 14 e US$ 16—, o que indica forte demanda entre os investidores. Esse preço conduz a uma capitalização de mercado de US$ 24 bilhões para a companhia, cujas ações devem começar a ser negociadas na quinta-feira na bolsa de valores de Nova York.

    A questão para o futuro mais distante que esta semana é determinar se a empresa das mensagens que desaparecem provará ser parecida com o Facebook ou com o problemático Twitter.

    A oferta pública inicial de ações da Snap será uma das maiores e mais aguardadas entradas no mercado nos últimos anos, e movimentará bilhões de dólares, reanimando o moribundo mercado de ações novas e gerando riqueza hipotética para os principais investidores no grupo.

    Snap Inc./AFP Photo
    Spectacles do Snapchat
    Spectacles do Snapchat

    O mais importante talvez seja o fato de que a transação cimentará a posição da Snap como um dos novos membros de um dos mais rarefeitos clubes modernos: o dos unicórnios, ou seja, empresas iniciantes avaliadas em mais de US$ 1 bilhão em rodadas privadas de investimento, que confirmaram seu sucesso nos mercados públicos.

    Ao abrir seu capital, a Snap saltou adiante de outros queridinhos do setor de tecnologia, como o Uber, Airbnb e a provedora de análise de dados Palantir.

    A demanda entre os investidores por ações da Snap, ao final de um road show de quase duas semanas de duração que cruzou todo o território dos Estados Unidos e se estendeu também a Londres, se provou robusta.

    Mas com a projeção de um valor de mercado bem superior a US$ 20 bilhões, a empresa está se deixando pouca margem de erro. A avaliação da empresa é muito superior à do Facebook, que lucrou US$ 10 bilhões no ano passado. Em comparação, a Snap sofreu US$ 514 milhões em prejuízo no mesmo período, quantia superior à perdida em 2015.

    No entanto, ao longo de suas apresentações aos investidores, os executivos da Snap e seus consultores enfatizaram acima de tudo a promessa daquilo que inicialmente parecia apenas uma traquinagem tecnológica. Em lugar de adotar como foco seu principal produto, as mensagens que desaparecem, o Snapchat em lugar disso foi retratado como uma nova maneira de consumir conteúdo, criado principalmente por usuários —e operando em companhia de uma operação publicitária em rápido crescimento.

    No final do ano passado, a Snap reportava em média 158 milhões de usuários ativos ao dia. Seu faturamento totalizou US$ 404 milhões em 2016, ante zero três anos antes, e a companhia anunciou que espera faturar US$ 1 bilhão este ano.

    A empresa avançou muito desde seus primórdios em um alojamento de estudantes da Universidade Stanford, quando era um serviço usado primordialmente pela geração milênio, encantada com a ideia de enviar aos amigos fotos e vídeos que se autodestroem depois de alguns segundos.

    Sediada em Venice, um bairro charmoso de Los Angeles, a empresa de lá para cá lançou recursos de transmissão de "histórias" pelos seus usuários, que podem informar audiências mais amplas sobre as coisas que acontecem ao longo do dia, e foi pioneira no uso de lentes geradas por computador que combinam a imagem do usuário à de um cachorro ou taco.

    Agora, a Snap está tentando exibir ambições ainda maiores.

    Nos panfletos sobre sua oferta inicial de ações, ela se definiu como uma "companhia de câmeras". Isso a levou a colocar no mercado o Spectacles, um óculos de sol dotado de câmera que permite que seus usuários subam vídeos de 10 segundos diretamente para o Snapchat e capturou o interesse dos interessados em tecnologia, por algum tempo. E ainda mais produtos podem estar em desenvolvimento nos escritórios da empresa, onde tudo é tratado com sigilo.

    O cofundador e presidente-executivo da Snap, Evan Spiegel, 26, refuta comparações com Mark Zuckerberg, e se esforça por se retratar de maneira muito diferente do bilionário fundador do Facebook —ele é entusiasta da moda e noivo de uma top model.

    Mas Spiegel e os demais acionistas da empresa ainda esperam que os investidores a conduzam a alturas semelhantes às do Facebook. Cerca de cinco anos depois que Zuckerberg abriu o capital do Facebook, as ações da empresa registram alta de 254%.

    O exemplo negativo é o Twitter, que celebrou uma estreia ambiciosa no mercado de ações em 2013 mas viu suas ações despencarem por conta de dúvidas sobre sua capacidade para continuar crescendo. As ações do Twitter caíram em cerca de 62% ante seu valor de oferta inicial, e a empresa vem tendo de enfrentar questões sobre sua capacidade de continuar como empresa independente e de capital aberto.

    Os analistas também mencionaram a possibilidade de baixo crescimento no caso da Snap, especialmente porque o crescimento no número de usuários da empresa se desacelerou no ano passado.

    Os executivos da empresa rebateram, em suas apresentações aos investidores, afirmando que a desaceleração surgiu principalmente por causa de questões técnicas em seu app para o sistema operacional Android. E argumentaram que a questão maior a considerar é o engajamento dos usuários. Ou, para expressar de outra maneira, o quanto a audiência ama o app. Os usuários ativos do Snapchat abrem o app em média 18 vezes por dia.

    A Snap pode flutuar ou afundar, mas sua oferta inicial de ações já terá enriquecido significativamente seus investidores iniciais, especialmente os cofundadores Spiegel e Robert Murphy. Cada um deles detém 227 milhões de ações, um bloco cujo valor hipotético é de mais de US$ 3 bilhões, e isso bem antes de os dois completarem 30 anos de idade.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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