O presidente-executivo da Uber, Travis Kalanick, disse que precisa amadurecer e receber ajuda quanto à sua liderança depois que surgiu um vídeo que o mostra discutindo de maneira rude com um motorista da empresa.

Em imagens reveladas na terça-feira (2), Kalanick é visto perdendo a paciência durante uma corrida em um carro do Uber, e criticando o motorista, que diz que a empresa o "faliu".

Kalanick afirmou em e-mail aos funcionários da Uber que "dizer que estou envergonhado é ficar bem aquém do que sinto. Meu trabalho como seu líder é liderar... e isso começa com um comportamento que seja causa de orgulho para todos nós. Não foi o que fiz, e não há justificativa para os meus atos".

"Fica evidente que o vídeo é um reflexo do que sou, e as críticas que recebemos são um lembrete claro de que devo mudar fundamentalmente como líder, e amadurecer. Esta é a primeira vez que me dispus a admitir que preciso de ajuda quanto à minha liderança, e pretendo obtê-la", ele afirmou.

Kalanick pediu desculpas à "comunidade de motoristas e passageiros, e à equipe da Uber".

Travis Kalanick discute com motorista

O vídeo gravado pela câmera do painel do carro, em 5 de fevereiro, exacerbou as tensões entre a Uber e seus motoristas, que se queixam frequentemente de mau tratamento e de pagamentos insuficientes.

No vídeo, o motorista Fawzi Kamel acusa Kalanick de mudar o modelo de negócios do Uber Black, o serviço de limusines e carros de luxo da Uber, e de cortar os preços pagos aos motoristas pelas corridas.

"Estou falido por sua causa", diz Kamel no vídeo, reportado inicialmente pela Bloomberg News. "Você muda [os preços] todos os dias".

Kalanick responde definindo essas queixas como "bobagem" e perde a calma, apontando que não houve mudanças nos preços do Uber Black.

Ao sair do carro, ele diz: "Sabe de uma coisa? Algumas pessoas não gostam de assumir a responsabilidade por suas cagadas. Jogam a culpa na vida ou nos outros. Boa sorte".

Na semana passada, a startup cujo valor de mercado foi avaliado em US$ 70 bilhões se tornou alvo de um processo da Alphabet por suposto roubo de segredos comerciais quanto a carros autoguiados, e pediu que um importante engenheiro se demitisse devido a um inquérito por assédio contra ele em um empregador anterior.

O vídeo surgiu apenas alguns dias depois que duas antigas empregadas da Uber divulgaram acusações de assédio sexual na empresa, afirmando que suas queixas haviam sido ignoradas pelo departamento de recursos humanos.

A questão do corte nos preços das corridas há muito vem sendo causa de disputa entre a Uber e seus motoristas, especialmente os do "UberX", um serviço de baixo preço que passou por repetidos cortes no valor das corridas. No Uber Black, as tarifas estão estáveis, mas os motoristas desse serviço perderam mercado quando o UberX foi adicionado aos serviços da empresa, em 2012.

Em declarações públicas anteriores, Kalanick disse que a Uber oferece "uma boa remuneração" para os motoristas que trabalham com a empresa em tempo integral, e que ajuda as pessoas que o fazem em tempo parcial a manterem as contas em dia. No começo do ano, Kalanick prometeu ajuda aos motoristas da Uber afetados pela restrição de entrada nos Estados Unidos imposta por Donald Trump a cidadãos de sete países, e lhes ofereceu assistência judicial e compensação pelos dias de trabalho perdidos.

Menos de metade dos motoristas da Uber estão satisfeitos com sua experiência dirigindo para a companhia, de acordo com uma pesquisa do site noticioso The Rideshare Guy.

Tradução de PAULO MIGLIACCI