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    Snapchat sobe 44% na estreia na Bolsa e vale 150% a mais que Twitter

    NICOLE BULLOCK
    HANNAH KUCHLER
    DO "FINANCIAL TIMES"

    02/03/2017 18h23

    A longa seca no mercado de ofertas públicas iniciais de empresas de tecnologia de grande porte acabou nesta quinta-feira (2). As ações da Snap Inc., dona do Snapchat, registraram alta de mais de 40% em relação a seu preço de oferta inicial, em sua estreia no mercado.

    O bom desempenho vem de encontro às dúvidas quanto à governança e lucratividade da controladora do aplicativo de mensagens que desaparecem poucos segundos depois de lidas.

    Uma multidão de operadores passou mais de uma hora diante da mesa do market maker [empresa que tem o compromisso de manter ações de uma dada companhia para compra e venda em bolsa] apontado para a Snap, depois que soou o sino de abertura do pregão da bolsa de Nova York. Eles estavam ajudando a determinar o preço inicial de mercado das ações. Surgiram aplausos no pregão quando as ações, que tinham preço de oferta inicial de US$ 17, acima da faixa prevista entre US$ 14 e US$ 16, imediatamente atingiram a cotação de US$ 24.

    As ações chegaram a superar os US$ 25, no pregão da tarde, o que representa um valor de mercado de quase US$ 30 bilhões para a empresa.

    MANDA SNAP

    A esse preço, o valor de mercado da Snap é 250% maior que o do Twitter, seu rival no mercado de redes sociais, e equivalente ao do grupo Kellogg de alimentação, ao da produtora de videogames Electronic Arts e ao da fabricante de eletrônicos Panasonic.

    Mas a capitalização atingida pela empresa ainda se apequena diante de seus dois principais concorrentes na disputa por verbas publicitárias: Google, com US$ 590 bilhões, e Facebook, com US$ 400 bilhões.

    Cerca de 75 milhões de ações da Snap trocaram de mãos às 11h35 da manhã, horário de Nova York, o momento em que elas começaram a ser negociadas no mercado aberto. O montante representa o maior volume de ações negociado em uma bolsa dos Estados Unidos, de acordo com dados da Bloomberg, na categoria de empresas com valor de mercado superior a US$ 50 milhões.

    O entusiasmo surgiu a despeito da decisão de alguns administradores de investimento de rejeitar a ação, devido à preocupação com a decisão da empresa de emitir ações preferenciais, sem direito de voto, o que é inédito nos Estados Unidos, e de garantir controle aos seus cofundadores mesmo que eles deixem a companhia.

    Além disso, alguns analistas questionaram se um app sem lucros e em feroz concorrência com outras empresas de mídia social merecia uma avaliação tão generosa. No ano passado, a empresa registrou prejuízo líquido de US$ 515 milhões sobre faturamento de US$ 405 milhões, depois de sofrer prejuízo de US$ 373 milhões em 2015.

    Brian Wieser, analista da Pivotal Research, disse que a Snap havia sido "significativamente superestimada", devido ao ambiente de competição que enfrenta, ao seu modelo de negócios ainda não comprovado e aos riscos de diluição, para os acionistas, devido à postura "agressiva" da empresa na distribuição de ações aos seus funcionários.

    Wieser recomendou venda da ação, e estimou um preço de US$ 10 para ela.

    A ABERTURA

    Os cofundadores da Snap tocaram o sino de abertura do pregão da bolsa enquanto aguardavam as primeiras transações da oferta pública inicial que fez deles bilionários. Evan Spiegel, 26, presidente-executivo do grupo, e Bobby Murphy, seu vice-presidente de tecnologia, apareceram usando ternos elegantes e gravatas, o que os diferencia de outros empreendedores da tecnologia que costumam aparecer para ocasiões como essas usando agasalhos com capuz e camisetas. Tom Farley, presidente da bolsa de Nova York, também esteve presente, e subiu ao pódio na companhia dos dois executivos.

    A noiva de Spiegel, a modelo Miranda Kerr, foi com ele à bolsa, como parte de uma comitiva de 100 convidados da Snap, que incluía empregados, membros do conselho e parentes.

    Do lado de fora da bolsa, um grande cartaz amarelo que dizia "Snap Inc" enfeitava a fachada. Do lado de dentro, telas exibindo o logotipo do fantasma que é a marca da Snap estavam posicionadas por sobre o salão de operações da bolsa, e funcionários da Snap e da bolsa circulavam usando o óculos Spectacles, um produto da Snap que sobe os vídeos que grava diretamente para o Snapchat.

    Um Snapbot, uma máquina amarela de venda de Spectacles, também foi instalado na sede da bolsa, como presente da empresa, enfeitado por balões amarelos.

    A Snap também presenteou os operadores da GTS, a empresa designada como market marker de suas ações, com o Spectacles, mas eles optaram por não usar o óculos porque as imagens registradas poderiam revelar inadvertidamente os pedidos recebidos.

    O SNAPCHAT

    Fundado como alternativa às plataformas existentes de mídia social, o Snapchat permite troca rápida de mensagens ("snaps") que desaparecem em 10 segundos.

    A Snap acrescentou recursos como coleções de fotos que ficam no ar por 24 horas, sob o nome "histories", e uma plataforma editorial que permite que usuários acompanhem notícias e entretenimento, sob o nome "discover". O Snapchat se descreve como um serviço para amigos próximos, e não para conhecidos, como no caso do Facebook, ou desconhecidos, como no Twitter.

    Cerca de 158 milhões de usuários abrem o app em média 18 vezes por dia, e 60% deles enviam um snap a um amigo pelo menos uma vez por dia. A faixa etária dominante é a dos 18 aos 24 anos, uma geração que os anunciantes gostariam de atingir via aparelhos móveis, já que seus integrantes não passam muito tempo assistindo TV.

    Mike Segar - 18.mai.2016/Reuters
    Snapchat logo image created with Post-it notes is seen in the windows of Havas Worldwide offices at 200 Hudson street in lower Manhattan, New York during "Post-it note war"An image of the Snapchat logo created with Post-it notes is seen in the windows of Havas Worldwide at 200 Hudson Street in lower Manhattan, New York, U.S., May 18, 2016, where advertising agencies and other companies have started what is being called a "Post-it note war" with employees creating colorful images in their windows with Post-it notes. REUTERS/Mike Segar
    Logo do Snapchat criado com post-it em escritório de Nova York

    A documentação encaminhada pela Snap à SEC (Securities and Exchange Commission), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, para sua oferta pública inicial inovou, mencionando "sexting" —ou seja, a troca de mensagens e imagens de teor íntimo—, fotos de pessoas no banheiro e um desenho do fantasma da marca vomitando um arco-íris.

    Os investidores que colocaram capital na empresa antes da oferta pública inicial e se beneficiarão de seu sucesso incluem os grupos de capital para empreendimentos Benchmark e Lightspeed Venture Partners, grandes empresas de tecnologia como o Alibaba e Yahoo!, e uma escola de segundo grau no Vale do Silício, a Saint Francis High School, de Mountain View, que investiu US$ 15 mil na rodada inicial de capitalização da Snap depois que alunos da escola foram os primeiros a informar um executivo de capital para empreendimentos sobre o app.

    A operação está sendo apontada como barômetro para a demanda dos investidores por aberturas de capital no setor de tecnologia, por estar acontecendo em um período particularmente lento. As mais recentes companhias quentes de tecnologia, como o Uber e o Airbnb, conseguiram levantar bilhões de dólares em capital e atingiram avaliações muito elevadas.

    John Colley, professor da Warwick Business School, apontou que a Snap enfrenta significativos desafios na concorrência com o Facebook e o Google, registra prejuízos consideráveis e está sofrendo de uma desaceleração no crescimento.

    "A Snap está se beneficiando da alta disponibilidade de caixa da parte de instituições e indivíduos", ele disse. "A avaliação próxima do limite mais alto projetado reflete alta liquidez, e não que a empresa seja uma excelente perspectiva. Há mais dinheiro que oportunidades, o que significa buscar opções de alto risco como o Snapchat."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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