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    operação carne fraca

    OPINIÃO

    PF mostra do que é feita a salsicha, logo saberemos a natureza da lei

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    17/03/2017 15h23

    Bruno Santos/Folhapress
    São Paulo, SP, BRASIL, 17-03-2017: Preso (não identificado) da operação nomeada Carne Fraca, chega escoltado por agentes na sede da Polícia Federal, em um carro à paisana. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** SUP-ESPECIAIS *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Preso na operação Carne Fraca chega escoltado à sede da PF em São Paulo

    Esquemas que envolvem itens de bem comum, como medicamentos ou merenda escolar, são relativamente comuns na crônica policialesca a que o Brasil parece ter sido reduzido nos últimos anos. Mas a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta (17), parece ter encontrado um novo patamar na dissolução moral do país.

    Como pregava uma das grandes frases atribuídas, aparentemente de forma incorreta, ao chanceler alemão Otto von Bismarck (1815-1898), é melhor não saber como são feitas as leis e as salsichas. A polícia demonstrou ao distinto público como são feitas as últimas: aditivo e sei lá mais o quê misturados a refugos.

    Já as leis (e, por extensão, a interpretação delas), essas estão em pleno processo de cozimento enquanto o esquema dos frigoríficos que abasteciam também partidos políticos é desvendado. Há pizzas simultâneas no fogo, para ficar na metáfora gastronômica.

    No Congresso, senadores e deputados buscam a porta de saída para a enrascada da nova lista do procurador-geral da República. O bombardeio da opinião pública impediu a primeira carga em favor de uma tipificação de caixa dois que livre quem cometeu crime, na Câmara em 2016, mas todos debatem o que fazer agora.

    Alquimias variadas são testadas, e a coerência tirou férias: aqueles que hoje discutem a conveniência do voto em lista fechada com desenvoltura eram os mesmos que acusavam o PT de defender o instituto para ficar "para sempre" no poder. Depois reclamam quando são acusados de ser "farinha do mesmo saco".

    No Tribunal Superior Eleitoral, a bruxaria visa conjurar o espírito que manterá Michel Temer na cadeira até o fim de 2018. Pelas provas até aqui apresentadas no processo em que o hoje aliado PSDB pede a cassação da chapa Dilma-Temer, em condições normais de temperatura e pressão dificilmente o presidente ficaria no cargo. Mas, ao gosto gramatical do mandatário, dar-se-á um jeito.

    O argumento institucional é robusto, já que o país ensaia uma recuperação econômica que seria demolida por mais um impedimento. Todos os sinais disponíveis apontam que isso irá se sobrepor ao que diz a salsicha, digo, a lei.

    Durante o almoço nesta sexta em um restaurante no centro de São Paulo, dois senhores engravatados comentavam a operação da manhã. "Que coisa, eles pagavam propina com picanha", disse um. "Bom, ao menos aposto que para os ladrões não ia comida estragada", retrucou o outro. O lúcido comentário trai mais do que um certo deboche com o ridículo da situação: mostra o desalento terminal em que nos encontramos.

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