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Fernando Honorato Barbosa, economista chefe do Bradesco |
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Mercado
Saturday, 04-May-2024 11:07:07 -03Para economista do Bradesco, país não tem clareza de onde pode crescer
ÉRICA FRAGA
RENATA AGOSTINI
DE SÃO PAULO21/03/2017 02h00
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, diz que a desorganização da economia brasileira nos últimos anos foi tão grande que ficou difícil estimar o potencial de crescimento do país no longo prazo.
"Consigo dizer que a gente vai crescer 3% ou 4% ao ano? Pode ser que cresça. E se for 1,5% ou 2%? Pode ser que seja isso mesmo. Você destruiu tanto investimento, capital, que pode ser isso", disse em entrevista à Folha.
Barbosa assumiu a diretoria do departamento de pesquisas econômicas do banco em dezembro, sucedendo Octavio de Barros. Para ele, a retomada da atividade nos últimos meses é para valer, mas será lenta e sujeita a riscos, como o agravamento da crise política e uma eventual paralisia das reformas propostas pelo governo Michel Temer.
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Folha - O otimismo com a economia em 2016 se frustrou. Agora surgiram novos sinais de retomada. É para valer?
Fernando Honorato Barbosa - Entre julho e setembro do ano passado, a confiança aumentou. E a história dizia que, quando a confiança vem, a economia vem na sequência. Esse foi o erro dos economistas —e me incluo nessa turma.Uma é que o ciclo de crédito foi mais profundo do que nos episódios anteriores. Era preciso que as empresas estivessem viáveis. Descobrimos também que a taxa de juros estava muito apertada para essa nova economia. Por fim, havia descompasso entre melhora de confiança e o começo da melhora dos indicadores.
Então por que a confiança tinha aumentado?
Quando mudou o governo, veio a sensação de que você iria conseguir resolver o tema político e sair da paralisia.O que é diferente agora?
A taxa de juros começou a cair, a situação de crédito ainda é importante, mas os casos principais [de empresas com problemas] estão mapeados. A inadimplência está estabilizando. E a queda da inflação permitiu voltarmos a ter renda real disponível. A partir daqui, as empresas vão começar a contratar e, depois, investir.Mas ainda há um descompasso entre o que as pessoas esperam do futuro e o que percebem sobre o presente.
Você tem 13 milhões de pessoas desempregadas, muita gente. Então, vai ser gradual. A gente para de piorar, começa a retomar. Um aspecto importante: entre os 87 milhões de pessoas empregadas, o consumo caiu muito mais do que a renda. É como se as pessoas estivessem poupando.Quem tem emprego tem medo?
Estão morrendo de medo. As dívidas das famílias estão caindo. Elas estão poupando e pagando dívida. Se estivermos certos e o mercado parar de demitir no segundo ou no terceiro trimestre, essas famílias podem passar a consumir mais. Todos falam que a retomada em 2017 virá do investimento, mas a surpresa pode vir um pouco do consumo.A queda dos juros será suficiente para evitar a quebradeira das empresas endividadas?
O decisivo é a queda dos juros. Tanto que, quando se olhava o balanço de riscos, no linguajar do Banco Central, no ano passado, com a Selic onde estava, tudo indicava que haveria nova recessão em 2017. Quando ele acelerou o corte de juros, a gente começou a ver que diminuíram os riscos.Qual o fôlego dessa retomada?
Nosso cenário é de cautela. A retomada é importante, dados os últimos dois anos de recessão, mas é gradual. Nossa projeção é de crescimento de 0,3% neste ano e de 2,5% a 3% no ano que vem. Além da poupança precaucional, que pode virar consumo, tem dois outros fatores: a ótima safra agrícola e [a liberação das contas do] FGTS, que, para as famílias, vai acabar ajudando.As incertezas políticas continuam um risco significativo?
Existe uma diferença crucial que é o que a articulação política está entregando. Precisamos separar o ambiente de 2015 e 2016, que não permitia aprovar nem discutir nada, deste ambiente de agora.A entrega do presidente Michel Temer na articulação política tem sido importante para os mercados, para garantir aquilo que dá essa percepção de que há riscos políticos, mas o que importa é que o teto dos gastos foi aprovado e a reforma da Previdência avança. Se a incerteza política crescer a ponto de paralisar as reformas, aí pode ter uma volta de volatilidade do mercado.
Qual a capacidade do país de crescimento no médio prazo?
A incerteza hoje sobre nosso PIB potencial é muito grande. O que aconteceu do ponto de vista da alocação de recursos da economia, a queda de investimento, faz com que a gente tenha uma incerteza muito grande. Eu consigo dizer pra você que a gente vai crescer 3% ou 4% ao ano? Pode ser. Vai parecer uma resposta em cima do muro, mas não. E se for 1,5% ou 2%? Pode ser que sim. Você destruiu muito investimento e capital.Por que é tão difícil estimar?
Veja o caso do BNDES e das empresas públicas. Agora estamos reorganizando o crédito do lado do governo e as empresas públicas. Isso tem muito valor de eficiência.O que é o PIB potencial? É a capacidade de crescer a mão de obra, o investimento e a produtividade da economia. O crescimento da população é mais ou menos determinado. Tem agora a ociosidade do mercado do trabalho, que vai ajudar, mas não é estrutural. A gente depende, então, de investimento e produtividade.
Quando você organiza essas duas partes, BNDES e empresas públicas, você ganha eficiência na economia. Além disso, sem o mínimo de percepção de solvência [das contas públicas], não vai crescer.
A queda da taxa de juros cria um mínimo de capacidade para o país crescer mais à frente. Falta uma reforma trabalhista, que poderia dar flexibilidade às empresas. Tem ainda uma certa timidez nas concessões. Se avançassem, aumentariam o investimento.
Acho que temos um PIB potencial de 3%. Mas a incerteza é enorme. O investimento caiu tanto, a eficiência na alocação dos recursos ficou tão confusa, que não temos clareza de onde podemos crescer.
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RAIO-X - Fernando Honorato Barbosa
Idade: 38 anos
Cargo: diretor e economista-chefe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco
Formação: economista com mestrado pela USP
Trajetória: foi superintendente executivo e economista-chefe do Bradesco Asset Management. Trabalhou ainda para o BBVA, BankBoston e Rosenberg & Associados
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