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    operação carne fraca

    Funcionários protestam em defesa de frigorífico investigado pela PF

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    23/03/2017 02h00

    Estelita Hass Carazzai/Folhapress
    Funcionários de frigorífico investigado duvidam de irregularidades e protestam por emprego
    Funcionários de frigorífico investigado duvidam de irregularidades e protestam por emprego

    No bairro do Umbará, extremo sul de Curitiba e sede de pelo menos cinco frigoríficos, é difícil encontrar quem acredite nas suspeitas da Operação Carne Fraca contra uma das principais empresas da região —o frigorífico Peccin.

    "Não existe isso aí; [os donos da empresa] não merecem estar presos", afirma o autônomo Adailton Machnievicz, que trabalhou por dois anos na empresa. "Pegaram ele pra Cristo", diz o comerciante José Luiz Cavichiolo, para quem os equipamentos da fábrica são "coisa de cinema".

    Há dez anos em operação, a Peccin foi interditada na última sexta (17) e é suspeita das mais graves irregularidades investigadas pela Polícia Federal —como o uso de carne estragada em embutidos e de conservantes proibidos ou em quantidades acima do permitido.

    OPERAÇÃO CARNE FRACA
    PF deflagra ação em grandes frigoríficos

    Ex-funcionários do frigorífico deram depoimento à PF relatando pressão dos donos para enviar laudos de qualidade adulterados à inspeção federal, além de pagamentos de propina a fiscais. Os proprietários, o casal Idair e Nair Piccin, assim como Normélio Peccin Filho, irmão de Idair, foram flagrados em escutas falando sobre como adulterar alimentos vencidos para utilizá-los em embutidos. Eles estão presos preventivamente, e negam as acusações.

    Os quase 400 funcionários do frigorífico preparam um protesto nesta quinta (23), pela reabertura da fábrica.

    "A gente conhece a integridade da empresa", diz o mecânico industrial Ivan Pereira Gonçalves, 32 anos, há dez no frigorífico. "Cadê o laudo que a polícia cita? Cadê o amparo desse laudo? A empresa não tem uma infração, e agora está fechada?", comenta outro empregado.

    Na sexta (17) à noite, quando a fábrica foi interditada pelo Ministério da Agricultura, funcionários choravam em frente ao portão, temendo perder seus empregos.

    Muitos deles se referem à Peccin como "nossa família". O dono da empresa, Idair Piccin, era conhecido por sua relação próxima com os funcionários: almoçava no refeitório e ficava quase o dia inteiro na fábrica.

    "Eles sempre foram muito exigentes. A gente perdeu o chão", diz Gonçalves. "Onde está essa carne podre que a gente não vê? Nós consumimos, levamos alimento para nossas casas, e nunca deu problema", comenta o funcionário Roberto Spinosa.

    Todos estão sem trabalhar desde sábado (18). Alguns ainda vão à empresa, já que precisam manter as câmaras frias, lotadas de matéria-prima, em operação, além de fazer a manutenção das máquinas. Fornecedores que chegam ao local dão com a cara na porta, e precisam dar meia volta.

    Boa parte deles teme que não consiga receber o que ainda lhe é devido por causa de contas bloqueadas pela Justiça.

    Estelita Hass Carazzai/Folhapress
    Funcionários de frigorífico investigado duvidam de irregularidades e protestam por emprego
    Funcionários de frigorífico investigado duvidam de irregularidades e protestam por emprego

    PRODUTOS

    Pelos mercados do bairro, os produtos da Peccin ainda são vendidos nas prateleiras, sem restrição. Entre os principais compradores da empresa, estavam distribuidores do Pará, Amazonas, Amapá, Ceará e Rio Grande do Norte.

    "Há sete anos eu trabalho com essa marca e nunca tive problema", diz José Antonio Bonato, 49, açougueiro de um estabelecimento ao lado da fábrica.

    A PF fez um laudo pericial de produtos da Peccin vendidos em mercados de Curitiba, e identificou aditivos não permitidos por lei e não declarados no rótulo das amostras. Porém, a comercialização dos alimentos não foi proibida.

    Em uma das conversas interceptadas pela Polícia Federal, fiscais do Ministério da Agricultura suspeitos de corrupção reclamam da qualidade dos produtos -que, segundo a investigação, haviam recebido como propina.

    "Com toda a sinceridade, eu não comi. Eu dei um pedaço aqui pro vizinho, outro pra minha cunhada", diz o fiscal Tarcísio Almeida de Freitas, também preso e suspeito de corrupção, sobre um peito defumado de frango que havia recebido da empresa. "É tipo uma massa de mortadela, uma massa 'homogênica' [sic], assim, tudo igualzinha."

    Entenda a operação Carne Fraca

    Em nota, a Peccin manifestou "forte repúdio" ao que chamou de "falsas alegações" da investigação. Para a empresa, a divulgação das informações foi motivada como "justificativa para a Operação Carne Fraca", porém, realizada de forma distorcida e precipitada.

    A empresa diz estar à disposição das autoridades e que está confiante de que eles saberão "discernir a efetiva veracidade dos fatos".

    O protesto dos funcionários está marcado para as 10h desta quinta (23).

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