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    Computadores substituem executivos que selecionam ações para investidor

    LANDON THOMAS JR.
    DO "NEW YORK TIMES"

    29/03/2017 12h07

    Damon Winter/The New York Times
    FILE - Laurence Fink, the chief executive of Blackrock, at the company's offices in New York, Aug. 10, 2016. On Tuesday, BlackRock laid out an ambitious plan to consolidate a large number of actively managed mutual funds with peers that rely more on algorithms and models to pick stocks. (Damon Winter/The New York Times)
    Laurence Fink, executivo Blackrock

    A BlackRock, maior administradora mundial de fundos de investimento, vem enfrentando um complicado desafio desde que adquiriu a divisão de fundos cotados em bolsa do banco Barclays, em 2009.

    Esses fundos de baixo custo e administrados por computadores vêm registrando crescimento explosivo, deixando na poeira os selecionadores de ações que propeliram a expansão anterior da empresa. A ascensão do investimento passivo —fundos com cotas negociadas em bolsa, fundos de índices e operações semelhantes— revolucionou o mundo do investimento, oferecendo grandes oportunidades a investidores comuns por preços acessíveis, e pressionando as grandes administradoras de fundos de Wall Street.

    Agora, depois de anos de deliberação, Laurence Fink, fundador e presidente-executivo da BlackRock, decidiu que vai apostar nas máquinas.

    Nesta terça-feira (28), a BlackRock anunciou um ambicioso plano para unir grande número de fundos administrados ativamente a fundos que dependem mais de algoritmos e modelos matemáticos para selecionar ações.

    A iniciativa é a ação mais explícita de uma grande administradora de fundos até o momento em reação ao êxodo de investidores dos fundos administrados ativamente. Os investidores agora preferem fundos mais baratos que acompanham toda espécie de índice e tema de investimento.

    Cerca de US$ 30 bilhões em ativos (por volta de 11% dos fundos de ações administrados ativamente pela empresa) estarão envolvidos no processo, em companhia de US$ 6 bilhões administrados pelos fundos BlackRock Advantage. O foco desses últimos fundos está nas estratégias quantitativas e assemelhadas, que adotam uma abordagem baseada em regras para seus investimentos.

    "A democratização da informação tornou muito difícil manter estratégias ativas de administração", disse Fink em entrevista. "Temos de mudar o ecossistema. Isso significa confiar mais em big data, inteligência artificial, fatores e modelos, dentro das estratégias de investimento quantitativas e tradicionais."

    Como parte da reestruturação, sete dos 53 executivos da BlackRock encarregados de selecionar ações devem deixar o comando de seus fundos. Diversos desses administradores de fundos continuarão na empresa como consultores. Pelo menos 36 funcionários conectados a esses fundos estão deixando a companhia.

    Embora a BlackRock tenha optado por agir gradualmente com os seus administradores, o novo plano é de muitas maneiras um ataque ao culto da inteligência, popularizado nos anos 80 e 90 por causa de administradores de fundos mútuos renomados por seu poder cerebral, como Peter Lynch, um mago da seleção de ações que trabalhava para a Fidelity, uma das gigantes entre as administradoras de fundos.

    Hoje, administradoras de fundos como a Pimco, Franklin Templeton, Aberdeen e, claro, Fidelity continuam a argumentar que seus administradores de fundos de títulos e ações conseguem fazer escolhas mais inteligentes do que a média do mercado —o que explica as comissões altas que elas cobram.

    REVIRAVOLTA

    Desde 2009, porém, quando o desempenho desses fundos começou a sofrer, milhões de investidores vêm rejeitando essa tese, e abandonaram seus dispendiosos fundos mútuos em troca de fundos de melhor desempenho, que acompanham diversos índices a uma fração do custo.

    Hoje, as maiores empresas entre as administradoras de fundos são a Vanguard, pioneira nos fundos de índices, e a BlackRock. Juntas, elas administram perto de US$ 10 trilhões em ativos.

    A BlackRock, com sua frota de fundos iShares com cotas negociadas em bolsa, certamente se beneficiou da revolução dos investidores —que ameaça desordenar o setor de fundos mútuos nos próximos anos.

    Ainda assim, o verdadeiro monstro entre as administradoras de fundos mútuos vem sendo a Vanguard, por larga margem. A empresa vem recebendo influxos históricos de capital para seus fundos de índices e fundos negociados em bolsa.

    No ano passado, por exemplo, US$ 423 bilhões foram retirados de fundos com administração ativa e US$ 390 bilhões foram investidos em fundos de índices, de acordo com a Morningstar. Desse total, a Vanguard capturou US$ 277 bilhões, quase o triplo do montante direcionado à sua rival mais próxima, a BlackRock.

    Fink sempre declarou não ter preferência quanto à escolha dos clientes de sua empresa, seja por um fundo de baixo custo negociado em bolsa que acompanhe ações de baixa volatilidade, seja por um dispendioso fundo mútuo que invista em pequenas empresas dos Estados Unidos.

    Para ele, o lema sempre foi permitir que o cliente escolha.

    O que Fink não revela é que no fundo se tornou um verdadeiro adepto do estilo sistemático de investimento, que favorece algoritmos, ciência e modelos dependentes de dados, de preferência à inteligência individual dos administradores de fundos aplicada à seleção de ações.

    Nos últimos anos, ele contratou Andrew Ang, um dos mais renomados professores de finanças da Universidade Colúmbia, para liderar o ingresso da BlackRock no investimento fatorial, uma abordagem temática de alocação de ativos.

    E desde o ano passado, os veteranos selecionadores de ações da BlackRock vêm trabalhando na mesma divisão que os profissionais quantitativos. Esses últimos, muitos deles detentores de doutorados, trabalham com a chamada seleção científica de ações, e podem ordenar a compra (ou venda) de ações da Walmart com base em imagens obtidas por satélite que mostram o número de carros estacionados nos pátios das lojas da empresa, em lugar de basearem suas recomendações na análise minuciosa do balanço da rede de varejo.

    Em resumo, Fink se convenceu de que a BlackRock precisa fazer uma grande aposta no poder das máquinas, quer se trate do sistema Aladdin, desenvolvido pela empresa para análise de riscos, quer se trate de consultores robotizados, sistemas de big data ou até inteligência artificial.

    Qualquer entrevista ou conversa telefônica com Fink confirma o fato —o diálogo invariavelmente se volta à tecnologia, e ele pouco menciona o que os selecionadores de ações tradicionais da empresa estão fazendo.

    Mas abandonar totalmente o investimento ativo em troca de um sistema passivo operado por máquinas não é opção, para Fink. Embora os ativos dos fundos sob administração ativa da empresa tenham caído a US$ 201 bilhões hoje ante US$ 208 bilhões em 2009, o negócio continua a ser muito lucrativo para a BlackRock, e representa 16% de sua receita total.

    De acordo com dados da Morningstar, apenas 11% dos fundos de ações administrados ativamente pela BlackRock obtiveram resultados superiores aos seus referenciais, de 2009 para cá. De 2012 para cá, US$ 27,5 bilhões foram retirados dos fundos mútuos administrados ativamente pela BlackRock, de acordo com dados da Morningstar.

    CONSOLIDAÇÃO

    A consolidação de fundos ativos e passivos está sendo comandada por Mark Wiseman, importante executivo do maior fundo de pensões canadense que Fink contratou no ano passado com a missão de reorganizar a divisão de ações de sua empresa, e o foco da reforma estará em estratégias sob as quais um administrador de fundos poderá fazer grandes apostas em um grupo seleto de ações.

    Mas a mensagem principal é inequívoca: os fundos dispendiosos e administrados ativamente que desejem ganhar território selecionando ações norte-americanas terão de se adaptar às novas realidades da BlackRock.

    Um exemplo é o fundo Large Cap Core da BlackRock, que investe em grandes empresas dos Estados Unidos. De 2009 para cá, os ativos do fundo caíram à metade, para US$ 1,5 bilhão, e ele apresentou desempenho 1,3% inferior ao do índice do setor, nos três últimos anos.

    O principal administrador do fundo será substituído por três especialistas em carteiras de investimento da equipe de investimento quantitativo da BlackRock, que recorre a toda espécie de modelos de computação em busca de ideias para selecionar ações. As comissões cobradas pelo fundo cairão à metade.

    É claro que nenhuma dessas medidas deve deter imediatamente a saída de capital registrada nos últimos anos. A verdade é que as saídas devem crescer, porque poucos investidores optam por permanecer em um fundo que está passando por uma grande reformulação.

    Mas na interpretação de Fink e de seu novo vice para a área de ações, é melhor lidar com a dor agora do que mais tarde.

    "O jeito antigo de selecionar ações, com aqueles caras sentados em uma sala e se achando mais inteligentes do que os outros... isso não funciona mais", disse Wiseman. "O mar está revolto para os administradores ativos, mas a BlackRock é um porta-aviões, e vamos encontrar nosso caminho nesses mares".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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