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    ANÁLISE

    Férias coletivas em frigoríficos traz insegurança a pecuarista

    MAURO ZAFALON
    COLUNISTA DA FOLHA

    30/03/2017 02h00

    O pecuarista já tinha perdido a opção de onde vender os bois, devido à concentração da indústria. Agora, perde até o direito de vender o gado, devido às férias coletivas em vários frigoríficos.

    O desabafo é de Luciano Vacari, diretor-executivo da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso).

    "Estamos vivendo o lado mais perverso da concentração. O pior é que toda essa concentração foi feita com dinheiro público", afirma ele.

    O JBS anunciou nesta quarta-feira (29) que concederá férias coletivas de 20 dias, a partir do dia 3 do próximo mês, a funcionários de 10 das 36 unidades de abate da empresa espalhadas pelo Brasil.

    Esse período poderá ser estendido por mais dez dias. As unidades afetadas estão nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará.

    A empresa justificou a decisão tomada como necessária para o ajuste da produção e dos estoques ao mercado interno e externo de carne.

    Já para Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), essa parada nos abates ocorre em um momento infeliz e injustificado.

    Infeliz porque o setor respirava novos ares, devido à reabertura dos principais mercados para a carne brasileira após o fechamento ocorrido devido à Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deflagrada há duas semanas.

    Injustificado porque os embarques recomeçaram e uma ação dessa indica excesso de estoque, o que não ocorre.

    O anúncio da interrupção de abate em algumas unidades de frigoríficos por até 30 dias trouxe pânico no mercado no período da manhã. À tarde, o mercado já estava mais calmo.

    CONTAS

    Parte dos pecuaristas afetados começa a fazer contas. Prepararam-se por dois ou três anos para engordar o gado e vender neste período do ano. Contavam com as vendas nos próximos dias.

    Sem essa comercialização, as contas de custeio e o pagamento de salários nas fazendas podem ficar pendentes.

    Os frigoríficos não têm posição unânime em relação ao cenário atual deixado pela operação da PF.

    Enquanto alguns oferecem até R$ 10 a menos por arroba de boi gordo, outros mantiveram o preço praticado antes da crise. Nesse caso, principalmente para os bois mais bem terminados.

    Nem todos os frigoríficos fecharam unidades para abates, mas alguns pedem um adiamento do pagamento dos animais para até 45 dias, ante os 30 tradicionais.

    Um dos temores dos pecuaristas é como reagirão os preços do boi gordo nas próximas semanas. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apontou preço médio de R$ 141,7 por arroba nesta quarta. O valor é 2% inferior ao do início da operação da PF.

    Já o Imea (Instituto Mato-Grossense de Estudos Agropecuários) apontou queda de 3% em Mato Grosso, Estado que detém o maior rebanho do país.

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