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    Dólar forte é desafio para Trump reduzir deficit da balança comercial

    JEREMY TORDJMAN
    DA AFP

    14/04/2017 16h09

    Ainda que não tenha completado 100 dias na Casa Branca, o presidente Donald Trump se vangloria de ter revigorado a economia americana. No entanto, a força do dólar ameaça uma de suas principais promessas, que é reduzir o deficit da balança comercial.

    O próprio Trump falou sobre o assunto nesta semana, em entrevista ao "Wall Street Journal". "O dólar está se valorizando muito e, parcialmente, isso é culpa minha porque as pessoas confiam em mim", afirmou. "No longo prazo, isso será um dano", admitiu.

    Desde a inesperada vitória do republicano nas eleições presidenciais de novembro, os principais indicadores da maior potência do planeta dão mostras de uma economia cada vez mais saudável.

    Tanto a confiança dos consumidores como a Bolsa de Nova York alcançaram níveis recordes graças às promessas de Trump de baixar impostos, aumentar os gastos em infraestrutura e eliminar regulamentações econômicas.

    Como consequência, os investidores correram para o mercado americano, impulsionando o dólar que, por sinal, já vinha em trajetória de alta. Em um ano, o dólar subiu 6% em relação a uma cesta de seis grandes moedas.

    "O dólar está alto porque a economia dos Estados Unidos tem atualmente desempenho melhor do que qualquer outra economia avançada", diz o economista Barry Bosworth, da Brookings Institution.

    Porém, Trump não pode mesmo atribuir a si todo o êxito. Ao subir as taxas de juros duas vezes desde dezembro, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) também deu impulso ao dólar ao reduzir o fluxo de crédito e atrair os investidores com a perspectiva de maiores ganhos.

    DOIS LADOS DA MOEDA

    Para os Estados Unidos, a moeda forte não é totalmente ruim: reduz o custo das importações e o fluxo de liquidez permite emprestar a baixo custo.

    Em contrapartida, as exportações americanas sofrem com o dólar caro, e isso compromete o objetivo de Trump de reduzir o deficit da balança comercial, especialmente a de bens manufaturados, que está muito prejudicada pela competição dos produtos da China e do México.

    "Há uma contradição que remonta a uma das principais mensagens de sua campanha", afirma Nathan Sheets, subsecretário do Tesouro para assuntos internacionais durante o governo do presidente Barack Obama.

    Para Eswar Prasad, acadêmico da Universidade Cornell, Trump admitiu ter chegado a um beco sem saída. "Ele parece reconhecer a realidade econômica de que um dólar mais forte pode tornar mais difícil alcançar um de seus objetivos."

    Desde meados da década de 1990, os Estados Unidos defenderam a força do dólar, por considerar que torna sua economia mais firme e atrativa.

    No entanto, com o enorme deficit comercial americano, de cerca de US$ 43,6 bilhões, Trump vê as coisas de uma forma diferente.

    "Assim como há muitas boas coisas com o dólar forte, também é muito mais difícil competir quando os outros países desvalorizam suas moedas", disse o presidente ao "Wall Street Journal".

    Contudo, a margem de manobra do presidente é reduzida. "Os comentários de presidentes e ministros de finanças sobre a taxa de câmbio têm uma esperança de vida curta", diz Bosworth, da Brookings Institution.

    Com várias vagas a preencher na direção do Federal Reserve, Trump poderia optar por escolher defensores dos juros baixos para assim diluir o valor elevado do dólar. Porém, uma decisão desse tipo se chocaria com o Congresso, que tem que aprovar os indicados ao Fed.

    MÃO PESADA

    A única esperança de Trump para amenizar os efeitos do dólar caro é aplicar tarifas de importação que tornariam os produtos estrangeiros menos competitivos.

    Segundo Prasad, da Universidade Cornell, as declarações de Trump sugerem que sua administração estaria preparada para aplicar uma mão pesada no comércio.

    Entretanto, antes disso o republicano deveria clarear as coisas dentro de sua própria administração. Ao final de fevereiro, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse ser favorável a um dólar forte no longo prazo, que o tornaria uma moeda de reserva estável, segundo estimou.

    "A nova administração ainda está trabalhando na elaboração de sua política", diz Nathan Sheets. "Resta saber qual das visões da administração prevalecerá."

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