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    Apesar de estiagem, fronteira agrícola colhe segunda safra anual

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    ENVIADA ESPECIAL AO OESTE DA BAHIA

    18/04/2017 02h00

    Depois de décadas com apenas uma safra por ano, devido às condições climáticas hostis da região, produtores do Matopiba —fronteira agrícola brasileira, entre os Estados do Maranhão, do Tocantins, de Piauí e da Bahia— começaram a colher uma segunda safra anual.

    A "safrinha" de inverno, comum nas lavouras do Sul e do Centro-Oeste, está se expandindo nas áreas produtoras, graças às tecnologias que permitem contornar a estiagem típica da estação.

    Na maioria dos casos, planta-se milho, que dá lugar à soja, colhida no verão.

    A nova safra só foi possível graças à tecnologia do plantio direto na palha, que dispensa o preparo do solo, e a variedades precoces da soja —o carro-chefe da região, que domina as lavouras.

    Como cresce mais rápido, esse tipo de soja é colhido antes, a partir de janeiro, e abre a janela para o plantio do milho quando ainda chove. O plantio direto ajuda a acelerar o processo. Nesse calendário, a safrinha fica pronta entre abril e junho.

    O pesquisador Rodrigo Veras da Costa, da Embrapa Milho e Sorgo, diz que a safrinha é "uma tendência" dos últimos dez anos e está se consolidando no Matopiba, em especial no Tocantins e no Maranhão, onde chove mais.

    "Temos um potencial muito grande: no Tocantins, por exemplo, só 18% da área plantada vira safrinha", diz Costa. Em Mato Grosso do Sul, esse percentual chega a 70%.

    Segundo ele, a safrinha traz uma série de vantagens, em especial a proteção do solo. "O solo nu, exposto, é a pior condição que tem", afirma.

    A palhada do milho, explica o pesquisador, ajuda a formar umidade e reter água, o que é fundamental em uma área arenosa como o Matopiba. Isso aumenta a produtividade da safra seguinte —e agrega área plantada sem novos desmatamentos.

    "Aqui, a safrinha está crescendo há uns cinco anos", diz Fabio Queiroz Martins, diretor de concessionária de máquinas agrícolas em Luís Eduardo Magalhães (BA), que tem vendido colheitadeiras cada vez mais potentes para dar conta das novas janelas de plantio.

    QUESTÃO DE SORTE

    Alguns produtores, como o gaúcho Marildo Mingori, 55, ainda testam a modalidade.

    Dono de 23 mil hectares de terra com os dois irmãos, fez uma experiência com o milho neste ano, no oeste da Bahia. Mas está desconfiado. "O preço não ajuda, tem que plantar soja precoce, corre risco de perder tudo... Uma safra bem-feita é melhor que duas."

    A torcida de quem planta a safrinha é que chova pelo menos três vezes até o final de abril. Sem isso, a safra desanda e perde-se tudo. "O cara tem que ser muito técnico. Só os melhores sobrevivem", afirma Carlos Schimidt, coordenador de marketing de colheitadeiras da New Holland.

    Para o agrônomo Luiz Stahlke, da Aiba (Associação da Agricultores da Bahia), ainda é arriscado plantar a safrinha na Bahia, onde chove menos e a seca começa cedo.

    "Depende muito da sorte", afirma. "É só para quem tem mais coragem."

    A jornalista viajou a convite da New Holland

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