• Mercado

    Sunday, 28-Apr-2024 04:14:04 -03

    PF investiga compra do Banco Pan pela Caixa Econômica e pelo BTG Pactual

    BELA MEGALE
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    19/04/2017 07h22 - Atualizado às 23h06

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - 19.04.2017 - Policiais federais chegam a sede da PF em Sao Paulo durante operacao Conclave.. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO) ORG XMIT: OPERACAO CONCLAVE
    Policiais federais chegam na sede da Polícia Federal em São Paulo durante Operação Conclave

    Quase oito anos depois da venda do banco PanAmericano, que pertencia ao apresentador Silvio Santos, a Polícia Federal deflagrou uma operação nesta quarta-feira (19) para apurar suspeitas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro na transação que foi aprovada pelo Banco Central e pode ter lesado a Caixa.

    Os antigos executivos do PanAmericano já tinham sido alvo de investigações em 2010 e respondem a ações movidas pela Justiça Federal em São Paulo pelas fraudes contábeis que levaram o banco à intervenção do BC.

    Desta vez, a operação da PF, batizada de Conclave, mira funcionários da Caixa, do BC e executivos do BTG Pactual, controlado à época por André Esteves.

    Também estão sob investigação o Banco Fator e empresas por ele contratadas para fazer a avaliação do negócio, como Deloitte, KPMG e o escritório Bocatter, Camargo, Costa e Silva —que apareceu na operação Zelotes, da PF, que investiga compra de decisões do Carf, tribunal de recursos de multas aplicadas pela Receita Federal.

    O juiz da 10ª Vara Federal em Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, autorizou 47 mandados de busca e apreensão e a quebra de sigilo bancário e fiscal de 37 investigados, entre pessoas e empresas.

    O pedido ao juiz foi feito pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal, que afirma ter identificado indícios de fraude no negócio. Para os procuradores, o processo de aquisição do PanAmericano estaria "eivado de flagrantes ilicitudes".

    "Trata-se de uma das operações mais desastrosas já vistas no mercado financeiro e que causou imenso prejuízo ao erário federal", afirmam o MPF e a PF, que assinam o pedido.

    O inquérito atual vai apurar a responsabilidade de gestores da Caixa e a possível formação de uma "associação criminosa". A tese é que houve ainda omissão ou até ação do BC, acusado de ter aprovado a venda do PanAmericano para a Caixa sabendo das irregularidades que existiam no banco.

    Em seu despacho, o juiz afirma que o BC e a Caixa em 2009 e 2010 "já tinham condições de saber sobre a higidez ou derrocada financeira do Banco PanAmericano". As duas instituições sempre negaram essas afirmações.

    HISTÓRIA

    Em 2009, a Caixa adquiriu 35% do capital do PanAmericano e deu um sinal de R$ 517 milhões pelo banco. Os R$ 222 milhões restantes foram pagos após a aprovação pelo BC, no início de 2010.

    Rodrigo Capote/Folhapress
    Fachada do prédio do Banco Panamericano em SP
    Fachada do prédio do Banco Panamericano em SP

    Menos de um ano após a concretização do negócio, o BC descobriu uma série de fraudes contábeis e, meses depois, decretou intervenção -fato que agora também será investigado.

    Outro alvo da investigação é o empréstimo do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) a Silvio Santos para equilibrar as contas do banco. Em setembro de 2010, o empresário e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram no Palácio do Planalto. Os procuradores querem saber se trataram da ajuda financeira dada pelo FGC.

    Em maio de 2011, o BTG comprou outra parte do PanAmericano, que pertencia a Silvio Santos. Virou sócio da Caixa pagando R$ 450 milhões. Os investigadores querem saber quais "os interesses do BTG na aquisição".

    O juiz também questiona o fato de a Caixa ter pago, antes da descoberta das fraudes, valor superior ao gasto pelo BTG quando o rombo já era conhecido. O banco de Esteves adquiriu o controle do PanAmericano.

    OUTRO LADO

    A assessoria de imprensa da Caixa afirmou que a Caixa Participações "está em contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita colaboração com os trabalhos" e que esse procedimento continuará sendo adotado pela empresa.

    Em comunicado, o Banco Panamericano afirmou que está colaborando com as investigações e que a compra das ações pela Caixa Participações "não tem nenhuma relação com a gestão atual ou com suas operações".

    O advogado de André Esteves, Carlos Almeida Castro, confirmou que a sede do BTG no Rio foi alvo da operação, assim como as casas do banqueiro.

    "Eles não levaram nada. Não tinha mais o que levar, teve uma busca há pouco tempo. Essa medida de hoje é sem efetividade, só traz desgaste para a imagem dele e do banco", disse o criminalista.

    O advogado de Henrique Abravanel, Alberto Zacharias Toron, afirmou que não teve acesso aos autos do processo. "Enquanto eu não tiver acesso aos autos, é impossível falar", disse.

    Em nota, o BTG Pactual informou que "não foi parte ou teve qualquer envolvimento na compra de participação do Banco Panamericano pela Caixapar em 2009".

    O banco diz ainda que apresentou documentos referentes ao investimento no Panamericano que já estavam disponíveis no Banco Central. O BTG negou ter comprado ações emitidas pelo Panamericano e que pertencessem à Caixapar, e afirmou ainda que a operação com o Grupo Silvio Santos ocorreu dentro das tentativas do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) de equacionar a situação do Panamericano.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024