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    Perda de mais 64 mil vagas mostra lentidão na retomada do emprego

    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    21/04/2017 02h00

    O emprego com carteira assinada decepcionou em março. Após o resultado positivo de fevereiro, com a criação de 36 mil vagas formais, a expectativa de uma recuperação mais rápida do mercado de trabalho havia tomado conta do governo e de parte dos analistas econômicos.

    Em março, porém, os números voltaram ao negativo. Foram eliminados 63.624 postos, o que confirma a perspectiva de que a recuperação do emprego só deve ocorrer após sinais mais claros de retomada da economia.

    Ao apresentar os números, o ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho) tentou dissipar a visível frustração com o resultado negativo. Começou a apresentação dos dados comparando o saldo de vagas no primeiro trimestre deste ano com os do mesmo período do ano passado.

    Saldo das vagas no emprego formal - Série com ajustes, em mil

    Nessa comparação, o resultado mostra um avanço. Dos 303 mil empregos destruídos no ano passado, a eliminação de empregos passou a 64 mil neste início de ano.

    "Em que pesem os números de março negativos, comparando o mesmo período, o Brasil reduz a perda de emprego. É uma redução significativa", disse Nogueira.

    O resultado de fevereiro chegou a ser comemorado pelo presidente Michel Temer, que fez questão de divulgá-lo na época como prova de que o pior da recessão passou.

    Mas a análise do resultado de março é bastante negativa. Excluídos os efeitos típicos do mês, o ritmo de destruição de vagas voltou ao patamar de janeiro, ou seja, antes do veranico de fevereiro.

    A abertura dos números tampouco é animadora. Dos oito setores de atividade econômica monitorados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em sete houve retração.

    SETOR PÚBLICO

    Só a administração pública exibiu saldo positivo, impulsionada pela contratação de professores para o ano letivo. Apenas no Estado de São Paulo, foram 2.756 novos empregos formais.

    No setor de serviços, que emprega 44% dos trabalhadores com carteira assinada, a retração no mês foi de 17 mil vagas. No comércio, que responde por outros 23% dos trabalhadores, foram perdidos quase 34 mil postos.

    Nogueira, porém, minimizou a má notícia, afirmando que março é normalmente um mês em que restaurantes e hotéis dispensam funcionários após o período de férias. E que uma recuperação poderia voltar a aparecer nos dados de abril, a partir da maior confiança de empresários para contratar e da circulação de mais dinheiro na economia, com os saques das contas inativas do FGTS.

    Evolução do emprego em março - Por setor, em mil

    "Vamos recuperar os dados positivos de emprego", disse Nogueira. "Não houve uma frustração, a expectativa positiva se mantém. Os números negativos de março foram metade dos números negativos de março do ano passado."

    Analistas do mercado financeiro esperam que a recuperação do emprego possa começar a ocorrer no segundo trimestre deste ano. Mas o desemprego só pararia de subir no segundo semestre.

    Para Bruno Ottoni, analista da FGV, o emprego só deve começar a voltar em agosto, com a indústria contratando trabalhadores para a produção de olho no Natal.

    Ainda assim, ressalta ele, o resultado anual de empregos formais ainda será de retração, dada a natureza da recuperação da economia.

    "O desenho deste ano é mais de estabilização do que de recuperação e isso faz com que a expansão não seja espalhada por todos os setores, mas que apresente variações ora positivas ora negativas."

    O esperado efeito da Operação Carne Fraca sobre empregos do setor não apareceu nos dados, disse o ministério.

    SEM POMPA

    Da pompa de um anúncio no Planalto, seguido de divulgação nas redes sociais e na TV, a apresentação dos números do emprego formal voltaram ao Ministério do Trabalho.

    No mês passado, com o primeiro dado positivo em quase dois anos, em fevereiro, o governo mobilizou a publicidade oficial para difundir a mensagem de que "o emprego está voltando". Os dados de março mostram que a recuperação deve ser mais lenta.

    Apressado, o ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho) disse que tinha que tomar um avião para justificar o pouco tempo para perguntas de jornalistas. Ele negou frustração e disse que a comemoração anterior não foi precipitada.

    "É lógico que eu gostaria de estar anunciando a continuidade dos números positivos que celebramos no mês de fevereiro e espero, em abril, analisar setor a setor os números positivos", afirmou Nogueira.

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