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    Guia da Micro, Pequena e Média Empresas (MPME)

    Fundo de investimento atrai jovens que querem crescer rápido na carreira

    VALÉRIA FRANÇA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/04/2017 02h00

    Bruno Santos/ Folhapress
    São Paulo, SP, BRASIL, 07-04-2017: Paulo Henrique Landim Junior (27), é dono da Colibri, um fundo de investimento que está na fase de busca, é retratado no Insper, na ZOna Sul de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** SUP-ESPECIAIS *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Paulo Landim, dono do fundo Colibri, na janela de um prédio em São Paulo

    Um modelo de fundo de empreendedorismo pouco conhecido no Brasil, o search fund (fundo de busca), começa a chamar atenção de investidores, instituições de ensino e de jovens que querem ascensão profissional rápida.

    O formato é simples, com riscos considerados baixos em relação a outros fundos já consolidados no mercado.

    O search fund busca investidores para financiar, por dois anos, a busca por uma empresa saudável, com potencial de crescimento e cujo dono tenha interesse em se desfazer do negócio.

    Isso não acontece, por exemplo, no modelo de venture capital, em que investidores fazem parcerias com proprietários.

    Assim que a compra é realizada, o dono do fundo vira o CEO do empreendimento. Os investidores passam a atuar como membros do conselho de administração.

    "É uma chance de aprendizado única para o dono do fundo, que aos 30 anos poderá gerir uma empresa com a ajuda de um conselho experiente", diz Andrea Minardi, professora de private equity e venture capital do Insper.

    Sete anos após a aquisição, quando a empresa normalmente é passada para a frente, a média de retorno é de 8,4 vezes do capital aplicado. O cálculo é da Universidade Stanford, que criou o modelo em 1984. A essa altura, o CEO já tem direito a algo entre 25% e 30% das ações.

    Mas nem todos têm êxito. Segundo dados da universidade americana, 18,2% dos 258 fundos montados nos EUA desde 1983 desistiram no meio do caminho e pararam de procurar uma empresa.

    Outros 3,1% partiram para outro tipo de negócio. No mercado nacional, ao menos quatro grupos de search fund naufragaram logo no início, sem captar investidores.

    O search fund vem sendo importado por profissionais que vão fazer MBA no exterior. É o caso de João Luís Lima, 30, e René Almeida, 32.

    Fundo de busca

    Os dois se conheceram na faculdade de administração da Fundação Getulio Vargas. Lima empregou-se numa holding do setor de alimentos e bebidas, e Almeida foi trabalhar no mercado financeiro.

    "Tinha de me adaptar à cultura da empresa e demoraria anos para fazer carreira, minha vontade era empreender", diz Lima. Ele se demitiu e buscou negócios que precisavam de reestruturação. "Mas o mercado ficou difícil com a crise de 2015, e resolvi fazer um MBA na IE Business School, na Espanha."

    Almeida fez as malas e seguiu o mesmo caminho. Quando cursava uma matéria de search fund, ele soube que um amigo tinha aberto o Colibri, um fundo do mesmo modelo. Foi o incentivo que faltava para que montasse com Lima a 200 Capital, com sede em São Paulo.

    "O Brasil é ótimo para esse tipo de fundo", diz Paulo Landim, 27, dono da Colibri. Ele fez uma radiografia do mercado nacional durante o MBA em Harvard, nos EUA.

    Landim viu que negócios geridos por famílias seriam oportunidade de negócio. "No Brasil, 75% das pequenas e médias empresas que mais crescem são familiares."

    Segundo estudo da consultoria Deloitte, 50% delas não têm plano de sucessão.

    "Esse é um ótimo cenário para conseguir uma empresa sólida, com bons resultados e com chances de compra", diz Landim. O fundo terminou a captação de investidores em maio de 2017. Foram dois meses de visitas e "muita estratégia de convencimento", segundo o empresário.

    AQUISIÇÃO PERFEITA

    O tempo entre a captação e a compra da empresa varia muito de fundo para fundo. Por isso, é preciso saber administrar as expectativas, diz Paulo Landim, do fundo Colibri.

    "O primeiro passo é conseguir investidores internacionais. Com eles, fica mais fácil atrair capital nacional", diz o paulistano André Freire, 34, CEO de uma empresa de logística recentemente comprada pela Taqia, search fund que montou em parceria com Marcelo Novaes, 19.

    Trata-se do primeiro fundo brasileiro neste novo modelo a concluir a etapa de aquisição.

    Lysandra Knopp Alves, 31, com MBA na Universidade de Chicago, montou a Meissa Capital, no Rio, há um ano e meio. Ela ainda não encontrou a empresa ideal para propor a aquisição. "Achar o negócio para comprar é mais difícil que captar investidor", diz.

    Landim, do Colibri, sabe disso. Até agora, prospectou e entrou em contato com 464 negócios ­-12% avançaram para a assinatura de um termo de confiabilidade, para que possam ser submetidos a uma análise detalhada.

    "É preciso ter paciência e sangue nos olhos", diz Landim, que no ano passado organizou, com os sócios da Taqia, um seminário na faculdade Insper. O instituto passou a divulgar o novo modelo.

    "A minha geração é mais inquieta que a dos meus pais. Nunca me imaginei trabalhando 30 anos no mesmo lugar, mas me vejo gerindo um negócio que tenha os valores nos quais acredito."

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