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    Setor de aço prevê ter ano difícil com protecionismo mundial

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    25/04/2017 14h32

    Antônio Gaudério/Folhapress
    Produção de aço
    Produção de aço

    A indústria nacional do aço prevê que o ano de 2017 será difícil tanto no campo internacional, com o aumento de medidas protecionistas ao redor do globo, quanto no campo interno.

    No Brasil, a previsão é de demora na retomada da indústria e diverge da forma como o presidente Michel Temer está lidando com o setor.

    A avaliação foi manifestada nesta terça-feira (25) pelo presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, durante apresentação dos números do setor no primeiro trimestre.

    A estimativa do instituto, que reúne as principais empresas de metalurgia do país, é que o setor encerre o ano com aumento de 3,8% na produção frente a 2016, com 32,5 milhões de toneladas.

    O crescimento, no entanto, só é possível devido a base de comparação baixa, já que o país vem de queda expressiva de sua produção recente, e também porque o parque produtivo brasileiro opera atualmente com apenas 60% de sua capacidade.

    A alta estimada para as vendas no mercado interno é de 1,3%, com 16,7 milhões de toneladas, volume que remonta patamar verificado em 2006. O consumo de aparente de aço deve chegar ao mesmo patamar de uma década atrás, caso as previsões de alta de 2,9% se concretizem.

    Ainda que projete crescimento para o setor, a indústria não enxerga em 2017 uma melhora na situação brasileira, tampouco uma mudança no mundo.

    As exportações de aço, apontadas como o principal motivo para o aumento de 10,9% da produção no primeiro trimestre deste ano, estão prestes a sofrer o impacto de uma decisão recente do presidente americano Donald Trump.

    Na semana passada, Trump determinou a abertura de uma investigação sobre o aço importado pelos EUA. O resultado pode levar a imposição de tarifas para produtos estrangeiros.

    Trump alegou questões de segurança nacional, ao afirmar que o aço é crítico para das Forças Armadas e por isso deveria haver controle mais rígido sobre os produtos vindos de outros países, além de aumentar a fiscalização contra mecanismos de dumping.

    Outra medida anunciada recentemente pelo americano foi o programa "Buy America", que determina que empresas contratadas pelo governo federal deverão usar aço e outros insumos fabricados no país.

    As duas medidas de caráter protecionista têm o condão de prejudicar a indústria brasileira, diz Marco Polo. Ele, contudo, não quantificou o tamanho de um possível impacto. Lembrou apenas que os EUA são o segundo maior destino do aço exportado pelo Brasil.

    "Temos um mundo que caminha para a desglobalização. Há um excesso monumental de capacidade da indústria do aço no mundo e os países estão tentando se proteger", disse ele, que afirmou haver excedente de 777 milhões de toneladas de aço no mundo.

    Enquanto governos ao redor do globo adotam medidas protecionistas, o governo brasileiro parece fazer o contrário, disse Marco Polo.

    O governo estaria preterindo a indústria nacional em diversos setores, o que tem levado a divergências com entidade que foram parceiras de primeira hora do impeachment que levou Temer a presidência, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

    Entidades e federações de diversos setores industriais se reuniram em movimento batizado "Produz, Brasil" para pressionar o governo a adotar medidas que beneficiem a industria nacional.

    Marco Polo criticou duas medidas especificas do governo: a flexibilização das regras de conteúdo local para a indústria de petróleo e gás e mudanças no regime tributário especial do Reintegra.

    Segundo Marco Polo, as regras de conteúdo local de fato demandavam mudanças, mas ele afirma crer não ser salutar para a indústria no curto prazo que elas sejam completamente extintas.

    "Sem a indústria não tem retomada", disse ele. "É preciso manter um percentual mínimo [de contratação de bens e serviços no Brasil]".

    Marco Polo criticou ainda a maneira como a Petrobras e o governo estão lidando com a indústria de bens e serviços da cadeia de petróleo.

    "Tem um tom emocional, que não é verdade. Não é verdade que a indústria brasileira não tem capacidade de atender a Petrobras, que está sucateada, que tem um custo maior. A indústria siderúrgica investiu US$ 25 bilhões de 2008 para cá e tem todas as condições de atender a empresa", disse.

    O executivo cita ainda que o país mudou recentemente as regras anti-dumping favorecendo empresas estrangeiras.

    A indústria pede ao governo a ampliação da alíquota do programa Reintegra de 2% para 5%. O programa voltado para exportações restitui tributos pagos na cadeia produtiva que não são recuperáveis, como tributos pagos na folha de pagamento, por exemplo.

    "Corremos o risco da desindustrialização do país", disse.

    Outra preocupação do setor é quanto ao PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), a ser lançado pelo governo, que compreenderá uma série de concessões a iniciativa privada.

    "Estamos preocupados que além do capital estrangeiro, sejam utilizados também máquinas e bens de capital estrangeiro nas obras", afirmou.

    RETOMADA

    Por fim, Marco Polo criticou o tom que o governo adota com relação a economia, principalmente sobre as notícias de retomada.

    Ele disse temer que a excitação com uma possível retomada desvie o foco do governo na aprovação das reformas estruturantes.

    No ponto das reformas —da previdência, da lei trabalhista e tributária—, a indústria está alinhada ao governo, disse Marco Polo.

    "O problema é que o governo tenta vender imagem de que temos uma retomada em 2017. Na nossa visão, ela não ocorreu, não estáo correndo e não ocorrerá".

    "Nos preocupa o discurso do governo da chamada retomada da economia porque ele significa que as medidas podem não ser tomadas", afirmou.

    TRIMESTRE

    A produção de aço brasileiro no primeiro trimestre aumentou 10,9% frente a igual período do ano passado. O consumo aparente teve alta de 5% no período.

    Já as vendas internas registraram queda de 0,5% no período. Por outro lado, as importações aumentaram 73,1%.

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