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    Há 20 anos, FHC incentivou consórcios da Vale após vencer hesitação

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    06/05/2017 02h00

    Rosane Marinho/Folhapress
    Manifestação de estudantes contrários à privatização, em 1997
    Manifestação de estudantes contrários à privatização, em 1997

    Mesmo após autorizar a privatização de setores importantes da economia, como energia e telecomunicações, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resistiu a aprovar a venda da Vale, que considerava um "instrumento muito grande de coordenação de políticas econômicas".

    É o que revelam as anotações de FHC sobre a venda da mineradora nos dois primeiros volumes dos "Diários da Presidência", a série de livros que reúne suas lembranças do período em que governou o país.

    "Não tenho a mesma comichão em favor da privatização na Vale que vejo em vários outros setores e no próprio governo", diz o ex-presidente, numa anotação de fevereiro de 1995.

    A equipe econômica do governo defendia a privatização, enquanto aliados de FHC como os senadores José Sarney e Tasso Jereissati faziam objeções.

    O assunto foi debatido por mais de dois anos, em meio a pressões de centrais sindicais, movimentos sociais e políticos de oposição contrários à privatização.

    O martelo foi batido após a definição de um modelo que daria ao governo poder de veto em decisões estratégicas da empresa mesmo após a venda, por meio de um instrumento conhecido como "golden share".

    A partir daí, iniciaram-se as articulações para fomentar a criação de consórcios para o leilão. Fernando Henrique temia que não houvesse competição, o que reduziria o preço da companhia, e que empresários brasileiros não tivessem fôlego para a disputa.

    O governo intensificou reuniões com empresários e o BNDES foi chamado para ajudar na formação de grupos com predominância de capital brasileiro.

    "Não contamos com empresários de grande porte, capazes de entrar na competição internacional com voo próprio. No caso da Vale, isso é decisivo", anotou FHC em dezembro de 1996.

    Com o apoio de fundos de pensão estatais, dois consórcios disputaram o leilão, um liderado pelo grupo Votorantim, com a participação da mineradora Anglo American, e outro formado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Nos diários, Fernando Henrique diz que preferia o grupo Votorantim, do empresário Antônio Ermírio de Moraes, que perdeu.

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