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Mercado
Wednesday, 01-May-2024 03:37:20 -03Acionistas ainda lutam para blindar Vale contra influências políticas
RENATA AGOSTINI
DE SÃO PAULO
NICOLA PAMPLONA
DO RIO06/05/2017 02h00
O relógio marcava 17h42 quando o leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi reiniciado na Bolsa do Rio.
Desde as 12h, um vaivém de ordens judiciais impedia que os grupos interessados fizessem lances. A longa espera foi sucedida de batalha curta: às 17h47 de 6 de maio de 1997, a mineradora deixava de ser estatal.
Duas décadas depois, contudo, os acionistas da Vale ainda lutam para blindá-la da ingerência dos políticos e do governo de ocasião.
Essa dificuldade voltou à tona no ano passado, conforme aproximava-se o fim do mandato de Murilo Ferreira, executivo que desde 2011 comanda a mineradora e deixará o posto no fim desse mês.
Aliados do presidente Michel Temer, especialmente da bancada mineira do PMDB na Câmara e do PSDB, apressaram-se a rodear o Planalto para emplacar um nome, relatam executivos ligados à companhia e auxiliares presidenciais.
As tentativas haviam começado logo que o peemedebista chegou ao poder, em maio de 2016. Tinham impulso do então ministro do Planejamento, Romero Jucá.
Influente aliado de Temer, era um dos que incentivava a troca, relatam interlocutores dos sócios e peemedebistas.
Queria participar da decisão e, por tabela, ajudar seu irmão - dono de uma empresa chamada Diagonal, que presta serviço de consultoria e desejava ter o contrato renovado com a mineradora.
O movimento inicial foi contido por acionistas, Bradesco à frente, com apoio do Planalto. O discurso era que Ferreira teria de ficar até o fim de seu mandato ou o mercado reagiria muito mal.
Os investidores da Vale estão sempre atentos e ressabiados com os movimentos políticos.
A preocupação justifica-se pelos braços do Estado no controle da mineradora –com os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa) e com o BNDES– e pelo histórico de tentativas do governo de ditar os rumos da Vale.
VALE: 20 ANOS Privatizada em 1997, empresa ainda sofre com influência política Há 20 anos, FHC incentivou consórcios da Vale após vencer hesitação Acionistas lutam para blindar empresa contra influências políticas Vale abre nova fase com gestão austera Durante o governo Lula, a pressão de Brasília alcançou seu auge. Enfurecido com a decisão da Vale de demitir funcionários após a crise de 2008, o petista passou a criticar ferozmente o então presidente, Roger Agnelli.
O Bradesco, que o colocara no posto, segurou Agnelli o quanto pôde. Com a chegada de Dilma Rousseff ao poder, teve de ceder.
Na avaliação de um acionista, a Vale, sendo uma concessionária, já seria alvo natural de pressões políticas. O problema, portanto, não está na chegada de pedidos do governo, mas na forma como a companhia reage a eles.
Uma forma de responder foi a contratação de uma empresa de recrutamento de executivos para conduzir a definição do novo presidente, um processo que resultou na escolha de Fabio Schvartsman, da Klabin, para suceder Murilo Ferreira.
Com o novo acordo de acionistas, anunciado neste ano, os sócios esperam que a mineradora tenha força para se manter distante dos humores de Brasília de forma mais permanente.
Ele prevê que, em três anos, a Vale deixe de ser uma empresa com controle definido. A mineradora passará a ter apenas uma classe de ação – e não mais uma com e outra sem direito a voto.
Assim, o controle será pulverizado em Bolsa. Os fundos de pensão de estatais, BNDES, Bradesco e Mitsui não mais concentrarão todas as decisões estratégicas.
Logo após o anúncio, as ações subiram, sinal de que os investidores gostaram do que ouviram.
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