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    Na Espanha, reforma trabalhista gerou empregos, mas com salários baixos

    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    07/05/2017 02h00

    Paul Hanna/Reuters
    Manifestantes se reúnem na praça Porta do Sol em Madri (Espanha). Milhares de pessoas mantiveram ocupadas praças das principais cidades da Espanha, em protesto contra a incapacidade da classe política de superar a séria crise econômica e a imposição de duras ações de austeridade. *** ORG XMIT: PDH509 Demonstrators fill up Madrid's Puerta del Sol May 20, 2011. Tens of thousands of Spaniards angry over joblessness protested for a sixth day on Friday in cities all over the country, and the government looked unlikely to enforce a ban on the demonstrations, fearing clashes. Dubbed "los indignados" (the indignant), the protesters have filled the main squares of Spain's cities for six days, in a wave of outrage over economic stagnation and government austerity marking a shift after years of patience. REUTERS/Paul Hanna (SPAIN - Tags: POLITICS CIVIL UNREST EMPLOYMENT BUSINESS)
    Manifestação de espanhóis em Madri em 2011 contra desemprego e medidas de austeridade

    Cinco anos após promover uma reforma trabalhista, a Espanha colhe o resultado das mudanças. O desemprego recuou a um ritmo mais veloz que em recuperações econômicas do passado, mas os salários ficaram mais baixos.

    O economista José Ignacio García Pérez, da Universidad Pablo de Olavide (Sevilha), que concedeu entrevista à Folha, concluiu, em estudo realizado para a Fedea (Fundación de Estudios de Economía Aplicada), que os desempregados espanhóis têm hoje mais chances de conseguir empregos de qualidade, mas a desigualdade no mercado de trabalho persiste.

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    EMPREGOS POR SALÁRIO

    Os salários passaram a crescer menos e em muitos casos caíram. Estudos do Banco de Espanha e da OCDE atribuem esse efeito à reforma. Isso evitou que se seguisse destruindo empregos. Entre 2008 e 2012, foram destruídos 3 milhões de postos de trabalho. Depois de 2012, foi destruído 1 milhão.

    As empresas que estavam pensando em demitir, quando lhes foi permitido baixar salários, puderam reduzir custos sem demitir.

    CUSTO PARA DEMITIR

    Na Espanha temos um mercado de trabalho dual. De um lado há os contratos fixos, e, de outro, os temporários. No primeiro caso, é muito difícil e custoso demitir. A empresa precisa pedir autorização à Justiça, e a indenização equivale a 45 dias de trabalho a cada ano trabalhado. Os temporários são muito flexíveis. O empresário pode contratar e demitir quando quiser, e as indenizações são baixas, equivalem a dez dias de trabalho a cada ano trabalhado.

    Quando chega uma crise, as empresas mandam embora os temporários. Um dos objetivos da reforma foi aproximar as condições dos dois regimes. A indenização dos trabalhadores fixos foi reduzida para 33 dias, e a dos temporários, elevada para 12 dias.

    APÓS A RECESSÃO

    No estudo, estimamos como se comportaria a contratação sem a reforma. Se fosse como antes, a probabilidade de contratar um desempregado num contrato fixo seria de 1,7%. Com a reforma, subiu para 2,6%, um aumento de 51%. A probabilidade ainda é pequena. Demitir um fixo é três vezes mais caro. Por isso, as empresas seguem contratando temporários.

    MAIS RÁPIDO

    Esta recuperação está sendo mais intensiva em empregos. Mas os salários estão mais baixos. Isso foi bom em 2013 e 2014, pois interrompeu a destruição de postos de trabalho, mas agora tem efeitos negativos. Esses salários baixos estão fazendo com que o consumo das famílias não cresça como era de esperar. Elas não estão comprando carrros ou TVs. Para cessar isso, precisamos qualificar os desempregados, para que os salários possam subir. Mas, desse ponto de vista, a reforma não avançou.

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