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    Quem ganha e quem perde com 10 propostas da reforma trabalhista

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    07/05/2017 02h00

    A reforma da legislação trabalhista em tramitação no Congresso altera diversos pontos da CLT, como férias, demissão e tipos de contrato de trabalho.

    Veja o que pode mudar nos dez principais pontos do projeto e como trabalhadores e empresas seriam afetados.

    1 - ACORDOS E CONVENÇÕES COLETIVAS

    REFORMA TRABALHISTA
    Vejas as principais mudanças na CLT

    > O que pode mudar
    Acordos passam a prevalecer sobre a CLT quando tratarem de temas como jornada, intervalo para almoço e plano de cargos, salários e funções

    Como isso afetaria o trabalhador
    Categorias representadas por sindicatos fortes teriam maior poder de negociação para adaptar regras da CLT ao que melhor lhes convier. Em setores menos organizados, empresas poderiam obter mais vantagens

    Como isso afetaria a empresa
    As empresas terão mais flexibilidade para negociar acordos e obter condições mais benéficas a elas, como jornadas maiores ou horário de almoço menor, especialmente em momentos de crise e desemprego em alta

    > O que pode mudar
    Profissionais com ensino superior e salário maior que R$ 11 mil poderão negociar individualmente com as empresas

    Como isso afetaria o trabalhador
    Medida beneficiaria empregados qualificados que desejam condições contratuais diferentes das estabelecidas no acordo coletivo. Empresas, porém, podem usar mecanismo para conseguir condições mais vantajosas para elas

    Como isso afetaria a empresa
    Poderiam negociar contratos diferentes do acordo coletivo da categoria, de forma a atrair trabalhadores qualificados, ou serem pressionadas por eles a ceder condições melhores

    Reforma trabalhista - Confira os principais pontos que mudam com a reforma

    2 - JORNADA

    > O que pode mudar
    Tempo gasto até o trabalho deixa de ser contado como parte da jornada quando a empresa fornece transporte aos empregados

    Como isso afetaria o trabalhador
    Profissionais deixariam de ter o tempo contabilizado na jornada. Caso fosse hora extra, impacto financeiro será maior

    Como isso afetaria a empresa
    Mudança pode incentivar mais empresas a fornecer o transporte aos funcionários

    Quantas horas o brasileiro trabalha habitualmente - Por semana, em %

    > O que pode mudar
    Jornada parcial, hoje limitada a 25 horas semanais, é ampliada para 30 horas (sem hora extra), ou 26 horas com 6 horas extras, o que diminui a diferença para a jornada integral (44 horas)

    Como isso afetaria o trabalhador
    Pais e mães que desejam passar mais tempo com os filhos e estudantes teriam mais opções de jornada que se adaptam às suas rotinas, mas ganhariam proporcionalmente menos

    Como isso afetaria a empresa
    Empresas teriam mais opções para contratar funcionários para trabalhar por tempo menor, pagando um salário menor

    > O que pode mudar
    Jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso, já adotada na área da saúde, por exemplo, é regulamentada

    Como isso afetaria o trabalhador
    Modalidade poderia ser adotada em outras categorias sem necessidade de acordo coletivo

    Como isso afetaria a empresa
    Prática ganharia segurança jurídica contra questionamentos na Justiça, o que hoje em dia resulta em pagamento de multa e indenização em caso de condenação

    3 - HORAS EXTRAS

    > O que pode mudar
    Banco de horas poderá ser negociado individualmente, fora do acordo coletivo

    Como isso afetaria o trabalhador
    Regra permite que profissionais negociem diretamente quando e como preferem compensar suas horas extras. Se o poder de barganha for baixo, porém, eles poderiam ter que ceder às empresas

    Como isso afetaria a empresa
    Negociação caso a caso permite alcançar acordos que se adequem às necessidades dos empregadores e dos funcionários

    4 - FÉRIAS

    > O que pode mudar
    Poderão ser parceladas em até três vezes e não poderão começar a dois dias de feriados e fins de semana

    Como isso afetaria o trabalhador
    Trabalhadores teriam maior liberdade para definir férias e seriam protegidos contra perda de dias em feriados. Quem prefere um mês corrido pode ter que ceder e dividir o descanso

    Como isso afetaria a empresa
    Maior flexibilidade para organizar as férias do seu quadro de empregados

    5 - TIPOS DE CONTRATO

    > O que pode mudar
    Home office, chamado de "teletrabalho" pela legislação, passa a ser regulamentado

    Como isso afetaria o trabalhador
    Reforma daria segurança jurídica ao definir normas que contratos devem seguir, mas regras relativas a jornada, como horas extras, não se aplicariam ao home office

    Como isso afetaria a empresa
    Questões como definição de quem é a responsabilidade por arcar com o pagamento da internet deverão constar em contrato, evitando que empregadores sejam surpreendidos por processos

    > O que pode mudar
    Criação de novo tipo de contrato para trabalho intermitente, que prevê prestação de serviços por horas, dias ou meses, sem continuidade, em que empregado é convocado para trabalhar com três dias de antecedência

    Como isso afetaria o trabalhador
    O trabalhador poderia ter carteira assinada com várias empresas ao mesmo tempo, formalizando quem atualmente já trabalha nesse modelo, como quem faz "bico". Mas ele teria pouco controle sobre sua rotina, como quando trabalhará e quanto ganhará

    Como isso afetaria a empresa
    Poderia pagar funcionário apenas pelo período em que ele efetivamente prestou serviços, o que beneficia lojas e restaurantes, que pagariam por mais empregados apenas pelo período que precisassem, como na alta temporada ou nos fins de semana

    Participação de autônomos na população ocupada - 1º trimestre, em %

    > O que pode mudar
    Autônomo poderá fazer contrato com uma empresa para trabalhar em regime de exclusividade e continuidade, sem que isso configure vínculo empregatício

    Como isso afetaria o trabalhador
    Profissional poderia trabalhar para uma empresa como se fosse empregado, mas sem ter a carteira assinada, e só seria reconhecido como empregado comprovando subordinação

    Como isso afetaria a empresa
    Modalidade é mais barata do que contratar empregado com carteira assinada, ao mesmo tempo em que ficaria mais difícil para autônomo alegar vínculo empregatício

    6 - GRÁVIDAS E LACTANTES

    > O que pode mudar
    Para ser dispensada do trabalho em atividades que ofereçam risco, mulher terá que apresentar atestado médico que comprove que a insalubridade do local onde trabalha ou da atividade que exerce colocam em risco a gestação ou a saúde do bebê

    Como isso afeta a trabalhadora
    Dispensa será automática apenas quando houver grau máximo de insalubridade. Nos demais casos, fica a cargo da mulher comprovar por meio de atestado que há risco para sua saúde ou à do bebê para ser dispensada de determinada atividade

    Como isso afeta a empresa
    Poderá manter grávida ou lactante trabalhando em ambiente insalubre caso mulher não consiga comprovar que há risco

    7 - DEMISSÃO

    Principais reclamações recebidas pela Jutiça ligadas à rescisão - Em 2017, % de ações recebidas

    > O que pode mudar
    É criado novo tipo de demissão, além daquela a pedido do empregado e das feitas pelo empregador (com ou sem justa causa). Nessa nova opção, profissional e empresa podem rescindir contrato em comum acordo, o que dá direito a 50% da multa e do aviso prévio e a 80% do FGTS

    Como isso afetaria o trabalhador
    Profissional que deseja ser demitido mas não quer deixar de receber multa e de ter acesso ao FGTS teria opção "meio termo", recebendo metade do devido ao demitido sem justa causa. Mas empresa que deseja demitir sem pagar toda a indenização poderia pressionar trabalhador a aceitar esse acordo

    Como isso afetaria a empresa
    Poderia demitir trabalhador pagando metade da indenização prevista nos casos de desligamento sem justa causa se profissional concordar

    > O que pode mudar
    Rescisão não precisa mais ser homologada pelos sindicatos

    Como isso afetaria o trabalhador
    Entidades deixariam de fazer pente fino nos termos de rescisão, e eventuais irregularidades poderiam passar despercebidas. Ao mesmo tempo, desburocratiza desligamento e acelera recebimento da indenização

    Como isso afetaria a empresa
    Desburocratizaria processo de desligamento de empregados

    > O que pode mudar
    Demissões coletivas poderão ser feitas sem acordo prévio com sindicato

    Como isso afetaria o trabalhador
    Necessidade de acordo permite hoje que sindicatos negociem condições melhores, como manutenção do plano de saúde para o demitido por um período após o desligamento

    Como isso afetaria a empresa
    Poderia fazer cortes em massa quando for necessário sem ter que negociar com sindicatos

    8 - SINDICATOS E REPRESENTAÇÃO

    > O que pode mudar
    Imposto sindical, principal fonte de financiamento dessas entidades, deixa de ser obrigatório e passa a ser descontado do salário apenas de quem autorizar. Valor equivale a um dia de trabalho e é cobrado anualmente

    Como isso afetaria o trabalhador
    O trabalhador poderá escolher se deseja ou não dar dinheiro à entidade, o que pode tanto motivar organizações a mostrar serviço na defesa da categoria quanto enfraquecê-las por falta de financiamento

    Como isso afetaria a empresa
    Contribuição para sindicatos patronais também passaria a ser voluntária, mas entidades como Fiesp, Firjan e CNI não dependem desses recursos para se manter, porque têm o dinheiro do Sistema S também

    Para onde vai o imposto sindical - Em %

    9 - JUSTIÇA DO TRABALHO

    > O que pode mudar
    Sócio que deixou empresa só responde na Justiça na ausência dos atuais donos do negócio e por até dois anos após saída

    Como isso afetaria o trabalhador
    Ordem e prazo dificultam recebimento de direitos trabalhistas quando empresa e sócios atuais não tiverem condições de pagar

    Como isso afetaria a empresa
    Ex-sócios têm maior segurança de que não terão que arcar com obrigações trabalhistas dos negócios dos quais saíram

    > O que pode mudar
    Renda máxima para receber justiça gratuita sobe de dois salários mínimos (R$ 1874) para 40% do teto do INSS (R$ 2.212) e previsão de concessão para quem alegar que custos do processo prejudicam seu sustento ou o da família é eliminada

    Como isso afetaria o trabalhador
    Por um lado, limite de renda para receber benefício é ampliado, o que seria positivo para quem ganha menos, mas fim da concessão para quem não tem condições de arcar com os custos sem prejudicar o próprio sustento ou o da família dificultaria acesso

    Como isso afetaria a empresa
    Afunilamento das condições necessárias para ter direito a justiça gratuita tenderia a reduzir o número de processos contra empregadores

    Processos recebidos na 1ª instância da Justiça do Trabalho - Em milhões

    10 - TERCEIRIZADOS

    > O que pode mudar
    Empresas são obrigadas a oferecer aos terceirizados os mesmos benefícios de alimentação, transporte e atendimento médico oferecidos a contratados diretamente

    Como isso afetaria o trabalhador
    Previsão antes opcional passa a ser obrigatória, o que beneficia terceirizado

    Como isso afetaria a empresa
    Passa a ser obrigada a ampliar benefícios oferecidos para atender terceirizados, o que aumentaria seus custos

    > O que pode mudar
    Demitido não pode ser recontratado como terceirizado nos 18 meses após o desligamento

    Como isso afetaria o trabalhador
    Medida busca evitar que empresas demitam empregados para recontratá-los como pessoas jurídicas, pagando menos

    Como isso afetaria a empresa
    A restrição diminui os ganhos que as empresas esperam obter com a terceirização

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