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    Documentário tenta 'desclichezar' debate sobre essa tal Geração Y

    MARCELO SOARES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/05/2017 16h10

    E essa geração dos vinte e poucos anos, hein? Ninguém sabe como lidar com eles. Moram com os pais; têm empregos, mas não carreiras; começam cursos e não acabam; têm relacionamentos efêmeros. Têm a mente acelerada pelas novas tecnologias, ignoram a história e às vezes largam tudo para ir morar no exterior.

    Era assim que a Folha descrevia a "Geração X", numa capa da Ilustrada em fevereiro de 1993, quando os celulares pareciam tijolos, a internet só chegava a algumas universidades brasileiras e saber programar um videocassete para gravar a novela era a prova de que a molecada já nascia sabendo tudo de eletrônica.

    Toda generalização automática a respeito de qualquer geração corre o sério risco de ser rasa, como adverte o documentário "Mind the Gap", produzido pela agência Talent Marcel e que, acompanhado de material de referência, estará disponível na internet nesta quinta-feira no site www.mindthegaptm.com.br.

    O filme, que teve o apoio do canal Multishow na sua produção, é o resultado de uma pesquisa de 15 meses feita pela agência. Uma sondagem com 500 jovens procurou captar seus valores e 21 especialistas de dez áreas do conhecimento foram ouvidos, incluindo antropólogos, psicólogos, filósofos, empresários e até youtubers. O resultado é um mosaico complexo de opiniões matizadas.

    "Precisamos 'desclichezar' o debate", disse o publicitário João Livi, principal executivo da agência, na pré-estreia do documentário. Um dos principais argumentos do trabalho é que "tentar definir é errar na mosca".

    "O problema é a tentação de não pensar, de usar categorias prontas para poupar o pensamento", afirmou o psicanalista Pedro de Santi aponta que as principais diferenças estão no contexto de acesso à informação por parte da geração atual. Mas, até aí, toda geração reage ao seu contexto.

    Nesse sentido, a atenção ao formato das mensagens é crucial para conquistar a atenção dos jovens. Porque também faz parte desse contexto uma ampla gama de alternativas possíveis. A informação sobre o que se deixa de lado ao fazer numa escolha está sempre ao alcance dos dedos, gerando o que estudos chamam de "paradoxo da escolha": quanto mais opções se tem, mais difícil é decidir.

    O filósofo Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha, lembra no filme que o debate sobre a "incrível geração" é um tanto quanto elitizado. Quem tem a opção de largar tudo e ir mochilar no exterior, para quem o trabalho é um fim e portanto exige satisfação plena, não é exatamente a maioria dos jovens, para quem o trabalho é um meio de vida. "Brincar de Y é caro", disse.

    Os membros da geração que causava pânico moral por não ter rumo nos anos 90 estão hoje no comando, nas empresas e até governos - vide a eleição de Emanuel Macron, 39, na França, e a importância econômica mundial do Google, criado por homens que hoje têm 43, 44 anos. No andar das carroças, os tomates da perigosa "Geração X" viraram o establishment - e quem coça a cabeça para entender que raios querem os jovens da vez são eles.

    Como lidar? No filme, a cineasta Georgia Guerra-Peixe conta alguns percalços que teve ao trabalhar com jovens de vinte e poucos anos e conclui: "o que funciona é a porta estar aberta".

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