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    Governo corre atrás de evangélicos e católicos por respaldo a reformas

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO
    BRUNO BOGHOSSIAN
    DE BRASÍLIA

    18/05/2017 02h00

    Ed Ferreira - 25.jun.2015/Folhapress
    O pastor Silas Malafaia, durante audiência da Comissão Especial que analisa o Estatuto da Família
    O pastor Silas Malafaia, durante audiência da Comissão Especial que analisa o Estatuto da Família

    O apoio às reformas trabalhista e previdenciária pode não cair dos céus –já das igrejas é uma possibilidade no radar do Palácio do Planalto.

    O governo Michel Temer intensificou o contato com líderes religiosos nos últimos meses, após detectar resistência ao tema por parte da Igreja Católica e de ministérios evangélicos —que juntos representam 80% da população brasileira.

    O presidente ou emissários como o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) vêm povoando suas agendas com lideranças do meio.

    Do lado católico: o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Sérgio da Rocha, o embaixador do Vaticano no Brasil, Giovanni d'Aniello, e o arcebispo de Diamantina (MG), dom Darci Nicioli —que comparou a CLT "a uma senhora muito antiga que precisa de atualização", o que porém deve ser feito com "participação do povo".

    Na seara evangélica, televangelistas como R.R. Soares, Valdemiro Santiago e Samuel Câmara. Nesta quinta (18) será a vez de Temer receber no em Brasília Silas Malafaia, voz simpática às reformas —quando a trabalhista foi aprovada na Câmara, o pastor felicitou os deputados no Twitter: "PARABÉNS! [A nova lei] acaba com o império do sindicalismo. Os que não gostaram são os petralhas e esquerdopatas".

    À Folha o pastor aposta em Temer: "Alguém tem que fazer o jogo sujo e pagar o preço da impopularidade para não deixar o troço [Estado] quebrar em alguns anos". Está afinado com o bispo e ex-deputado Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra (ex-igreja de Eduardo Cunha).

    "O remédio é amargo", mas "entendemos que as reformas são importantes para o equilíbrio financeiro do país", diz Rodovalho, que preside a Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (uma entre várias entidades que falam pela classe, dada a descentralização do poder evangélico).

    Malafaia e Rodovalho divergem da maioria da bancada evangélica na Câmara. Presidente da frente (com cerca de 90 deputados), Hidekazu Takayama (PSC-PR) diz que ainda não se convenceu a votar "sim" pela nova Previdência. Seus colegas, idem. "Hoje, a tendência é o governo perder."

    O deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF), ligado à maior das Assembleias de Deus, o ministério Belém, afirma que "Temer é indigesto" para o fiel padrão. "A bancada tem muita penetração em camadas menos favorecidas. Esse povo está com medo, pois não vive de aluguel, de renda complementar. Vive de aposentadoria. Chega o governo com terrorismo, dizendo que [seus benefícios] vão acabar..."

    O Planalto detectou uma pressão grande de religiosos sobre o debate, que estaria contaminado pela versão original da reforma da Previdência. Com lideranças, Temer e correligionários adotam o discurso de que o texto mudou, agora beneficia instituições filantrópicas ligadas a igrejas e se alinha à doutrina cristã.

    A estratégia surtiu efeito, segundo avaliação do Planalto, que coleta menos relatos de críticas em missas e cultos.

    O receio com mudanças que comprometam os mais pobres conduziu nota divulgada em março pela alta cúpula católica no país. O texto evoca passagem do Antigo Testamento ("ai dos que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam no chão") ao criticar modificações na aposentadoria.

    Em carta a Temer, o próprio papa Francisco disse que são sobretudo "os mais pobres" que pagam "o preço mais amargo" por "soluções fáceis e superficiais para crises", sem explicitar quais seriam estas.

    Há duas semanas, Temer disse que a oposição vinha de "uma parte da CNBB e nada mais do que isso", apesar de assinarem notas contrárias às suas propostas o presidente, e o vice da CNBB. Também signatário, o secretário-geral da entidade, dom Leonardo Steiner, reconhece "visões [internas] diferentes", mas discorda que "a contrariedade seja apenas de parte do episcopado".

    Voz dissonante : o arcebispo de SP, dom Odilo Scherer, defensor das reformas. "É necessário fazê-las e fazê-las bem."

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