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    Patentear um produto pode levar mais de dez anos

    DE SÃO PAULO

    22/05/2017 02h00

    Ana Carolina Fernandes/Folhapress
    ORG XMIT: 100001_1.tif Arquivo de pedidos de registro de marcas e patentes no INPI (Instituto Nacional de Propiedade Intelectual), na praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro. A falta de estrutura e problemas como a precariedade da sede do Instituto ameaça investimentos, pois o tempo médio para registro de marcas é de quatro anos e de patentes, sete anos. Na fila aguardam 300 mil pedidos de marcas e 60 mil de patentes. A média internacional considerada razoável varia de dois a três anos. (Rio de Janeiro, RJ, 26.11.2004. Foto: Ana Carolina Fernandes/Folhapress)
    Arquivo de pedidos de marcas e patentes no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, no Rio

    A criatividade dos inventores pode esbarrar no desconhecimento do mercado e de uma pesquisa frágil sobre a viabilidade do novo produto, segundo a consultora do Sebrae Sandra Fiorentini.

    Vale começar a busca no serviço Google Patents, que faz um levantamento global em escritórios de patente e informa se a ideia é nova.

    Quem não faz essa lição de casa tem chances de ver o pedido rejeitado pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), após um processo que pode levar mais de dez anos.

    O órgão atribui a morosidade ao baixo número de profissionais responsáveis pelas análises.

    "Por ano, conseguimos avaliar apenas 11 mil requerimentos porque temos 300 encarregados, contra 8.000 nos EUA e 12 mil na China", explica o diretor de patentes do INPI Júlio César Moreira.

    É possível iniciar a venda do produto só com o requerimento. Mas não adianta pedir a patente quando o item, já à venda, é copiado. Isso porque ganha o registro quem fizer primeiro a solicitação.

    O físico Claudemir Lopes, 51, ainda não conseguiu patentear sua invenção, a Thermo-X, argamassa térmica que diminui o calor e o barulho do ambiente. Mas o pedido foi feito há três anos.

    "Já trabalho no ramo há 25 anos e vi que não havia um produto com essas características. Passei três anos desenvolvendo a massa, para uso em residências e prédios comerciais", afirma.

    Para criar a Thermo-X, Lopes investiu R$ 1,5 milhão. Ele não revela o faturamento, mas planeja crescer 8% em 2017 e calcula ter vendido cerca de 100 mil sacos do produto, comercializado em lojas de construção de grande porte.

    O físico atribui o sucesso à experiência no setor. "Sem conhecimentos de processo industrial e de construção, não teria sido possível desenvolver a argamassa", diz.

    O professor de empreendedorismo do Insper Thiago de Carvalho recomenda que o inventor privilegie ideias em um setor que já conheça.

    "Do contrário, corre-se o risco de ignorar questões importantes de público-alvo, custo de produção e precificação, pois o conhecimento do ramo é elementar."

    Uma pesquisa deste ano da Global Entrepreneurship Monitor, que levantou dados econômicos de 64 países, aponta que 66% das empresas brasileiras que fecham as portas o fazem pela baixa lucratividade de seus itens.

    "Além de mostrar o produto para colegas e amigos que poderiam se interessar, dá para entrar em contato com pontos de venda, como grandes lojas, e colher opiniões ali", afirma Fiorentini.

    Carvalho, do Insper, diz que, sem um investidor profissional que cobre resultados, é preciso ter cuidado para não se endividar.

    "Muitos gastam todo o dinheiro que têm sem muita supervisão. É preciso ser criativo para encontrar formas de abrir a empresa com alguma folga no orçamento."

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