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    Glencore analisa compra da Bunge, em meganegócio no setor de commodities

    DO "FINANCIAL TIMES"

    23/05/2017 19h00

    Arnd Wiegmann - 30.set.15/Reuters
    FILE PHOTO: The logo of commodities trader Glencore is pictured in front of the company's headquarters in Baar, Switzerland, September 30, 2015. REUTERS/Arnd Wiegmann/File Photo ORG XMIT: SMN513
    Sede da Glencore, grupo de mineração e commodities agrícolas, em Baar, Suíça

    A divisão agrícola da Glencore abordou a rival Bunge quanto à possibilidade de uma tomada de controle acionário, na esperança de que essa transação a ajude a subir no ranking das empresas de grãos.

    A Bunge, fundada em 1818, é uma das mais antigas companhias de comércio de grãos do planeta.

    Com faturamento anual de US$ 42,7 bilhões, ela representa o "B" no ABCD de empresas que dominam o comércio internacional de produtos agrícolas, em companhia da Archer Daniels Midland (ADM), Cargill e Louis Dreyfus.

    A Glencore confirmou que sua joint venture agrícola "fez uma abordagem informal quanto a uma possível combinação consensual de negócios com a Bunge Limited", mas acrescentou que "discussões podem ou não se materializar, e não existe certeza de que qualquer transação venha a ocorrer".

    O grupo de mineração e commodities agrícolas suíço, cuja principal operação são as commodities industriais, vendeu uma participação de 49% em suas operações agrícolas a dois fundos de pensão canadenses, no ano passado, por mais de US$ 3 bilhões.

    O acordo tinha por objetivo em parte reduzir dívidas e ampliar a capacidade da empresa para realizar aquisições. O presidente-executivo da Glencore, Ivan Glasenberg, jamais escondeu seu desejo de expandir os negócios do grupo.

    A venda da participação acionária aos fundos canadenses também resultou na criação de uma companhia separada, com balanço próprio e não garantido pela Glencore.

    Isso significa que dívidas que venham a ser assumidas para financiar transações não serão incorporadas ao balanço da Glencore.

    As ações da Bunge, cotadas na bolsa de Nova York, registraram alta de 16,6%, para US$ 18,72, depois que o "Wall Street Journal" publicou uma reportagem sobre a proposta, o que atribui à empresa um valor de mercado de mais de US$ 11,5 bilhões. A Bunge não quis comentar.

    A abordagem surge em um período de excesso de produção agrícola no planeta, que está corroendo os lucros das tradings internacionais de grãos, cujos lucros dependem de que elas explorem pequenas diferenças de preços multiplicadas por milhões de toneladas.

    Soren Schroder, presidente-executivo da Bunge, sinalizou neste mês que estava aberto a possíveis combinações.

    Diversas fontes informadas sobre o pensamento da Glencore disseram que a empresa estava estudando diversas opções em todo o setor agrícola e que a Bunge era apenas uma delas.

    "Todo o mundo está conversando com todo mundo", disse uma dessas fontes.

    GIGANTE MUNDIAL

    A Bunge é a maior companhia mundial no ramo de esmagamento de grãos, transformando soja e outras commodities em óleos vegetais e farelo.

    A empresa controla instalações portuárias para exportação na América do Sul, na América do Norte, na região do Mar Negro e na Austrália, o que lhe confere a opção de transportar o excedente de produção nessas regiões a compradores na China, Oriente Médio e outros locais.

    Nos Estados Unidos, ela tem uma rede de silos para grãos concentrados ao longo do rio Mississippi.

    A Glencore reconhece que sua sua presença nos Estados Unidos, um dos principais exportadores mundiais de grãos, é limitada.

    Os amplos volumes disponíveis de trigo, milho e soja ajudaram as operações de processamento de grãos, mas reduziram os lucros que elas propiciam.

    Schroder descreveu a dificuldade da posição de sua empresa como intermediária entre agricultores que relutam em vender por preços baixos e companhias de alimentos que preferem esperar o preço cair antes de comprar grãos.

    Em uma conferência setorial na semana passada, Schroder apontou para a possibilidade de consolidação na forma de parcerias, como a que sua empresa formou com um fundo de investimento saudita para adquirir o controle de uma processadora de grãos canadense.

    "Se houver algo maior, estaremos abertos a isso, é claro", ele acrescentou.

    "É muito evidente que há protagonistas demais tentando fazer a mesma coisa com uma margem de lucro muito baixa."

    Falando na conferência de cúpula mundial do "Financial Times" sobre commodities, em março, Chris Mahoney, o antigo remador olímpico que comanda a Glencore Agriculture, disse que a unidade não adquiriria uma empresa norte-americana só para cobrir uma lacuna em sua rede.

    Ele afirmou que a Glencore Agriculture estava mais interessada em empresas dotadas de muitos ativos, e com "o tamanho e escala necessários".

    Mahoney disse também que a Glencore Agriculture teria vantagem na compra de ativos porque, ao contrário de rivais como a ADM e a Cargill, ela não enfrentaria problemas com as autoridades antitruste.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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