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    Dolly reabre fábrica, e sócio de contador admite desvio de dinheiro

    FILIPE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    24/05/2017 17h20

    Gabo Morales/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 31-07-2012: Refrigerante Coca-Cola, em producao para reportagem sobre Obesidade Infantil e publicidade para Equilibrio, em Sao Paulo, 31 de Julho de 2012. (Foto: Gabo Morales/Folhapress, EQUILIBRIO) *** FOTO EM ARTE E NÃO INDEXADA ***
    Copo de refrigerante sabor cola

    A Dolly, que teve unidades de suas engarrafadoras fechadas na última quinta-feira (18) como resultado da Operação Clone, da Secretaria da Fazenda de São Paulo, firmou acordo com a pasta para retomar as atividades.

    A empresa afirma ter sido vítima de desvio de pelo menos R$ 100 milhões causado por Rogério Raucci, sócio do escritório de contabilidade Raucci & Domingues, que prestava serviços à empresa desde 2001.

    O esquema, segundo a Dolly, veio à tona a partir de depoimento de Esaú Domingues, que possui 1% das ações do escritório de contabilidade.

    Em depoimento para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público de SP) feito no dia 15 de maio, Domingues relatou um esquema no qual o dinheiro que deveria ser usado para pagar impostos era desviado para o escritório de contabilidade.

    Para isso, eram usados recibos de pagamento de impostos falsos criados por Raucci, segundo Domingues.

    DECISÕES TRABALHISTAS

    Segundo Laerte Codonho, presidente da Dolly, Raucci era homem de confiança da empresa e as fraudes só foram descobertas neste ano. Porém havia indícios, entre eles o fato de o contador ser dono da equipe de automobilismo RR Racing Team e ter filhos competindo na Fórmula 3 e na Fórmula 4, o que não seria condizente com seu padrão de rendimentos, diz.

    Codonho diz que, embora estranhassem o fato, só descobriram a fraude recentemente.

    O empresário afirma que também foram falsificadas decisões a respeito de ações trabalhistas, com a participação do ex-advogado da Dolly Luis Alberto Travassos.

    O objetivo seria simular punições para enganar a empresa e ficar com o dinheiro de supostas multas e acordos.

    A Folha tentou entrar em contato com Raucci, por telefone e e-mail, e Travassos, em seu telefone celular, mas não obteve resposta até o fechamento do texto.

    ESQUEMA

    Em entrevista à Folha, Domingues disse que se tornou sócio de Raucci em 2001, quando era funcionário da Dolly, por sugestão de outro contador que atuava na companhia naquela época.

    Ele diz que Raucci também trabalhou na Dolly até a metade de 2016. Era encarregado da contabilidade e do setor jurídico das empresas do grupo e tinha total confiança da direção da companhia. "Era praticamente um braço direito", diz.

    Também afirma que a Receita estadual encaminhava notificações para as empresas relacionadas à marca Dolly, mas o endereço eletrônico constante no cadastro do fisco como sendo das empresas era o e-mail do escritório de contabilidade dele e de Raucci.

    Domingues tem ensino superior incompleto e é técnico contábil. Ele diz ter percebido desvios desde 2008, mas afirma que não falou nada por ser subordinado a Raucci, assim como o advogado Travassos.

    No depoimento, ele afirma que, por sua participação no esquema, emitia cheques da empresa de contabilidade para sua conta, em valores entre R$ 20 mil e R$ 40 mil.

    CARROS DE LUXO

    Segundo ele, a decisão de contar o que sabia foi resultado da preocupação com o risco de a empresa fechar e funcionários perderem seus empregos.

    "Eu me sinto arrependido. Nunca tinha uma consciência tranquila. Mas ele [Raucci} era como era um diretor lá dentro e um sócio majoritário, ditava as regras. Se falasse qualquer coisa, sofreria consequências."

    Segundo a Dolly, Domingues devolveu à empresa R$ 5 milhões.

    Domingues afirma também no depoimento que Raucci adquiriu com os desvios mais de 30 carros de luxo, entre eles uma Maserati, um BMW 750, um Porsche Cayenne, dois Porsche Cayman, um Corvette, um Mercedes S500, duas Mercedes SLK, um Dodge Ram, um Chevrolet Suburban e dois Mini Cooper.

    Domingues conta ter deixado a companhia em janeiro. Em seu depoimento, ele foi acompanhado do advogado da Dolly, José Valmi Brito.

    DÍVIDA

    Segundo a Fazenda, a Dolly devia cerca de R$ 2 bilhões de ICMS. A secretaria afirmou que, após ter cassado inscrições estaduais de empresas ligadas à marca em dezembro de 2016, o grupo empresarial abriu novas companhias no mesmo local.

    A Secretaria da Fazenda informou que a Ragi Refrigerantes, uma das empresas do grupo da Dolly, com fábrica em Diadema, pagou na tarde desta quarta-feira (24) R$ 33 milhões em débitos que tinha com a Fazenda, valor atualizado com juros e multa.

    Além da quitação do débito da Ragi, foram estabelecidas outras exigências.

    Entre elas estão a entrega de toda a escrituração fiscal digital das empresas em até 30 dias e um plano de diminuição de dívida, baseado na adesão ao Programa Especial de Parcelamento do ICMS,

    A secretaria afirma que a fabricante de bebidas ainda possui dívidas com o Estado que somam cerca de R$ 2 bilhões (já inscritos em dívida ativa) e é qualificada como grande devedora. Por isso, receberá acompanhamento rigoroso do Estado.

    Codonho, presidente da Dolly, afirma que foi pago o valor de ICMS que teria sido desviado pelos contadores, mas a maior parte da dívida da empresa se refere a multas por falta de pagamento de impostos e por não receber fiscais da Fazenda.

    Essas punições devem ser discutidas na Justiça, diz.

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    Raio-X

    Dolly
    Ano de fundação 1987
    Número de funcionários cerca de 2.000
    Faturamento Não informado
    Principais concorrentes Coca-Cola, Pepsi e Ambev

    Edição impressa

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