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    Setores lamentam saída de Maria Silvia do BNDES; Fiesp não comenta

    FLAVIA LIMA
    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    26/05/2017 17h02 - Atualizado às 18h52

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Paulo Skaf, presidente da Fiesp, recebe a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, na sede da entidade, na av. Paulista (SP)
    A ex-presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em SP

    O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, lamentou a saída de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

    Segundo ele, a saída significa a "interrupção de um processo" benigno em um banco que também tenta lidar com a questão do forte crescimento dos gastos públicos. "Isso sempre atrapalha o andamento de assuntos importantes. É mais um sobressalto", disse Barbato.

    O executivo ponderou, no entanto, que, uma vez que o ministério da Fazenda segue intacto, a política econômica de maneira mais ampla permanece.

    Em nota, Maria Silvia afirmou que deixa a presidência por razões pessoais e que todos os diretores permanecem no cargo e o diretor Ricardo Ramos, pertencente ao quadro de carreira do BNDES, responderá interinamente pela presidência do Banco.

    Vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, avalia a saída de Maria Silvia como "muito ruim" especialmente num momento de incertezas para o setor.

    A entidade vinha tentando sensibilizar o banco sobre as consequências da delação da JBS para os pecuaristas. E pedia que o BNDES, como sócio da empresa, agisse para manter o mercado de abate de bovinos funcionando.

    "Tinha uma esperança de que ela fosse exercitar o papel de banco de desenvolvimento público", afirmou.

    Em carta enviada pelo presidente da SRB, Marcelo Vieira, a Maria Silva na quinta (25) pedia que o banco, como acionista da JBS, saísse na frente "na defesa dos interesses econômicos de maneira independente aos acionistas hoje controladores". E citava como prejuízos já decorrentes da crise por que passa a empresa dos Batista a decisão de não mais pagar pecuaristas à vista.

    "Ela representava uma esperança. Não acredito numa substituição rápida. Brasília está atônita. Agora vamos ter de esperar o próximo presidente da república", afirmou.

    "Lamentamos a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES. Ela é muito competente e estávamos satisfeitos com o profissionalismo e dinamismo que empregou no banco", disse Antonio Megale, presidente da Anfavea (associação nacional das montadoras).

    INDÚSTRIA

    A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Associação Brasileira das Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) optaram por não comentar a saída de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

    No mercado, se falava em pressões do empresariado sobre a nova diretoria do banco de fomento. A percepção seria de que a política de empréstimos de recursos tocada desde que a executiva assumiu o banco não impulsionava o setor industrial, que vinha passando por desafios em meio ao cenário econômico recessivo.

    ACADEMIA

    A saída de Maria Silvia é uma péssima notícia, vista com preocupação por Aloisio Araújo, professor da Fundação Getulio Vargas e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).

    Segundo ele, a mudança ocorre em um momento importante no qual o banco de fomento passara a privilegiar setores mais carentes de recursos públicos, como o segmento de saneamento, e abandonara de vez a política de campeões nacionais. "Antes de Maria Silvia, o banco estava operando com volume de recursos muito grande em dissonância com a realidade fiscal do país."

    Para Araújo, os empréstimos feitos a empresas como a JBS são a prova de que a política do banco não estava dando certo. "Era um volume de recursos grande, dado de forma rápida para criar um campeão nacional que acabou virando multinacional e praticamente foi embora do Brasil", diz.

    O professor ressalta ainda que um passo importante no movimento de ajuste do banco foi a devolução de R$ 100 bilhões ao Tesouro, aprovada no fim do ano passado.

    Araújo se diz amigo de Maria Silvia, além de ter sido seu professor na Fundação Getulio Vargas. Ele lembrou que é importante ressaltar que a executiva alegou razões pessoais para deixar o cargo, mas havia rumores de pressão por parte do empresariado, cuja percepção era que os empréstimos do banco de fomento estavam sendo feitos em volumes pequenos e em marcha muito lenta. "Maria Silvia é uma pessoa de quem gosto muito, é muito séria", diz.

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