• Mercado

    Tuesday, 30-Apr-2024 17:05:17 -03

    Start-ups chinesas querem ser 'Airbnb' até de guarda-chuva e bola de basquete

    AMY QIN
    DO "NEW YORK TIMES"

    30/05/2017 10h15

    Gilles Sabrie/The New York Times
    FILE -- A stack of bike-share bicycles in Beijing, March 1, 2017. Buoyed by the success of car and bike-sharing companies and fueled with ready cash, Chinese startups are entering what some consider a sharing bubble, including items such as umbrellas and basketballs. (Gilles Sabrie/The New York Times)
    Bicicletas para compartilhamento em rua de Pequim, na China

    A China pode estar sofrendo de compartilhamento excessivo.

    Primeiro, uma brutal e dispendiosa guerra entre serviços de carros expulsou a Uber do país. Depois, um boom de bicicletas compartilhadas lotou as ruas das cidades chinesas de bikes sem uso.

    Hoje, há start-ups na China querendo promover o compartilhamento de guarda-chuvas, betoneiras e carregadores de bateria para celulares. Uma delas quer promover o compartilhamento de bolas de basquete.

    Os empreendedores e investidores da China estão mergulhando de cabeça no segmento, mas alguns observadores céticos estão começando a questionar se o país já não chegou aos limites do compartilhamento.

    "Depois de todos esses anos, a China está enfim se acomodando às suas raízes comunistas", disse o empreendedor Andy Tian, cofundador do Asia Innovations Group, em Pequim. "Essa é a essência do comunismo: compartilhamento comunitário".

    "Mas não há dúvida de que se trata de uma bolha", ele acrescentou. "Ela pode ter raízes em algo valioso, mas será mesmo possível compartilhar tudo?"

    Empreendedores chineses como Xu Min acreditam que provavelmente sim. Em março, Xu, 30, um empreendedor serial da cidade de Jiaxing, na província de Zhejiang, no leste do país, teve a ideia de um serviço de compartilhamento de bolas de basquete, depois de ouvir queixas de alguns amigos de que carregar uma bola de basquete era inconveniente.

    Apenas quatro dias mais tarde, Xu já havia estabelecido a Zhulegeqiu, um trocadilho em chinês que significa algo como "alugue uma bola". O serviço permite que usuários aluguem bolas em armários automáticos instalados em quadras de basquete espalhadas pelo país.

    Para alugar uma bola, o usuário usa a câmera de seu celular para fotografar o código do armário, e com isso destranca o compartimento onde a bola fica guardada.

    A Zhulegeqiu cobra 1 yuan, o equivalente a US$ 0,15 centavos, por hora de locação da bola. Um depósito de cerca de US$ 10 é requerido a menos que o usuário tenha classificação elevada no Sesame Credit, um sistema de avaliação de crédito desenvolvido pela Ant Financial, uma afiliada do Alibaba Group, o gigante chinês do comércio eletrônico.

    "Em longo prazo, comprar uma bola pode ter custo-benefício melhor do que alugá-la", disse Xu. "Mas achamos que os usuários chineses estão dispostos a pagar um pouquinho mais pela conveniência".

    No começo do mês, a Zhulegeqiu recebeu um investimento de US$ 1,4 milhão da Modern Capital, uma empresa de capital para empreendimentos de Xangai.

    SOBRA DINHEIRO, FALTAM IDEIAS

    Por trás do boom do compartilhamento há o excedente de dinheiro disponível na China e –de acordo com alguns críticos– uma escassez de boas ideias. As empresas chinesas de capital para empreendimentos investiram US$ 31 bilhões em 2016, quase 20% a mais do que no ano anterior, de acordo com um relatório recente da KPMG.

    Boa parte desse dinheiro foi investido em companhias de compartilhamento, porque os resultados excelentes de algumas delas e um mercado florescente de start-ups ajudam a atrair investidores, nacionais e internacionais.

    Divulgação
    Empréstimo de guarda-chuva no metrô em Guangzhou
    Mulher diante de quiosque para aluguel de guarda-chuva em estação de no metrô em Guangzhou

    "Há muito dinheiro saltitando no mercado", disse Zhou Wei, presidente-executivo da Xnode, uma incubadora de start-ups que oferece espaço de trabalho compartilhado em Xangai. "E muitos investimentos tolos estão sendo feitos".

    Em sua mais recente forma, a economia do compartilhamento chinesa se transformou em um grande mercado de locação via internet. Ao contrário do Airbnb e da Uber, que oferecem uma plataforma para conectar usuários a recursos existentes, as mais recentes empresas chinesas de compartilhamento são donas de produtos que elas alugam a usuários.

    Isso não significa que o compartilhamento na China é necessariamente uma má ideia. O serviço de carros Didi Chuxing, que adquiriu as operações chinesas da Uber, é uma empresa de capital fechado que não revela resultados financeiros, mas sua avaliação de mercado vem crescendo, com a entrada de cada vez mais investidores.

    A China tem condições maduras para o compartilhamento, o que inclui uma população grande, cidades densamente ocupadas e um grupo considerável de pessoas que não tem condições de comprar tudo aquilo que desejam usar.

    "Na China, a renda média ainda é muito baixa e o preço continua a ser muito importante no mercado", disse Mark Natkin, diretor executivo no grupo de pesquisa de tecnologia Marbridge Consulting. "Assim, se a tecnologia para sustentar o negócio existe, e se o modelo de negócios é viável, há toda espécie de negócios, na economia do compartilhamento e em uma economia do pseudocompartilhamento, que têm potencial de se sair muito bem".

    Os avançados sistemas chineses de pagamento via celular também facilitam o compartilhamento. Operados por gigantes chinesas como a Tencent Holdings e uma afiliada do Alibaba Group, os sistemas de pagamentos se integram sem dificuldade às contas bancárias dos usuários e permitem transações, mesmo de valor minúsculo, com simples toques de tela e registro de códigos via câmera.

    O governo chinês considera o compartilhamento promissor. Sua estimativa é de que a economia do compartilhamento do país no ano passado tenha movimentado US$ 500 bilhões em transações, e a projeção para 2020 é que o setor responda por 10% da atividade econômica chinesa.

    Tudo isso estimula ideias que podem parecer estranhas para alguns observadores –como o serviço de compartilhamento de guarda-chuvas criado por Shen Weiwei.

    GUARDA-CHUVAS

    O empreendedor Shen reconhece que pode ser difícil para sua start-up, chamada Molisan, sair do vermelho. A Molisan (o nome quer dizer "guarda-chuva mágico") obterá lucro mínimo com a locação de guarda-chuvas por 12 horas ao preço de 1 yuan, em um dos quiosques projetados especialmente para a empresa. E há a possibilidade de que os usuários roubem os guarda-chuvas.

    Mas Shen disse confiar que outros enxergarão o benefício ambiental e público de um serviço de compartilhamento de guarda-chuvas. Até agora, a Molisan chegou a acordo com as operadoras do metrô nas cidades de Guangzhou e Fuzhou para instalar os seus quiosques na estações. O objetivo, segundo o empreendedor, é que os usuários tenham um quiosque disponível a no máximo 100 metros de sua localização.

    "Todo mundo tem um monte de guarda-chuvas em casa, mas eles nunca estão em nossas mãos quando realmente precisamos", disse Shen. "Se tivermos sucesso, os usuários não precisarão mais comprar guarda-chuvas".

    Algumas empresas, como a Duola, de Xangai, que conecta betoneiras motorizadas, motoristas de betoneiras e canteiros de obras, são mais especializadas e se assemelham a outros serviços de locação. Outras têm base de usuários mais ampla.

    Nos últimos meses, os principais grupos de capital para empreendimentos estão de olho em um serviço de recarga de celulares que planeja instalar quiosques de recarga em shopping centers e outros locais. Nos últimos dois meses, as três principais empresas de compartilhamento de baterias da China –Laidian, Xiaodian e Jiedian– arrecadaram mais de US$ 127 milhões em capital, de acordo com o itzuji.com, um site que acompanha os investimentos nas empresas chinesas de tecnologia.

    Muita gente continua cética. "Compartilhar bolas de basquete, compartilhar guarda-chuvas –essas são ideias ruins", disse Allen Zhu, diretor executivo da GSR Ventures em Xangai.

    Sua administradora de fundos de capital para empreendimentos foi uma das primeiras a investir na Didi Chuxing, no popular serviço de compartilhamento de bicicletas Ofo e na Xiaodian. "As duas estão muito vinculadas a um determinado local, o que dificulta a expansão".

    Empreendedores como Xu, da Zhulegeqiu, discordam, embora admitam que há desafios a superar.

    Para começar, a empresa não parece ter encontrado uma maneira sustentável de recuperar bolas roubadas. Nos testes iniciais, disse Xu, um concorrente roubou uma bola para analisá-la mais atentamente. A Zhulegeqiu tinha as informações de contato do usuário e recuperou a bola ao modo tradicional: por meio de telefonemas incessantes.

    "Pensamos em colocar rastreadores de GPS nas bolas", disse Xu Jie, presidente-executivo da Modern Capital, a empresa de capital para empreendimentos que apoia a Zhulegeqiu. "Mas fizemos as contas e descobrimos que contratar pessoas para rastreá-las fisicamente sairia mais barato".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024