• Mercado

    Monday, 29-Apr-2024 02:02:03 -03

    Sem exportações, PIB do primeiro trimestre teria ficado próximo de zero

    NICOLA PAMPLONA
    MARIANA CARNEIRO
    RIO
    FLAVIA LIMA
    SÃO PAULO

    01/06/2017 14h08 - Atualizado às 17h43

    Com o mercado interno sofrendo os efeitos do desemprego e do corte nos investimentos, a economia brasileira contou com a ajuda das exportações, principalmente de commodities, para reverter neste primeiro trimestre dois anos de retração.

    Segundo economistas, sem a forte contribuição dada pelo setor externo, pelo lado da demanda, e pelo setor agropecuário, pelo lado da oferta, não haveria crescimento no primeiro trimestre.

    Projeção do banco Haitong indica que as exportações líquidas contribuíram com 1,5% da alta total de 1% registrada por toda a economia nos primeiros três meses do ano.

    Isto significa dizer que a contribuição do mercado interno —os dados de consumo, investimento e gastos do governo— teria sido negativa em 0,5% para o desempenho total.

    Nas contas da gestora Icatu Vanguarda, excluindo-se o segmento agropecuário, o crescimento teria sido de apenas 0,2% de janeiro a março.

    As exportações subiram 4,8% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, enquanto houve queda no consumo das famílias (-0,1%), do governo (-0,6%) e no investimento (-1,6%).

    Do ponto de vista da oferta, o principal impulsionador do crescimento nos primeiros três meses do ano foram commodities agrícolas. Com a supersafra, o setor agropecuário teve crescimento de 13,4% no período, o maior desde o quarto trimestre de 1996.

    A gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que grande parte do desempenho é resultado da colheita de soja, cuja produção deve crescer (17,5% no ano), milho (46,8%), arroz (13,5%) e fumo (28,4%).

    O primeiro é o principal produto agrícola exportado pelo país e o segundo, além das vendas diretas, é importante na cadeia da proteína animal, responsável por parcela relevante das exportações nacionais.

    Palis explicou que o elevado percentual de aumento pode ser também explicado pela baixa base de comparação, já que em 2016 a produção foi prejudicada por questões climáticas.

    Além das commodities agrícolas, petróleo e minério de ferro tiveram peso importante no crescimento, levando a indústria extrativa a registrar alta de 9,7% no trimestre, a segunda maior contribuição positiva.

    "O preço desses produtos no mercado internacional melhorou, o que levou as empresas a exportar mais", comentou a gerente do IBGE.

    De fato, a Petrobras trouxe em seu balanço do primeiro trimestre um aumento de 72% no saldo líquido de exportação de petróleo e derivados, que chegou a 489 mil barris por dia no período.

    O desempenho foi obtido com o aumento da produção do pré-sal, mas também reflete a fraqueza do mercado interno, já que as vendas de combustíveis pela empresa caíram 5% no período.
    Mesmo o desempenho da indústria de transformação, que caiu 0,9% sobre o trimestre anterior, só não foi pior pelo aumento da produção de veículos para exportação.

    Palis diz que o PIB segundo trimestre ainda sentirá os efeitos positivos da supersafra agrícola.

    Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong, acha pouco provável que o desempenho robusto das exportações líquidas se mantenha no mesmo patamar ao longo do ano, de forma a compensar a contribuição ainda negativa do ambiente doméstico.

    Para Serrano, a análise dos números reforça a percepção de que a recuperação da economia aparenta ter uma natureza bastante gradual e frágil.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024