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    Em cenário de retomada lenta, setor de calçados aposta em clássicos

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO (RS)

    11/06/2017 02h00

    Zanone Fraissat - 12.ago.2014/Folhapress
    Produção de calçados da Piccadilly, localizada em Igrejinha (RS)
    Produção de calçados da Piccadilly, localizada em Igrejinha (RS)

    A próxima leva de calçados que entrará nas prateleiras no segundo semestre será produto de uma conta complexa que a indústria calçadista tem de fazer para não perder dinheiro em um período de insegurança e recuperação lenta do varejo.

    Os lançamentos apresentados na mais recente edição do SICC (Salão Internacional do Couro e do Calçado), realizado em Gramado (RS), mostraram que pouca novidade, muitas opções similares de uma marca para outra e modelos clássicos são a espinha dorsal da produção.

    Rescaldos de coleções que deram certo na estação passada ou estão no varejo internacional viraram apostas dos fabricantes. São os casos de solado de corda, salto com aplicações de pedra, "flatform" (salto plataforma sem inclinação), meia-pata (sapato com plataforma na parte frontal), estética náutica e cores fluorescentes.

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    "Há um clima de recuperação, mas que demanda cuidado. Os investimentos em design e posicionamento de marca são altíssimos e não acontecem de uma hora para outra", afirma Heitor Klein, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados).

    De acordo com a entidade, as vendas para o mercado internacional no primeiro quadrimestre recuaram 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O faturamento só foi salvo graças à alta do dólar, que fez as receitas subirem 14,4%. Segundo o IBGE, o consumo interno de roupas e calçados aumentou 4,7% de janeiro a março ante igual período de 2016.

    A indústria considera os números tímidos e teme que o cenário piore diante dos efeitos da medida provisória que pôs fim à desoneração da folha de pagamentos.

    Klein afirma que a medida, cuja aplicação para o setor a Abicalçados tenta reverter em comissão mista do Senado, desencadeará demissões nas fábricas. Empresários ouvidos durante a feira estimam aumento de 7% no valor do calçado nacional caso o setor não seja poupado.

    O freio criativo também se deve, segundo o empresário Rodrigo Castilhos, dono da Urban Boards e estilista de marcas sob licença da Sugar Shoes, como Coca-Cola e Reserva, à insegurança de lojistas e ao comodismo dos empresários quanto ao design.

    "O lojista tem interesse no que é seguro, naquilo que virou moda e deve vender. Ao mesmo tempo, os fabricantes nem olham o que é diferente daquilo que já é sucesso no mercado", diz Castilhos. "É desestimulante."

    Ele subverteu essa lógica em sua marca própria, que se especializou em um modelo de sapato específico para bateristas e hoje investe em modelos de tênis para o nicho de praticantes de esportes radicais. As novidades fizeram ele vender o dobro de pares nesta edição da SICC.

    Outra marca que registrou crescimento nas vendas foi a Vicenza. De acordo com o gerente de marketing da empresa, Jean Coronetti, houve incremento de 50% no volume de negócios.

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    Do faturamento total da marca, 30% são fruto do lançamento de uma linha intermediária, nem "fashion" demais nem básica demais, que ampliou a gama de cores dos itens clássicos, mais fáceis de vender e com preço médio na faixa de R$ 289.

    Quem também diversificou foi a Kildare, uma das principais marcas de calçados masculinos do país, que apostou em uma coleção de tênis em parceria com o estilista Ronaldo Fraga.

    De acordo com a empresária Meline Moumdjian, da MoumHouse Creative Design Studio, que presta consultoria para marcas e as feiras Couromoda e a Francal –que acontece no mês que vem, em São Paulo–, o mercado calçadista ainda é de "pouca inovação e muito modismo".

    "Boa parte da indústria não quer pagar por grandes novidades porque não consegue dar volume à nova peça num cenário de retração. Muitos lojistas estão com encalhe de 30% a 35% do estoque comprado na estação passada", diz Moumdjian.

    E acrescenta: "Só vamos ver mudança real no mercado daqui a três ou quatro anos, quando projetos gestados hoje devem amadurecer".

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    O jornalista viajou a convite do Salão Internacional do Couro e do Calçado

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