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    Lava Jato

    Ajudo 'qualquer um' a vender carne, diz Temer sobre a JBS

    IGOR GIELOW
    ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

    20/06/2017 12h59 - Atualizado às 14h46

    O presidente Michel Temer afirmou que trabalhará para "qualquer um" que queira exportar carne brasileira para a Rússia. Ele respondia a uma pergunta de jornalistas sobre a sua missão de manter e ampliar o acesso do produto brasileiro no país, tendo em vista que ele está em guerra aberta com o maior frigorífico brasileiro, a JBS. A carne brasileira tem fatia de 60% do mercado russo.

    Os controladores da empresa fizeram acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, e acusam Temer de liderar uma organização criminosa. Um deles, o empresário Joesley Batista, gravou um encontro com Temer recheado de confissões de crime por parte do delator -o presidente nega ter cometido qualquer irregularidade, mas é investigado pelo Supremo Tribunal Federal no caso.

    Autoridades russas têm expressado preocupação com os efeitos da crise da JBS, na esteira da delação, e pelas investigações da Operação Carne Fraca sobre frigoríficos. Temer agradeceu a manutenção da compra de carne pela Rússia após as denúncias de manipulação por parte de alguns frigoríficos, o que chamou de "aquela coisa hipotética". Os russos têm interesse em aumentar seu cacife na mesa de negociação, para que o Brasil trouxe o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

    OPERAÇÃO CARNE FRACA
    PF deflagra ação em grandes frigoríficos

    Nesta quarta (21), Temer irá se encontrar com o presidente Vladimir Putin, com quem assinará alguns acordos para facilitar o comércio entre os dois países, que caiu 45% entre 2011 e 2016. A corrente comercial, que segundo a meta conjunta deveria ser de US$ 10 bilhões anuais, está em US$ 4,3 bilhões.

    A Rússia hoje representa cerca de 1% do mercado exportador brasileiro. Nesta terça (20), Temer falou em um seminário para empresários e investidores, vendendo o pacote de reformas no Congresso e controle da inflação, além da melhoria do ambiente macroeconômico como incentivo para novos negócios.

    Previu, com otimismo que parece infundado dada a dimensão da crise política, que o Congresso finalizará a reforma trabalhista até a semana que vem e aprovará em primeiro turno na Câmara a previdenciária antes do recesso de julho. "Tivemos certa resistência", mas "o país está nos trilhos", disse. Na plateia havia também alguns empresários brasileiros, como o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.

    Temer afirmou que irá propor a Putin a negociação de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Euroasiática, bloco econômico fomentado por Moscou que hoje é integrado por Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão. Fundado em 2014, buscou dar um norte econômico ao plano político do Kremlin de integrar os países centro-asiáticos e retirá-los da crescente esfera de influência chinesa.

    "Isso seria muito importante", disse, sem dar muitos detalhes. A iniciativa está ancorada na venda a investidores russos da nova legislação sobre a exploração do pré-sal, que retirou a obrigatoriedade de participação da Petrobras em todos os campos. A gigante russa Rosneft, que tem dificuldades em algumas operações no exterior como na Itália, já demonstrou interesse extraoficial na bacia brasileira.

    "Removemos barreira que dificultavam os investimentos", afirmou o presidente. Ele buscou minimizar a crise política, dizendo que "como colunistas já disseram", ela não estaria a contaminar a economia.

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    REFORMA TRABALHISTA

    Temer tentou minimizar a derrota da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, que ocorreu após ele passar a tarde dizendo a autoridades e empresários russos que o assunto estaria liquidado na semana que vem.

    "O que importa é o plenário. Não é surpreendente, você ganha numa comissão, perde noutra, mas vamos vence no plenário. Então nós vamos ganhar. O Brasil vai ganhar no plenário."

    O presidente alterou seu roteiro, atrasando uma ida para a final de uma competição de balé, só para fazer essa declaração. Seguiu a recomendação de sua equipe, aos poucos tomando conhecimento da repercussão da derrota em casa.

    Antes, Temer havia dito que a reforma seria "definitivamente aprovada" na semana que vem, antes do recesso parlamentar.

    Apesar dos panos quentes presidenciais, a notícia caiu como uma bomba na comitiva em Moscou. O avanço da reforma trabalhista, em estado bem mais avançado do que a previdenciária, era um trunfo a apresentar na reunião desta quarta (21) com o presidente Vladimir Putin —que pode não saber nada de processo legislativo brasileiro, mas sabe o que é uma derrota política.

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