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    operação carne fraca

    Consumo da peça do boi com abscesso divide especialistas

    FILIPE OLIVEIRA
    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    24/06/2017 02h00

    Pierre Duarte/Folhapress
    Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, na cidade de Mocóca, interior de São Paulo
    Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, na cidade de Mocóca, interior de São Paulo

    Os abscessos, formações purulentas ou fibrosas encontradas em carnes brasileiras e que motivaram o fechamento do mercado dos Estados Unidos para o produto resultam de falhas durante a aplicação de vacinas ou na limpeza da carne, segundo a avaliação de especialistas.

    Sua presença em uma parte do animal não significa que toda a carne dele esteja condenada. Porém não há consenso entre os especialistas ouvidos pela reportagem sobre segurança do consumo de peças que o apresentam.

    Pedro de Felício, veterinário e professor aposentado da Unicamp, afirma que, após a vacinação contra a febre aftosa, o animal pode reagir com uma inflamação na área da aplicação, que dá origem ao abscesso.

    Partes do animal onde eles se desenvolvem devem ser eliminadas no abate. Os abscessos não tornam o consumo da carne prejudicial à saúde, diz.

    Por outro lado, Angélica Pereira, professora da FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP), afirma que abscessos favorecem a formação de coágulos sanguíneos e proliferação de bactérias nas peças de carne que os possuem.

    Como consequência, há uma redução do prazo de validade e risco para saúde do consumidor. Se houver contaminação, ele pode ter febre, vômito e diarreia, de acordo com Pereira.

    Paula Spinha, professora de medicina veterinária da universidade Anhembi Morumbi, pondera que é possível que abscessos não sejam identificados mesmo durante inspeções adequadas.

    "Ele pode estar no interior de um grupo muscular. "Não se retalha toda a carne durante a inspeção."

    Apesar do aspecto ruim, eles não impedem o consumo do restante da carne, diz. "Eles são encapsulados pelo organismo do animal, e a bactéria não se dissemina."

    Emílio Salani, vice-presidente do Sindan (que reúne as indústrias produtoras de vacina), nega que a vacina tenha causado o problema. "Temos um sistema de controle rígido de todo o processo. O controle é feito pela indústria e pelo ministério", afirma.

    A Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne) afirma que está tomando "ações corretivas" para adequar os processos produtivos para retomar as exportações para o mercado dos Estados Unidos.

    ABSCESSO

    1. O abscesso é uma reação provocada na carne bovina durante a aplicação da vacina contra a febre aftosa

    2. O organismo do animal reage com uma irritação que pode ter aspecto purulento.

    3. A parte de carne danificada é retirada do animal no momento do abate ou durante a desossa

    4. A carne descartada pode pesar em torno de 600 gramas por boi

    5. A partir da década de 90, o setor fez campanhas para ensinar o pecuarista que o melhor local para aplicar a vacina é o pescoço do animal, uma região menos valorizada da carne, o que reduz o prejuízo do descarte

    6. O descarte costuma ser inspecionado, mas pode falhar. O problema é considerado técnico

    7. O abcesso é impróprio para consumo e precisa ser descartado. Não há dano algum para o restante da carne, segundo especialistas

    FEBRE AFTOSA

    O que é:
    Doença infecciosa aguda que causa febre, aparecimento de aftas, principalmente, na boca e nos pés de animais como bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos.

    O que causa:
    Um vírus que pode se espalhar rapidamente, caso as medidas de controle e erradicação não sejam adotadas. Está presente nas aftas e pode ser encontrado na saliva, no leite e nas fezes dos animais afetados

    Como se contrai:
    Os animais contraem o vírus no contato direto com outros animais infectados. Calçados, roupas, alimentos e mãos das pessoas que lidaram com animais doentes também podem transmitir o vírus

    Combate:
    No Brasil, a vacinação contra febre aftosa ocorre em todos os Estados, fora Santa Catarina, considerado, desde 2007, pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) livre de febre aftosa sem vacinação

    97,4% foi o índice de cobertura vacinal dos rebanhos brasileiros em 2010
    324.223.052 foram as doses de vacinas em bovinos e búfalos ao longo do ano

    Fonte: Ministério da Agricultura, Pedro Felício, professor aposentado da faculdade de engenharia de alimentos da Unicamp, e Pedro Camargo Neto, pecuarista e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira

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