• Mercado

    Monday, 20-May-2024 19:08:37 -03

    Pesquisas do IBGE mostram falhas e viram preocupação

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO
    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    25/06/2017 02h00

    Fabio Teixeira/Folhapress
    Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro
    Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro

    Os brasileiros analfabetos, com 14 anos ou mais, saltaram de 13,6 milhões para 20,7 milhões em apenas três meses no fim de 2015.

    As vendas do comércio de Santa Catarina se descolaram da anemia observada no restante do país e crescem com vigor desde o início deste ano.

    Os salários de domésticos, computados no principal índice de inflação do país, sobem com força, apesar da crise: 9% nos 12 meses até maio.

    Embora façam parte das estatísticas oficiais, esses dados não espelham a realidade.

    São distorções provocadas por mudanças nas pesquisas feitas pelo IBGE, que têm levado a instituição a ser foco de questionamentos frequentes por parte de economistas e pesquisadores.

    Segundo o instituto, é normal que, no processo de aprimoramento dos dados, surjam dúvidas e problemas que demandem novos ajustes.

    Um exemplo disso foi a disparada do analfabetismo, registrada erroneamente pela Pnad Contínua em 2015.

    Uma mudança no questionário da pesquisa induziu os entrevistadores a fazer uma pergunta de forma equivocada, segundo Cimar Azeredo, coordenador da área de Trabalho e Rendimento do IBGE.

    Com isso, muitos que antes entravam na categoria "ensino fundamental incompleto" passaram para o grupo "sem instrução ou com menos de um ano de estudo", que passou de 8,3% para 12,6% da população em idade ativa.

    O erro, percebido pela Folha, está sendo corrigido e uma revisão completa dessa série será apresentada em agosto, segundo o IBGE.

    "Está no contexto do aprimoramento das estatísticas. Agora, é melhor que não aconteça? Sim. Mudanças abruptas sempre podem levar a erros de interpretação", diz o economista Fernando de Holanda Barbosa, da FGV.

    Para Azeredo, o problema não é relevante porque o foco da pesquisa não é educação, mas mercado de trabalho.

    Economistas não questionam os solavancos decorrentes do processo de atualização das séries, mas a forma como o IBGE tem lidado com problemas e sugestões externas.

    Segundo eles, no caso de séries que refletem o dia a dia da economia, isso pode atrapalhar análises da conjuntura e até a execução de políticas públicas.

    "O IBGE fornece aos pesquisadores instrumentos para o check-up da economia. Sem ter cuidado, as análises ficam prejudicadas", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper.

    O embate mais ruidoso entre o órgão e analistas se deveu à adoção na virada do ano de nova metodologia para o cálculo das pesquisas de comércio e do setor de serviço.

    Segundo especialistas, a decisão do IBGE de não atualizar a série histórica pode ter exacerbado as vendas do varejo, que aumentaram fortemente em janeiro.

    Um modo de evitar o problema seria o IBGE rodar, por um período, duas pesquisas simultaneamente -uma com o método novo e outra com o antigo- para fazer comparações e suavizar a transição. O custo, porém, aumentaria.

    Claudio Crespo, diretor da instituição, afirma que a escolha pela mudança rápida foi técnica e não teve relação com limites orçamentários.

    Segundo ele, as alterações feitas não justificavam a opção mais custosa. "Não houve mudanças de classificação econômica ou de conceitos."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024