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    Mudança metodológica do IBGE superestima salário de doméstico

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO
    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    25/06/2017 02h00

    Fabio Teixeira/Folhapress
    Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro
    Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro

    Após um salto expressivo verificado em janeiro, que pode ter sido decorrente de atualização metodológica feita pelo IBGE, as vendas do varejo no Brasil entraram em uma trajetória de altos e baixos.

    Desde então, os atritos entre economistas e o instituto de estatística sobre o assunto perderam fôlego.

    Mas isso não significa que a novela esteja encerrada.

    Em relatório divulgado a clientes, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore apontou divergência nos dados do comércio em Santa Catarina, que desde fevereiro se descolaram do comportamento observado no resto do país.

    Segundo a consultoria do economista, as vendas em Santa Catarina estão 10% acima do nível de 2014, situação que não se repete em nenhum outro Estado. "Não posso dizer se existe um erro, mas, das duas uma, ou Santa Catarina volta para uma média parecida com a do Brasil ou o Brasil sobe e cresce como Santa Catarina, o que seria surpreendente", disse Pastore.

    O relatório ressalta que, embora o mercado de trabalho catarinense tenha se deteriorado menos do que no resto do país, os salários reais no Estado estão no mesmo nível de 2014 e o volume de crédito continua abaixo do patamar de três anos atrás.

    Para Bráulio Borges, embora ruídos sejam parte do aprimoramento das pesquisas, se eles se tornam frequentes, "podem gerar desconfiança sobre as estatísticas".

    O IBGE nega que a qualidade dos dados tenha sido prejudicada nas revisões metodológicas.

    Mas, após a divergência sobre pesquisas atualizadas recentemente, o instituto informou que vai alterar a maneira como informa os usuários das estatísticas sobre mudanças. Antes, as notas técnicas eram divulgadas 30 dias antes da revisão. Agora, o fará com 60 dias de antecedência.

    Segundo Claudio Crespo, diretor de pesquisas do instituto, ainda que as notas sejam a maneira mais formal de comunicação, o contato com economistas e acadêmicos é aberto. "Há telefonemas, seminários e reuniões para discussão de temas."

    INFLAÇÃO

    Nem sempre a comunicação prévia evita divergências.

    Uma mudança que tem gerado questionamentos, embora discutida anteriormente, é a forma como as variações dos salários de domésticos é incluída no IPCA, índice oficial de inflação.

    Antes, os rendimentos da categoria -que representa 3,5% da população ocupada- eram calculados mensalmente a partir da PME (Pesquisa Mensal de Emprego). Mas a Pnad Contínua, que substituiu a PME, é trimestral.

    O IBGE resolveu a questão passando a considerar na estimativa do IPCA que os salários dos domésticos oscilam todos os meses seguindo a variação do salário mínimo.

    O problema é que, em meio à crise e ao desemprego elevado, os rendimentos da categoria não subiram tanto assim, e a inflação pode estar sendo superestimada.

    A oscilação dos salários dos domésticos no IPCA foi de 9% nos 12 meses encerrados em maio, ante 4,93% captados por outro índice de preços calculado pela FGV.

    Segundo cálculos de Borges, da LCA Consultores, se essa divergência não existisse, o IPCA de 2016 teria subido 6,15% -e não os 6,29% divulgados oficialmente.

    A questão pode acabar reverberando no próprio cálculo do salário mínimo -baseado na inflação. Isso, por sua vez, tem efeito negativo sobre as contas do governo, que paga aposentadorias e benefícios indexados ao mínimo.

    O IBGE disse que estuda uma forma de voltar a calcular os salários dos domésticos.

    Segundo Crespo, com a mudança nas pesquisas, houve uma "limitação pragmática", uma vez que o dado mensal deixou de ser estimado. Mas ele afirma que, com a evolução da Pnad Contínua, prevista para os próximos anos, será possível voltar a produzir a informação necessária para o cálculo da inflação.

    "Estamos fazendo estudos sobre como captar essa informação", disse. (EF E MC)

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