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    Brasil vai contra a realidade ao insistir em juros altos, diz Lara Resende

    FLAVIA LIMA
    DE SÃO PAULO

    27/06/2017 22h06

    Adriano Vizoni - 29.abr.13/Folhapress
    SAO PAULO - SP - BRASIL, 29-04-2013, 20h00: ANDRE LARA RESENDE/PEDRO MALAN. O economista e escritor Andre Lara Resende durante o lancamento do selo de economia Portfolio Penguin (da Cia das Letras), realizado no auditorio do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO FSP***
    O economista André Lara Resende

    O Brasil está há mais de 20 anos, desde o Plano Real, com uma taxa de juros absurdamente alta e que causa perplexidade a todo mundo, mas economistas e gestores públicos continuam insistindo nisso, afirmou nesta terça-feira (27) o economista André Lara Resende, ex-diretor do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real.

    "É aquela coisa da loucura: vamos insistir porque o que deve estar errado é a realidade e não a teoria. Teoria, não, regra de bolso", disse, durante debate sobre o seu novo livro "Juros, Moeda e Ortodoxia", no Insper.

    No livro, o economista defende que os juros nominais podem ser sinalizadores importantes da inflação. E vai além ao dizer que, no Brasil, os juros altos podem contribuir para o desequilíbrio fiscal.

    A conclusão contraria a teoria dominante, segundo a qual a taxa Selic mais alta é o principal instrumento de combate ao descontrole de preços. A obra tem causado discussões acaloradas e atraído muitas críticas.

    Muitos economistas quando passam a fazer política pública ou política monetária, disse Lara Resende, param de pensar e passam a usar essa "regra de bolso."

    FORA DA CURVA - A taxa de juros no Brasil é alta

    Ao contar o caso de uma entrevista que deu recentemente, em que foi lembrado que os juros mais baixos foram os responsáveis pelo maior nível de inflação durante o governo de Dilma Rousseff, Lara Resende afirmou que as pessoas se agarram a "raciocínios simplistas como se milhares de outras coisas não acontecessem simultaneamente."

    Falando sobre os meses mais recentes, o economista ressaltou também que não é possível dizer que a atuação do Banco Central é a responsável por uma inflação mais baixa, como é repetido pela maior parte dos economistas.

    Juros, Moeda E Ortodoxia - Teorias Monetárias E Controvérsias Políticas
    André Lara Resende
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    "Já estávamos com recessão há dois anos e meio, quase 14% de desemprego, colapso no investimento, a economia completamente afundada e a inflação ainda fixa. E se diz que a inflação caiu agora porque o juro subiu", disse ele, com ar de perplexidade.

    Segundo Lara Resende, é comum assumir que a política do atual Banco Central derrubou a inflação. "Não estou dizendo que foi ou não. Mas isso não é passível de ser dito no olhômetro".

    As duras críticas não foram feitas apenas aos juros elevados e à visão ortodoxa, ou, como definiu, 'mainstream', da política monetária. Diante de um auditório lotado por estudantes, economistas e também por figuras emblemáticas no meio, como o banqueiro Fernão Bracher e o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, Lara Resende não poupou o que chamou de "matematização excessiva" da macroeconomia e o seu uso político.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Meta de inflação do Brasil é alta

    "Macroeconomia hoje é uma brincadeira perigosa porque as pessoas usam a formalização [matemática] como espécie de legitimidade a opções políticas e dizem: 'não venha discutir comigo porque você não entende'".
    E seguiu dizendo que "nada tem mais capacidade de impostura do que um quadro cheio de equações."

    Para Lara Resende, a barreira da matemática é usada para evitar discussões. "E quem sabe disso [não admite] e fala, 'não vou trair a classe'".

    Presentes ao debate, o presidente do Insper e colunista da Folha, Marcos Lisboa, e o economista e também colunista Samuel Pessôa apontaram alguns aspectos que sentiram falta no livro.

    Para Lisboa, a discussão seria mais empírica, ou seja, mais focada no que se aplica ao comportamento da taxa de juros e da inflação no caso específico, por exemplo, do Brasil.

    Na mesma linha, Pessôa disse que, do ponto de vista empírico, há suporte sólido do modelo econômico tradicional, e que, portanto, não há motivos para abandoná-lo.

    Lisboa encerrou o debate reforçando que, a despeito das discordâncias, todos eles concordam em um ponto: o grande nó da política econômica continua sendo a questão fiscal.

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