Rodrigo Paiva/Folhapress | ||
Loja das Havaianas na rua Oscar Freire, em São Paulo |
-
-
Mercado
Wednesday, 08-May-2024 00:30:36 -03Sucesso no exterior, Havaianas tenta superar crise dos irmãos Batista
JOANA CUNHA
DE SÃO PAULO09/07/2017 02h00
Uma das raras marcas brasileiras que conseguiram construir reconhecimento internacional, a Havaianas está à venda pela segunda vez em menos de dois anos.
Sem deformar nem soltar as tiras, como pregava seu slogan na década de 1970, a respeitada grife de chinelos tem aguentado o tranco de passar de mão em mão entre controladores que tiveram suas imagens devastadas na Lava Jato.
A Havaianas lidera pesquisas de lembrança de marca por consumidores, com mais de 50% de menções em países como Argentina, Austrália, Angola e Portugal. Mas especialistas afirmam que até ativos de sucesso podem sentir reflexos negativos se permanecerem por muito tempo sob o guarda-chuva de um grupo de reputação corroída.
Primeiro, o grupo Camargo Corrêa vendeu a Alpargatas —dona da marca de sandálias criada no início dos anos 60— para a J&F, holding de Joesley e Wesley Batista.
A transação, anunciada em novembro de 2015, foi uma tentativa da Camargo de dar alívio a um endividamento superior a R$ 20 bilhões nos negócios do conglomerado, que vinham sofrendo os efeitos da crise nas atividades de construção e produção de cimento, além de ter assinado um acordo de leniência com Ministério Público se comprometendo a devolver quase R$ 1 bilhão após admitir participação nas fraudes investigadas pela Polícia Federal.
Foi nesse cenário que a J&F fez uma oferta de R$ 2,67 bilhões para adquirir 44% do capital da Alpargatas.
A empresa saiu ilesa da primeira venda e permanece um ativo cobiçado, mas a pressa pode influenciar o valor da nova transação, estimam especialistas.
PASSO A PASSO - Havaianas resiste a crises de controladores
RESISTÊNCIA
A notícia da delação dos irmãos Batista veio à tona em meados de maio. No fim de junho, a J&F e a Cambuhy Investimentos (da família Moreira Salles, acionistas do Itaú Unibanco) anunciaram que já estão em negociações.
A Alpargatas tem resistido às intempéries da economia com indicadores financeiros satisfatórios, segundo o professor de finanças da FIA Marcos Piellusch. Desde que foi adquirida, seu valor de mercado subiu de R$ 4,5 bilhões para R$ 6 bilhões.
"Isso mostra que tem investidores querendo assumir o controle da empresa, que veem nela uma alternativa."
No entanto, como a J&F tem certa urgência em vender o ativo para fazer caixa, a tendência é que o valor seja mais favorável para o comprador, segundo Cesar Caselani, professor de finanças da FGV.
"Se tivessem vendido a Alpargatas antes da delação, seria diferente. Agora, é natural que o comprador tenha algum poder de barganha e a J&F tenha que dar um desconto", ressalva Caselani.
A Alpargatas desistiu também de levar adiante o plano anunciado em abril de migrar para o Novo Mercado da Bolsa, nível mais elevado de governança corporativa.
O especialista em marca Jaime Troiano, diretor da TroianoBranding, afirma que sair do âmbito da J&F neste momento e, "se possível, cair nas mãos de empresas honradas", será benéfico para as marcas que atuam no varejo, "embora não seja evidente para o consumidor em geral a relação entre a Havaianas e nomes como JBS e Camargo".
Após a delação, as marcas ligadas aos Batista se tornaram alvo de campanhas de boicote de consumidores. Os irmãos querem obter R$ 15 bilhões nos próximos meses, vendendo negócios do grupo para abater dívida de R$ 70 bilhões e lidar com restrições de crédito que enfrentam. Uma parte desse recurso viria da venda de ativos da JBS, principal atividade dos irmãos.
Procurada, a Alpargatas não quis se manifestar.
Sandálias e outros produtos de Havaianas - Em milhões de pares ou peças, em 2016
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -