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    Desembolsos do BNDES caem 16,6% no primeiro semestre deste ano

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    MARIANA CARNEIRO
    LAIS ALEGRETTI
    DE BRASÍLIA

    18/07/2017 15h33 - Atualizado às 21h52

    Rafael Andrade/Folhapress
    BNDES deixou de emprestar R$ 25 bilhões em 2016 em infraestrutura
    Prédio do BNDES, no Rio

    Os desembolsos do BNDES, indicador que mede o volume de recursos que o banco efetivamente emprestou, ficaram em R$ 33,4 bilhões no primeiro semestre deste ano, uma queda de 16,6% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o volume foi de R$ 40,2 bilhões.

    O banco registrou quedas dos desembolsos em três das quatros áreas econômicas cobertas. A exceção ficou por conta da agropecuária, que recebeu R$ 6,8 bilhões de janeiro a junho deste ano, o que representou alta de 3,4% em relação ao apurado no primeiro semestre de 2016.

    A indústria, que somou R$ 6,9 bilhões, segue em queda, de 41%, no volume de reembolsos nos seis primeiros meses deste ano. O setor de infraestrutura teve recuo de 6,4%, ao atingir R$ 12,1 bilhões. Comércio e serviços, o setor que mais emprega no país, registrou queda de 12,8% no primeiro semestre, quando foram desembolsados pelo banco R$ 7,5 bilhões.

    O desembolso é a última ponta do processo de tomada de crédito com o BNDES. A primeira fase, de consultas, que é quando os empresários enviam ao banco suas propostas de pedidos de empréstimos, é tido como um termômetro do apetite do empresariado por investimentos.

    Também nesse indicador houve queda, de 14,6% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano passado —foram R$ 56,3 bilhões em consulta na primeira metade de 2016 contra R$ 48,1 bilhões. No ano passado todo, o volume de consultas foi de R$ 110 bilhões.

    Houve queda também, de 12,6%, nos enquadramentos, que é quando a empresa preenche os pré-requisitos do banco para receber empréstimos daquele tipo de programa. Houve um total de R$ 43,3 bilhões em enquadramentos no primeiro semestre, contra R$ 49,8 bilhões.

    As aprovações do banco, o penúltimo estágio antes da concessão do empréstimos propriamente dita, caíram 26,1%, ao atingirem R$ 32,1 bilhões, contra R$ 43,5 bilhões dos seis primeiros meses de 2016.

    RETOMADA

    Os sinais de retomada da economia ainda não surgiram de forma expressiva no balanço do banco.

    No primeiro trimestre deste ano, a então presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques comemorava o aumento de 25% nas consultas para a área de infraestrutura.

    No fim do primeiro semestre, contudo, esse indicador registrou queda de 11%.

    Outro dado destacado pelo banco à época, era o aumento das aprovações da linha Finame, que financia máquinas e equipamentos e haviam subido 32% no primeiro trimestre.

    Ao final dos seis primeiros meses deste ano, o indicador teve aumento de 41,7%.

    O Finame é principalmente voltado ao setor agrícola, um dos poucos que teve bom desempenho no início do ano.

    Segundo o superintendente da área de Planejamento e Pesquisa, Fábio Giambiagi, o desempenho do BNDES seguirá parecido com o da economia, que experimentou crescimento no primeiro trimestre do ano, tendo estagnado em seguida. A expectativa de que a melhora deva ocorrer somente no final do ano ou no ano que vem.

    Giambiagi disse que a crise política teve efeito na economia, mas ainda não nos dados de desempenho do banco, já que do pedido do empréstimo até o desembolso final, há um período de quase dois anos. Ele não explicou quando a crise política atual terá impacto nos dados do banco.

    "Sabemos todos que há elementos ainda presentes de fragilidade. Depois de um primeiro trimestre muito bom [para o PIB], vamos ter um segundo trimestre que pode ser positivo, mas certamente não será tão bom quanto o primeiro. Tivemos no segundo trimestre uma crise política aguda como todos sabemos. Há elementos positivos para um terceiro trimestre com dinâmica boa", disse ele citando a melhora da inflação e a queda dos juros.

    Giambiagi reafirmou, contudo, que espera que o banco feche o ano com desembolsos de R$ 78 bilhões– ou seja, ainda em queda em relação aos R$ 88,3 bilhões de 2016.

    O superintendente disse ainda que há elementos de "otimismo cauteloso" com os rumos da economia nos próximos anos, mas destacou as "incertezas naturais" com relação aos rumos da economia brasileira de 2019 em diante, "em função do resultado do pleito eleitoral".

    Giambiagi disse que os últimos dois anos da economia representaram "o fundo do poço" e que agora parece que país chegou a um ponto de inflexão.

    INDÚSTRIA

    A indústria segue em dificuldade. As consultas caíram 49% no primeiro semestre. Os enquadramentos, 55%. Já as aprovações de crédito recuaram 61% e os desembolsos, 42%.

    Ou seja, os desembolsos caem menos do que os indicadores de fases anteriores, o que mostra que dificilmente haverá melhora na concessão de empréstimos para o setor. Giambiagi explicou que os desembolsos da indústria retomara a níveis dos anos 1990.

    MPMEs

    O banco tem destacado o aumento da concessão de crédito para micro, pequenas e médias empresas, num esforço para se descolar da pecha de "banco da grande indústria" que vigorou durante muito tempo.

    Os empréstimos para micro, pequenas e médias representaram 40% do total desembolsado pelo banco no primeiro semestre.

    Seria o melhor resultado nos últimos seis anos. O percentual, contudo, embute uma inconsistência estatística.

    Desde o início do ano que o banco passou a considerar micro, pequenas e médias, empresas com faturamento até R$ 300 milhões. Em 2016, esse corte era em R$ 90 milhões.

    Ou seja, o percentual cresceu porque aumentou também a fatia de empresas consideradas deste porte.

    CARTÃO BNDES

    Segundo o superintendente da área de Operações Indiretas do banco, Marcelo Porteiro, houve dificuldades de concessão de crédito via "cartão BNDES", um importante produto do banco, voltado para micro, pequenas e médias empresas.

    Segundo ele, os bancos privados que repassam os recursos do BNDES têm registrado aumento da inadimplência e têm restringido o acesso.

    Houve queda de 58% nos desembolsos do cartão no primeiro semestre deste ano.

    O cartão funciona como um cartão de crédito convencional voltado para microempreendedores, com recursos do BNDES, liberados por agentes financeiros públicos e privados. O risco fica com os bancos que emitem os cartões.

    O BNDES está buscando uma forma de ajustar a situação junto aos bancos privados. A ideia é permitir que o banco aumente seu spread (ganho) com o cartão em troca de uma meta para desembolsos na modalidade.

    PRESSÃO

    Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento) e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, divulgaram neste terça (18) nota conjunta, também assinada por Rabello de Castro, em que endossam argumentos favoráveis à criação da TLP (taxa de longo prazo), que vai corrigir os empréstimos feitos pelo banco.

    O documento foi divulgado após reunião da equipe econômica no Ministério da Fazenda, marcada após Rabello de Castro levantar críticas à proposta, sob o argumento de que a TLP seria ser mais volátil do que a atual taxa de juros do BNDES, a TJLP.

    A divergência provocou a demissão de dois diretores do banco, que participaram da elaboração da nova taxa.

    Na semana passada, Rabello de Castro recuou das críticas. Ainda assim, entre setores empresariais, funcionários do banco e parlamentares que resistem à mudança, ele ainda é visto como um possível aliado.

    Presidente da comissão que analisa a MP 777, que criou a TLP, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ligou para Rabello de Castro e pretende se encontrar o executivo na próxima semana. Está prevista ainda a mobilização de setores empresariais em audiência pública na próxima segunda (24), na sede do banco.

    Embora dê transparência e reduza os subsídios a grandes empresas que acessam o banco, a nova taxa aumenta o custo dos empréstimos do BNDES, o que desagrada a representantes empresariais como a Fiesp e a Abimaq.

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