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    Premiado na França, queijo mineiro tem vida clandestina no resto do país

    DANIEL CAMARGOS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELO HORIZONTE

    23/07/2017 02h00

    Diego Padgurschi /Folhapress
    Queijo mineiro Senzala, que recebeu prêmio na França
    Queijo mineiro Senzala, que recebeu prêmio na França

    Para chegar a Tours, onde obteve o primeiro lugar no Salão Internacional do Queijo da França, o queijo senzala, produzido em Sacramento (MG), teve que viajar clandestinamente na bagagem da produtora rural Marly Leite.

    "Não existe lei que permita a maturação que utilizo", explica a produtora.

    Apesar da medalha Super Ouro, prêmio máximo do salão realizado no mês passado, Leite trava uma batalha para vender o queijo produzido na fazenda Caxambu legalmente fora das divisas de Minas Gerais.

    As regras não permitem que queijos que usam o mofo branco, como o senzala, recebam o selo que autoriza a livre circulação pelo país. Vendê-los fora de Minas pode gerar multa pesada.

    Por isso, duas semanas depois de Leite regressar ao país com a premiação conquistada na Europa, ela recebeu a visita de uma fiscal do Instituto Mineiro de Agropecuária.

    Segundo o diretor-geral do IMA, Marcílio de Souza Magalhães, a intenção da visita era avaliar se a queijaria está em condições de ser certificada pelo Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, o que autorizaria a venda em todo país.

    DESTRUIR OS QUEIJOS

    "A fiscal disse para minha filha que os queijos não poderiam estar lá", diz Leite. "Falou que, se voltasse e encontrasse os queijos, iria destruí-los", completa. "Ela está certa. O problema é que não há lei que nos respalde."

    O diretor do IMA explica que queijos que usam mofo branco na maturação estão sendo analisados. "Estamos numa luta para alforriar todos os queijos", afirma.

    Além de Minas, o senzala pode ser comprado em outros Estados. Em São Paulo, o quilo sai por R$ 89,90.

    Os produtores que vendem o queijo fora de Minas sem o registro no Ministério da Agricultura estão sujeitos a multas que variam de R$ 5.000 a R$ 500 mil. O produto também pode ser apreendido e destruído pelos fiscais, e a produção, interditada.

    Procurado, o ministério não soube dizer quantos produtores foram punidos nos últimos anos.

    De acordo com o diretor do IMA, é importante que se façam estudos sobre os queijos, já que, quando feitos de maneira inadequada, podem transmitir doenças graves, como brucelose, tuberculose e botulismo.

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