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    Opinião

    Netflix quer que você durma menos e assista mais

    TIM BRADSHAW SHANNON BOND
    DO "FINANCIAL TIMES"

    24/07/2017 02h00

    Mike Blake/Reuters
    Visitantes de feira de quadrinhos em San Diego, nos EUA, passam por banner da Netflix
    Visitantes de feira de quadrinhos em San Diego, nos EUA, passam por banner da Netflix

    O ano de 2007 foi especial para a tecnologia. Além da chegada do iPhone, a Netflix, então conhecida por alugar filmes por correio, lançou o streaming de filmes.

    Investidores se preocuparam com o custo planejado de US$ 40 milhões para o primeiro ano. Uma década depois, o desempenho do preço das ações da Netflix excedeu os 700% de alta da Apple desde 2007. A valorização das ações do grupo ultrapassou os 6.000% no período.

    Na semana passada, viu essa alta avançar mais 15%, depois que os resultados no segundo trimestre demonstraram que o total de assinantes atingira 104 milhões.

    A Netflix descreveu o marco como "um bom começo".

    Recente declaração da Netflix estabelece clara distinção entre a cultura da empresa e a da Apple. "A lenda de Steve Jobs era a de que sua microgestão fez do iPhone um ótimo produto", diz a Netflix. "Não emulamos modelos que funcionam de cima para baixo porque acreditamos que somos mais efetivos e inovadores quando nossos funcionários tomam decisões."

    As duas abordagens se provaram bem-sucedidas em seus campos, e compará-las é apropriado agora que a Apple decidiu acompanhar a Netflix, bem como a Amazon e o YouTube, ao ramo da criação de conteúdo original.

    A Apple recentemente contratou dois executivos da Sony Pictures, responsáveis por séries como "Breaking Bad" e "The Crown". Snap e Facebook seguem rota semelhante.

    Como apontou a Netflix, "criar uma rede de TV agora é tão fácil quanto criar um app".

    A questão que ela enfrenta é determinar se sua principal concorrência virá das tradicionais operadoras de TV a cabo e via satélite do planeta ou de companhias como Apple, Google e Amazon, que também produzem muitos dos aparelhos que os assinantes da Netflix usam para assistir a séries como "House of Cards" e "Glow".

    Questionado por um analista sobre como a Netflix pretendia manter sua liderança, Reed Hastings, presidente da empresa, respondeu: "Queremos que as pessoas assistam mais e durmam menos".

    Para isso, é preciso mais conteúdo. Se os investidores ficaram ansiosos com o custo uma década atrás, agora estão mais relaxados com seu investimento de US$ 6 bilhões em conteúdo só neste ano.

    O Morgan Stanley calcula que os US$ 11 bilhões em ativos líquidos de conteúdo controlados pela Netflix superem o valor contábil líquido dos ativos de conteúdo combinados de empresas de TV como a Viacom, Discovery, AMC Networks e Scripps.

    ORGULHO

    O custo inicial de criação de filmes e séries, especialmente conteúdo original exclusivo como "Stranger Things", resultará em fluxo de caixa negativo de US$ 2,5 bilhões pela empresa neste ano. Hastings, no entanto, vê esses custos como motivo de orgulho.

    "A ironia é que, quanto mais rápido cresce nosso conteúdo original exclusivo, maior será nosso fluxo de caixa negativo. Assim, o fluxo de caixa negativo será indicador de enorme sucesso."

    No entanto, esse sucesso só durará enquanto a Netflix continuar produzindo séries e filmes populares. "O histórico de sucessos nos últimos anos é excelente", diz Mike Vorhaus, da Magid Advisors, consultoria de mídia.

    "Não vi nenhuma empresa que consiga manter isso para sempre."

    CANAIS

    Manter a liderança inicial vai se tornar desafiador para a Netflix, que depende de mercados internacionais para a maior parte de seu crescimento. No fim de 2016, a Amazon expandiu seu serviço Prime Video para mais de 200 países -inclusive o Brasil. Nos EUA, seus rivais no vídeo on-line também estão criando canais de TV, como o Playstation Vue, da Sony, a Sling TV, da Dish, o Hulu e o YouTube.

    A Netflix resiste a adicionar canais como esses, a despeito de preocupações de que esteja atingindo o ponto de saturação com sua atual oferta, no mercado dos EUA.

    A Netflix argumentou que, embora a concorrência seja "intensa", o mercado é "vasto e diversificado". Dan Cryan, analista da TV da IHS Markit, concorda em que a batalha entre Netflix, Amazon e outras empresas de tecnologia pelo tempo que os consumidores dedicam ao entretenimento não precisa ser um jogo do qual só um dos concorrentes sairá vencedor, pois os acervos de conteúdo que elas oferecem são diferentes.

    No entanto, acrescenta Cryan, a Netflix está correndo contra rivais com mais recursos, como a Amazon, para se estabelecer em todo o mundo, o que inclui encomendar o conteúdo local requerido para conquistar as audiências de cada região.

    "Se você está tentando ampliar sua marca, provavelmente terá de combater em todos os territórios, ou estará sempre tentando recuperar o atraso", diz. "E, se você demorar demais, recuperar o atraso pode ser muito difícil."

    Dez anos depois de a Netflix começar a deixar de lado a locação de DVDs, analistas ainda veem imensas oportunidades no crescimento futuro do streaming de TV e filmes. A RBC Capital Markets compara o cerca de 1 bilhão de assinantes de TV paga existentes no planeta hoje aos 150 milhões de pessoas que pagam por TV via internet.

    Em "uma dramática e secular tendência de abandono da TV linear", diz a RBC, "esses números podem em breve se encontrar no meio do caminho".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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