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    Produção industrial patina e encerra semestre errático

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    02/08/2017 02h00

    A indústria confirmou no encerramento do primeiro semestre um comportamento errático, intercalando altas e baixas e com dificuldade para encontrar caminho sustentável de recuperação.

    A produção industrial do país ficou estável em junho, após altas em abril (1,3%) e maio (1,2%), divulgou o IBGE nesta terça-feira (1º).

    Os aumentos se concentraram em setores que se beneficiam da exportação, como produtos alimentícios (4,5%), indústria extrativa (1,3%) e papel e celulose (1,2%).

    Produção industrial - Variação em %

    Os bens de capital, que são as máquinas utilizadas nas linhas de produção e o principal termômetro de investimentos, tiveram aumento na comparação de maio e junho, de 2%. Segundo analistas ouvidos pela Folha, porém, a boa notícia vem em termos relativos, já que são principalmente equipamentos agrícolas, com foco na exportação.

    Setores ligados à demanda interna, como derivados de petróleo (-1,7%), veículos automotores (-3,9%) e produtos de informática (-4,9%), permanecem com desempenho fraco. O cenário atual do mercado interno ainda não enseja mudança de patamar da produção da indústria, que atualmente está 20% menor do que a registrada em meados de 2013.

    Na comparação anual, de junho com igual período de 2016, a indústria teve ligeira alta, de 0,5%, superando a expectativa de analistas, que previam queda de 0,3%.

    A produção continua a oscilar entre os meses. Janeiro (1,6%), março (1,7%) e maio (4,1%) foram de altas, enquanto fevereiro (-0,6%) e abril (-4,4%) foram de quedas. Junho completa a segunda alta seguida, mas a variação foi tímida e concentrada em 13 dos 24 setores.

    Segundo o economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Marcelo Souza Azevedo, a indústria se encontra no "momento de transição", em busca do patamar ideal de produção.

    Como os últimos três anos foram de crise aguda, espalhada por diversos segmentos, a recuperação tende a ser lenta e pouco disseminada. "Não conseguimos ainda ver resultado positivo de forma generalizada para falarmos em recuperação", disse.

    Ele afirma que as indústrias que não têm foco em exportação –e, portanto, não estão aproveitando o momento de dólar alto– estão usando o período para se recuperar financeiramente e evitar riscos desnecessários, como o de ficar com estoques altos.

    Nesse sentido, o movimento de redução da taxa básica de juros, a Selic, pode ter efeito positivo no médio prazo, diz. No primeiro semestre deste ano, o faturamento da indústria caiu 5,9% e o emprego recuou 3,9%, de acordo com pesquisa da CNI.

    "Após longo período de demissões, queda na produção e no faturamento, a indústria está com as finanças muito debilitadas. O momento é de preparação para uma recuperação lá na frente."

    REFORMAS

    Relatório do Itaú BBA diz que o resultado positivo de junho sugere que o impacto da incerteza política ainda é limitado e destaca a necessidade de se avançarem as reformas econômicas para uma retomada consistente do setor.

    O Bradesco ressalta que o resultado indica a estabilização da produção, sem força, contudo, para mudar as previsões de queda para o PIB do segundo semestre.

    No acumulado em 12 meses até junho, a indústria amarga perda de 1,9% na produção. A queda, embora ruim, tem sido menor a cada mês, o que indicaria que o pior já passou, segundo o economista Everton Carneiro, da RC Consultores. Em março do ano, por exemplo, a retração havia sido de 10%.

    "Eu diria que há um movimento de recuperação porque claramente o pior já passou. No entanto, o ritmo é lento e devemos levar de 10 a 15 anos para recuperar a produção que tínhamos em 2013."

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