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    BNDES é o principal alvo do governo para redução de subsídios

    MARIANA CARNEIRO
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    06/08/2017 02h00

    Sergio Moraes - 10.ago.2015/Reuters
    The headquarters of Brazilian Development Bank (BNDES) is pictured with the headquarters of oil company Petrobras reflected on its facade in downtown Rio de Janeiro, Brazil, August 10, 2015. To match BRAZIL-ECONOMY/INVESTMENTS REUTERS/Sergio Moraes/Files ORG XMIT: SMS101
    A sede do BNDES, no centro do Rio

    O Ministério da Fazenda deu início a um processo de revisão dos subsídios, como parte dos esforços de diminuir as despesas públicas.

    Após reduzir os gastos com o Fies (programa de financiamento ao ensino superior) e com o Minha Casa, Minha Vida, o alvo atual são os subsídios no crédito do BNDES.

    De cada R$ 10 de subsídios concedidos a empresas desde 2003, R$ 4,4 foram em operações do banco. Os outros R$ 5,6 foram em benefícios concedidos, por exemplo, a exportadores e a empresas que tomam recursos de fundos de desenvolvimento regionais.

    A proposta da equipe econômica é extinguir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), atualmente em 7,5% ao ano. A ideia é que ela seja gradualmente substituída pela TLP (Taxa de Longo Prazo (TLP), que seguirá os juros de mercado e convergirá para o custo de captação do Tesouro, hoje de 10,25% ao ano, eliminando os subsídios.

    Maior parte dos subsídios não estão explícitos no Orçamento federal, ou seja, são concedidos sem análise do Congresso Nacional - Em R$ bilhões

    Aumento de subsídios não levou a um aumento dos empregos - Geração líquida de vagas no país, em mil

    A proposta é alvo de polêmica com empresários. O principal argumento é que a mudança fará com que os juros para investir ficarão mais elevados, o que desestimulará o setor privado em um momento em que a atividade já está enfraquecida.

    O diretor de competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz, diz que o principal problema é que os juros no Brasil são elevados, o que faz com que os subsídios sejam indispensáveis. "Vale mais a pena investir no mercado financeiro do que na produção. A questão é que, sem investimento, não há empregos."

    Uma das críticas de economistas aos subsídios é que, embora tenha recebido recursos via subsídios e desonerações de impostos, outra faceta da "bolsa empresário", o setor produtivo não ampliou investimentos ou empregos.

    A partir de 2011, justamente quando os subsídios aceleram, a geração líquida de vagas formais de trabalho recuou. Estudos de economistas do Insper, como Sergio Lazzarini e Marco Bonomo, demonstraram ainda que os empréstimos feitos pelo banco não tiveram o efeito desejado sobre os investimentos. A taxa de investimento do país caiu de 21% do PIB em 2010 para 16,4% no ano passado.

    CONTEXTO RUIM

    Roriz diz, porém, que o juro não é o único fator determinante para que o empresário tome a decisão de investir.

    "Hoje temos a TJLP e, ainda assim, não temos investimentos, devido a todo esse contexto desfavorável. O governo deveria se preocupar em reduzir os seus próprios gastos. Enquanto as empresas demitem, ele concede aumentos ao funcionalismo."

    Sérgio Gobetti, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e integrante da equipe econômica de 2010 e 2013, diz que a reversão desses subsídios leva tempo, pois na maior parte dos casos se referem a empréstimos já concedidos. No caso do BNDES, o Tesouro prevê que o retorno dos empréstimos repassados ao banco leve décadas para ser devolvido.

    "O esforço do governo é fazer com que todos esses subsídios se explicitem no Orçamento, o que é correto, dá transparência", diz. "O problema é que, como parte de um Orçamento cada vez mais apertado pelo teto de gastos, na prática, o efeito será o de restringir esses subsídios."

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