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    Serviço de correio atende áreas sem CEP e já tem 12 parceiros no Rio

    ANNA RANGEL
    DE SÃO PAULO

    20/08/2017 02h00

    Zo Guimaraes/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 09-08-2017, O grupo Carteiro Amigo entrega cartas para moradores de comunidades do Rio onde os Correios não chegam. Na foto os sócios Sila e Pedrinho com a Rocinha ao fundo. Rocinha, Rio de Janeiro. (Foto: Zo Guimaraes/Folhapress, FSP-MERCADO) ***EXCLUSIVO FOLHA****
    Dois dos sócios do Carteiro Amigo, Sila Vieira (à esq.) e Carlos Pedro, na Rocinha,

    A ausência de carteiros para levar a correspondência até o alto dos morros do Rio, onde não há ruas nem CEPs formais, virou uma oportunidade de negócio para Sila Vieira, 47, Carlos Pedro da Silva, 47 e Elaine Ramos, 44.

    A ideia surgiu em 1999, quando os sócios, então garis da prefeitura, rodaram favelas como recenseadores do IBGE.

    Eles perceberam não haver entrega de cartas de porta em porta em regiões consideradas de risco e que estão fora dos mapas oficiais.

    Os moradores dessas comunidades tinham de ir à associação de moradores para pegar correspondências.

    Uma pesquisa informal de mercado, na base do boca a boca, mostrou que havia demanda para um serviço barato que levasse as cartas diretamente às casas.

    A ideia virou o Carteiro Amigo, hoje com 12 franquias em locais como a Rocinha, na zona sul, o Complexo de Manguinhos e o morro dos Macacos, na região norte.

    "Como crescemos na Rocinha, conhecíamos bem o problema e queríamos solucioná-lo", afirma Vieira.

    O empresário diz que nunca teve problemas com o crime organizado, que domina algumas comunidades.

    O Carteiro Amigo é um bom exemplo da importância de conhecer bem a área de atuação e o público-alvo para obter sucesso em operações de impacto social, diz Rafael Camelo, do instituto de pesquisas Plano CDE, voltado às classes de baixa renda.

    "Esse consumidor precisa ter confiança na empresa, conhecer o dono e ver que ele se relaciona mesmo com a comunidade. Não é só vender o serviço e pronto", afirma.

    Para mapear as vielas do morro, além de usar as referências dos próprios moradores, os sócios se inspiraram nos mapas dos agentes de saúde do governo e dos recenseadores. Levaram um ano e meio para organizar as direções, até hoje em papel.

    No começo, enfrentaram a desconfiança dos moradores, que temiam pagar e não receber nada. Hoje o serviço, que custa R$ 15 por mês, atende 8.000 moradias.

    FINANCIAMENTO

    A empresa nasceu sem investimento inicial -um único empréstimo foi feito, para pagar a linha de telefone.

    "Não tínhamos o suficiente nem para o aluguel, então negociamos com o dono do imóvel uma locação de um mês, para pagar depois. A pressão era grande para dar certo", diz Vieira.

    A captação de quantias mais baixas de dinheiro é uma das dificuldades enfrentadas por empreendedores do setor, segundo Maure Pessanha, diretora da Artemísia, aceleradora de impacto social.

    "É caro pegar dinheiro em bancos, e investidores não fazem aportes mais baixos. É mais fácil obter R$ 3 milhões mais adiante do que R$ 500 mil para começar", afirma.

    Quem quer se tornar atraente para o investidor deve, além de medir lucro, mensurar o impacto social da empresa. Uma saída é fazer pesquisas, comparando clientes e não clientes do serviço, antes de buscar financiamento.

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