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    Fim de vantagem demográfica exige mudanças urgentes na América Latina

    DA BLOOMBERG

    20/08/2017 02h00

    Mariana Bazo/Reuters
    Aposentados peruanos fazem reunião na cidade de Lima para discutir melhorias no sistema de aposentadorias do país
    Aposentados peruanos fazem reunião na cidade de Lima para discutir melhorias no sistema de aposentadorias do país

    A América Latina precisa de mudanças urgentes em suas políticas públicas a fim de reconduzir o nível de crescimento ao patamar que ocupava nos anos de preços altos para as commodities.

    O tempo está se esgotando, pois a vantagem demográfica da região (período em que o número de trabalhadores ativos supera o de aposentados) chegará a um pico em 2020, segundo o Banco de Desenvolvimento Interamericano.

    Isso pressiona os governos, pelos dois lados. Eles se veem forçados a cobrir os custos cada vez mais altos de previdência e saúde dos idosos, ao mesmo tempo em que sua população em idade de trabalho começa a cair, em termos proporcionais.

    Mesmo que novas políticas fossem adotadas hoje, seriam precisos anos para que a infraestrutura necessária fosse construída, e uma geração seria necessária para educar a força de trabalho.

    A urgência da mudança de políticas era mais fácil de ser ignorada durante a bonança das commodities.

    Naqueles anos, as exportações de soja, petróleo e minério de ferro, principalmente para alimentar a China, levaram a América Latina a crescer mais que o dobro da média dos países desenvolvidos.

    POUCO INVESTIMENTO

    Um dos problemas da região é que, desde a crise financeira mundial, ela vem dependendo do consumo e de gastos governamentais para crescer, afirmou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

    O investimento privado, necessário para sustentar o crescimento em longo prazo, ficou consistentemente para trás do de outros emergentes.

    O desafio de atrair investimentos explica, em larga medida, por que o Brasil está enfrentando dificuldades para sair da pior recessão de sua história e por que a recuperação Argentina depois de um período de contração será menor do que o governo esperava originalmente.

    "Não investimos o suficiente, não poupamos o suficiente, não comercializamos o suficiente, não educamos o suficiente. O que se pode esperar? Não vamos crescer o suficiente", disse Alberto Ramos, economista-chefe do banco Goldman Sachs para a América Latina.

    "Não é um quebra-cabeças econômico. Sabemos o que precisa ser feito, mas não estou otimista. Se não for, a região continuará a perder, década após década, e continuará a ficar para trás."

    O FMI (Fundo Monetário Internacional) também está lançando alertas.

    O crescimento da renda per capita latino-americana será de em média 1,6% ao ano em médio prazo, o mesmo ritmo registrado nos últimos 25 anos, e bem abaixo da média de 2,6% estimada para os países de desenvolvimento.

    Segundo estudo do FMI, "as perspectivas de longo prazo para o crescimento da América Latina parecem mais sombrias agora do que eram há alguns anos, no pico do boom de preços das commodities".

    "O que preocupa é que os números do crescimento são essencialmente iguais aos dos países avançados", escreveu Alejandro Werner, diretor do FMI para o hemisfério Ocidental, no relatório.

    Shelly Shetty, diretora de títulos de dívida pública latino-americana na agência de avaliação de risco Fitch Ratings, diz que o baixo crescimento da região também deriva de ambientes empresariais difíceis em alguns países, abertura limitada ao comércio internacional, melhora lenta na produtividade e demora generalizada nas reformas estruturais.

    BOA NOTÍCIA

    A boa notícia, de acordo com ela, é que alguns países conseguiram avanços em termos de estabilidade macroeconômica e agora, enfim, há nações que começam a responder aos alertas.

    "Agora que as perspectivas de crescimento diminuíram em diversos dos países, estamos vendo os governos cada vez mais concentrados em estimular o crescimento potencial", disse Shetty.

    "Reformas estruturais que não estavam ganhando empuxo algum nos anos do superciclo das commodities estão enfim em discussão. Mas, em última análise, aprovar reformas é uma coisa; implementá-las será outro desafio."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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