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    Porto idealizado por Eike Batista tenta ganhar gás com mudança de perfil

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    20/08/2017 02h00

    AFP PHOTO
    (FILES) This file photo taken on April 26, 2012 shows Brazilian magnate Eike Batista -- founder, chairman and CEO of EBX Group -- celebrating the first oil extraction by his oil explorer company OGX from an oil field in Porto Acu, 600 Km northeast of Rio de Janeiro, Brazil, by wearing a jacket marked with an oil handprint during a ceremony also attended by Brazilian President Dilma Rousseff. Brazilian authorities issued an arrest warrant for the country's former richest man Eike Batista on January 26, 2017 in a money-laundering probe, prosecutors said. The former oil and mining magnate, 60, is the latest high-profile suspect in investigations linked to a vast bribery scandal at state oil firm Petrobras. / AFP PHOTO / JORGE SILVA ORG XMIT: ASC053
    Eike Batista

    Três anos após sua inauguração, o porto do Açu chegou à sexta posição entre os maiores terminais portuários privados do país e, agora, foca sua estratégia de crescimento na indústria do gás natural.

    O projeto, idealizado por Eike Batista (hoje em prisão domiciliar), é agora controlado pela americana EIG, mas ainda enfrenta passivos dos tempos que integrava o Grupo X.

    Segundo dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), o porto no norte do Estado do Rio movimentou no primeiro semestre 8,6 milhões de toneladas de minério, alta de 31% em relação ao ano anterior.

    O movimento é ainda limitado pela capacidade de produção da mina da Anglo American, sua principal cliente nesse segmento, em Minas.

    Divulgação
    Navios no porto do Açu (RJ); projeto de Eike Batista agora é controlado pela americana EIG, mas ainda enfrenta passivos da época em que era do Grupo X
    Navios no porto do Açu (RJ); projeto de Eike Batista agora é controlado pela americana EIG

    Quando estiver a plena capacidade, poderá movimentar até 26,5 milhões de toneladas por ano -o que o colocaria hoje na quarta posição entre os terminais privados.

    Idealizado para aproveitar o terminal de minério para atrair indústrias metalúrgicas, o empreendimento passa por uma "mudança de perfil", nas palavras do presidente da Prumo Logística, proprietária do porto, José Magela.

    Na segunda (14), anunciou parceria com a alemã Siemens para investimento em uma usina térmica de 1,3 GW (gigawatts), parte de um complexo que inclui um terminal de importação de gás negociado com a britânica BP.

    O projeto tem como âncora contratos de venda de energia assinados em 2013 pela gaúcha Bolognesi, que previa a construção do complexo em Pernambuco, mas não conseguiu nem iniciar o investimento. "Aqui já temos o cais, já temos a linha de transmissão [de energia], a localização privilegiada, perto do centro de consumo e parceiros", diz Magela.

    Ele não fala em números, mas diz que precisa iniciar a obra até o começo do ano que vem para cumprir os contratos de venda de energia, vigentes a partir de 2021.

    Segundo o executivo, o investimento seria o primeiro passo para a criação de um "hub de gás" no porto, modelo que prevê a conexão com campos produtores do combustível e com a malha de gasodutos do Sudeste, que passa a 40 km de distância.

    A ideia é usar parte do gás para movimentar um parque térmico de até 6,4 GW e injetar os excedentes do combustível na rede, para distribuição a outros clientes.

    No longo prazo, a companhia espera que a disponibilidade de gás natural atraia outros segmentos que usam o insumo, como petroquímica e fertilizantes.

    FIASCO

    Quando ainda comandava o projeto, Eike prometia a instalação de siderúrgicas, do estaleiro de sua controlada OSX e até de uma montadora de carros elétricos, projetos que nunca saíram do papel.

    O estaleiro, pelo contrário, é hoje ainda fonte de problemas para os novos controladores -Eike só tem 0,19% da empresa atualmente.

    No segundo trimestre, a Prumo contabiliza R$ 659 milhões em financiamentos concedidos à empresa, que está em recuperação judicial, além de R$ 67 milhões pelo pagamento de dívidas da ex-coligada com fornecedores.

    A empresa enfrenta ainda ações na Justiça a respeito da polêmica desapropriação de terras para a construção do complexo, que tem uma área de 90 quilômetros quadrados.

    O processo de desapropriação, que culminou com a retirada de 60 famílias da área, é um dos alvos de investigação da Operação Lava Jato, que acusa Eike de ter pago propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho.

    AUDITORIAS

    O presidente da Prumo, José Magela, diz não ver risco de contaminação da empresa pelas denúncias de corrupção contra Eike Batista.

    "Fizemos diversas auditorias e, até o presente momento, não tem absolutamente nenhum tipo de indício de que a empresa tenha feito algo errado", afirma. "Não perco um minuto de sono com isso."

    Eike controlava a LLX, nome da proprietária do porto do Açu até a falência de seu império econômico. Hoje, cumprindo prisão domiciliar, tem uma fatia de apenas 0,19% da companhia.

    Após sua saída, a americana EIG foi tomando controle da empresa, que passou a se chamar Prumo, com várias operações de aumento de capital, nas quais injetou recursos necessários para tocar as obras no porto.

    Na operação mais recente, em outubro de 2016, colocou R$ 657 milhões, aumentando sua participação no negócio para 76%.

    Atualmente, a controladora tenta fechar o capital da companhia, comprando os 20% de ações que estão em mãos de terceiros -com novas compras no mercado em 2017, a EIG aumentou sua fatia para 80,2%.

    O porto do Açu já consumiu mais R$ 12 bilhões em investimentos e ainda precisará de mais recursos, admite Magela.

    A estratégia é tentar atrair o maior volume possível de capital de parceiros.

    O modelo de parcerias já vem sendo adotado em negócios hoje em operação, como o terminal de abastecimento de navios, com a britânica BP, e o canteiro para reparo de embarcações, com a GranEnergia.

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