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    Após questionamento de Serra, Lindberg interrompe votação de TLP

    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    22/08/2017 19h23

    Rafael Andrade - 30.jan.2009/Folhapress
    Relator de novo juro do BNDES está do lado do governo, diz secretário
    Prédio do BNDES, no centro do Rio de Janeiro

    Uma inusitada convergência de posições dos senadores José Serra (PSDB-SP) e Lindberg Farias (PT-RJ) paralisou a votação da medida provisória que cria a TLP, nova taxa de juros do BNDES.

    Prevista para ser votada em comissão nesta terça (22), a discussão foi interrompida após Lindberg acatar um questionamento de Serra sobre a proposta do governo e encerrar a sessão, à revelia dos governistas.

    Serra argumentou que a criação da nova taxa terá impacto orçamentário, o que não está descrito no texto da medida provisória, como manda a constituição.

    Isso porque, com o aumento esperado dos juros do BNDES com a troca da atual TJLP para a TLP, os gastos do Tesouro para bancar linhas ainda mais baratas –benefícios explícitos no Orçamento– aumentariam.

    Contrário à mudança na taxa do banco estatal, Lindberg anunciou que acataria o questionamento e encerrou a sessão sem consultar governistas que integram a comissão, o que provocou a ira de parlamentares da base de apoio do governo.

    A medida provisória corre o risco de caducar se não for votada nos plenários da Câmara e do Senado até o dia 6 de setembro, por isso, os governistas têm pressa.

    Sob gritos de "autoritário", "déspota", "moleque" e "isso aqui não é a convenção do PT", Lindberg deixou a comissão criticando a proposta de mudança na taxa do BNDES.

    "Essa medida provisória é um escândalo. No momento de uma depressão econômica de 8% da nossa economia, uma medida como essa mata qualquer possibilidade investimento no médio e longo prazo."

    "Usei meu poder de presidente, eu tenho minhas atribuições como presidente e usei minhas atribuições como presidente", justificou, ao defender-se das acusações de "autoritário" dos colegas governistas.

    O relator da MP, deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), afirmou que Lindberg preparou uma "arapuca".

    "De maneira sorrateira, ele se preparou para responder à questão de ordem de uma maneira aparentemente combinada", disse, sugerindo a parceria entre o tucano e petista contra a TLP.

    Segundo ele, Lindberg "está brincando com o país". "É preciso ter voto e ganhar no voto e não na rasteira como feito aqui."

    Poucos minutos depois, os líderes Romero Jucá (PMDB-RR) e André Moura (PSC-SE) lideraram a volta dos parlamentares governistas à sala da comissão.

    "Não há perigo de vocês vencerem no grito", afirmou Romero Jucá (PMDB-RR), aos gritos, para o deputado Afonso Florence (PT-BA) na volta dos governistas à sala da comissão.

    "Levantaram uma discussão de que não tinha [cálculo de] impacto. Ora, a gente teria que discutir impacto se nós tivéssemos dando subsídio, mas o que o governo está fazendo é retirar o subsídio. Ou seja, não há gasto do Tesouro, ao contrário, o Tesouro ganha", disse. "Falar em impacto é algo hilariante."

    Os governistas então apelaram para o presidente do Senado, Eunício Oliveira, para tentar afastar Lindberg da presidência da comissão. Mas, após conversar com Oliveira, Lindberg decidiu convocar reunião para esta quarta (23), às 9h.

    "Se amanhã [quarta-feira, 23], às 9h, ele não abrir [a sessão] nós vamos trocar [de presidente]. Só não trocamos porque ele recuou, reconheceu que errou, que tomou uma decisão ditatorial. Se ele não estiver às 9h, vamos eleger um novo presidente para tocar a comissão e levar a matéria para plenário ainda amanhã", afirmou André Moura, líder do governo na Câmara.

    Sobre o questionamento feito por Serra, Moura foi na mesma linha de Jucá: "Não temos que demonstrar impacto porque a medida provisória não tem impacto. Muito pelo contrário, ela traz economia."

    Economistas da área econômica do governo sustentam que a MP não cria novas despesas obrigatórias, por isso não seria necessária a estimativa de impacto no Orçamento.

    Além disso, a equalização de juros já ocorre hoje, quando o CMN (Conselho Monetário Nacional) altera a TJLP (taxa de juros de longo prazo). Ou seja, não significará um gasto extra.

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