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    Privatizações buscam gerar 'ânimo artificial' no mercado, diz economista

    DANIELLE BRANT
    ENVIADA ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

    26/08/2017 15h43

    Os recentes anúncios de privatizações não passam de "manobras diversionistas" do governo e são altamente improváveis de se concretizar durante o mandato do presidente Michel Temer, afirmou neste sábado (26) o economista Eduardo Giannetti.

    Ele participou do 8º Congresso Internacional dos Mercados Financeiro e de Capitais, realizado em Campos do Jordão (SP).

    "O governo Temer está tentando usar já essa apressada introdução do tema, especificamente no caso da Eletrobras e de outros, para desviar a atenção de questões e para gerar um ânimo artificial nos mercados financeiros", afirmou.

    "Isso sem realmente estar empenhado e até mesmo sem ter condições de executar durante seu mandato as privatizações que está propondo."

    Ele vê como "altamente improvável" que as privatizações sejam concluídas até o fim do mandato do presidente. "Então parece que é mesmo uma tentativa de artificialmente gerar algum ânimo e alguma confiança para simplesmente, numa manobra diversionista, desviar a atenção de outras questões e de uma agenda que não ajuda o governo".

    Nesta semana, o governo revelou propostas de diluir sua participação acionária na Eletrobras, deixando o comando da empresa para o setor privado.

    Também incluiu o aeroporto de Congonhas, a Casa da Moeda e uma usina da mineira Cemig na lista de concessões.

    "Em princípio, acho a privatização um tema relevante no Brasil de hoje, ainda mais à luz do que aconteceu com as nossas estatais no período recente", afirmou Giannetti. "O que eu não gosto é da maneira como se apresentou de afogadilho, sem uma discussão, sem um debate, e aparentemente com uma clara visão de fazer caixa para cobrir deficits fiscais de gastos correntes."

    Giannetti avalia a iniciativa do governo como um equívoco. "O Brasil não deve privatizar para simplesmente cobrir temporariamente a gravidade do seu problema fiscal". O economista exemplificou com a situação de alguém que decide vender "a prata da família para jantar fora".

    "Se você gastar isso cobrindo um rombo de curto prazo ou deficit, você vai perder seu ativo e o problema continuará lá onde sempre esteve", complementou.

    No dia 15, o governo anunciou revisão da meta de deficit fiscal deste ano e de 2018, e avisou que só volta ao azul em 2021.

    PAPEL DO ESTADO

    Para Giannetti, a grande reforma econômica brasileira deveria ser uma separação clara entre público e privado. "É falso o debate mais Estado ou menos Estado no Brasil. Porque o Estado brasileiro está onde não devia e não está onde deveria."

    Segundo ele, o Estado está onde não deveria ao proteger a economia, ao dar crédito subsidiado, ao fazer contratos inexplicáveis com segmentos do setor privado que se beneficiam de uma situação de acesso privilegiado ao poder.

    "Um intervencionismo desastrado que gerou a pior recessão da história brasileira da qual felizmente agora estamos dando os primeiros sinais de que estamos saindo."

    O economista avalia que é preciso ter mais respeito à economia de mercado. "O Estado brasileiro deveria estar na formação de capital humano, no ensino fundamental de qualidade, saúde pública, saneamento básico. É vergonhoso um país como o nosso, em pleno século 21, em que metade praticamente metade dos domicílios não tem acesso à coleta de esgoto", afirmou.

    REFORMA TRAVADA

    Parada no Congresso, a reforma da Previdência não tem chance de progredir no Congresso antes das eleições de 2018, afirmou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) em coletiva após o evento

    "A reforma da Previdência não tem chance de progredir na Câmara e no Senado antes do processo eleitoral."

    Caiado disse ainda que a TLP, nova taxa de juros do BNDES que foi aprovada no plenário da Câmara nesta semana deve ser aprovada no Senado até 6 de setembro.

    A jornalista viajou a convite da B3

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