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    Brasileiro tem pela 1ª vez poder de compra menor do que chinês

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO
    ÁLVARO FAGUNDES
    DE EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"

    27/08/2017 02h00

    Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Folhapress/Folhapress
    SÃO PAULO,SP,10.12.2016:MOVIMENTAÇÃO 25 DE MARÇO - Movimentação no comércio da Rua 25 de Março em São Paulo, SP, neste sábado (10), para as compras de Natal. (Foto: Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Folhapress)
    Movimentação no comércio da Rua 25 de Março em São Paulo

    Em 1980, o cidadão brasileiro médio era 15 vezes mais rico do que o chinês. Com o forte crescimento do país asiático e as crises sucessivas do Brasil, a diferença foi diminuindo gradualmente. Em 2016, o poder aquisitivo chinês ultrapassou o brasileiro.

    A renda per capita anual da China (em paridade do poder de compra, PPC) atingiu US$ 15.399 em 2016, pouco acima dos US$ 15.242 do Brasil, segundo estatística do FMI.

    O cálculo em PPC leva em conta os diferentes custos de vida dos países e permite, com isso, que os níveis de renda sejam comparados de forma adequada.

    A China não foi a única nação em desenvolvimento que deixou o Brasil para trás na última década. Os cidadãos da Tailândia, do Panamá, de Botsuana, da República Dominicana, da Costa Rica e do Uruguai também se tornaram mais ricos que os brasileiros.

    A renda do Brasil era o triplo da média dos países em desenvolvimento e emergentes em 1980, segundo o FMI. Em três décadas e meia, essa vantagem caiu pela metade.

    Renda per capita em PPC - Em US$

    A tendência de empobrecimento relativo é resultado da dificuldade que o Brasil enfrenta em sustentar taxas de crescimento estáveis e altas por longos períodos. O problema foi agravado pela severa recessão enfrentada pelo país desde o segundo trimestre de 2014.

    "Atualmente, há poucos casos de países em situação pior que a do Brasil", afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisas do banco Goldman Sachs para a América Latina.

    Para Ramos, mesmo nos anos de bom desempenho do Brasil –a economia chegou a crescer em média 4,5% entre 2004 e 2010–, o otimismo com o país era exagerado.

    Na década passada, prevalecia a percepção entre analistas de que o Brasil finalmente iria decolar, porém nos últimos anos o país acabou devolvendo parte dos avanços. A economia brasileira chegou a representar 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto) global em 2011. Em 2016, essa fatia foi para 2,4%.

    O problema, segundo economistas, é que o Brasil crescia embalado por fatores como uma forte expansão do ciclo de commodities, mas pouco avançava em reformas estruturais e institucionais.

    "Era evidente que o setor público estava alocando mal os recursos que arrecadava", afirma Ramos.

    Investimento - Em % do PIB

    Economia brasileira - Gasto com pesquisa e desenvolvimento, em % do PIB

    Segundo Robert Wood, analista-chefe da Economist Intelligence Unit (EIU) para a América Latina, um sinal disso era a persistência de uma baixa taxa de investimento.

    "Não é possível crescer de forma sustentada sem investimento e poupança", afirma.

    Além de investir pouco e mal em infraestrutura e inovação, o país não tem conseguido melhorar a qualidade de sua educação, embora a escolaridade média da população tenha avançado.

    A consequência disso é que a produtividade do trabalhador brasileiro e da economia como um todo praticamente não tem avançado.

    Crescimento da produtividade por trabalhador - Em %, média entre 1980 e 2016

    A pequena exposição do Brasil ao comércio exterior –as exportações e as importações representam fatia pequena do PIB no país– contribui para esse cenário.

    Países mais abertos têm mais acesso a tecnologias avançadas de produção.

    Peso do comércio exterior - Em % do PIB

    A produtividade é uma medida da eficiência com que os recursos de um país –máquinas e capital humano– são utilizados. Se ela não aumenta, o crescimento emperra.

    Parte do problema, segundo o economista Rodrigo Zeidan, é a corrupção, que faz com que os recursos públicos sejam mal empregados e dificulta a adoção de medidas para melhorar o ambiente de negócios do Brasil.

    "Se não aproveitarmos o atual momento para reduzir a corrupção, correremos sério risco de continuar regredindo", diz Zeidan, que é professor associado da New York University Shanghai.

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    Veja outros gráficos:

    Fatia do PIB mundial total - Em %, medido em US$ correntes

    PIB per capita em PPC - Como % do norte-americano

    Economia brasileira - Valor das empresas na Bolsa em relação ao PIB do país em 2016, em %

    Economia brasileira - Pedidos de patentes no país e no exterior, em mil

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