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    Investimento fraco limita fôlego da retomada econômica

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    02/09/2017 02h00

    O resultado do PIB do segundo trimestre indica que o Brasil deixou a recessão para trás, mas permanece a uma longa distância do crescimento sustentado.

    Os motores do fim do ciclo de contração da atividade ao longo do primeiro semestre foram o setor agrícola –que teve forte crescimento no início do ano e se manteve firme– e, mais recentemente, o consumo das famílias que deu impulso ao comércio.

    A principal barreira à passagem desse estágio para um retorno à expansão mais dinâmica da economia é a continuação da queda dos gastos de empresas com ampliação de fábricas, abertura de novas unidades e compra de máquinas e equipamentos.

    PIB DO BRASIL
    Economia do país cresce 0,2% no 2º tri

    Ao recuar 0,7% no segundo trimestre, o investimento voltou para o patamar visto entre abril e junho de 2009, segundo o Goldman Sachs.

    Como proporção do PIB, o investimento –que aumentava em ritmo lento mesmo na época da expansão mais forte da economia brasileira– despencou nos últimos anos de recessão, chegando a 15,5% no segundo trimestre.

    A taxa atual do Brasil só perde para os indicadores de 23 países entre um total de 135 nações para as quais o FMI tem dados referentes a 2016.

    Segundo economistas, embora o cenário revelado pelos dados do PIB do segundo trimestre seja mais animador, o desempenho fraco do investimento ainda limita o fôlego da retomada.

    "Diminuiu muito o risco de a economia voltar a mergulhar na recessão", diz David Beker, do Bank of America Merrill Lynch. "Mas, sem uma recuperação do investimento, permanecem dúvidas sobre a intensidade da recuperação", completa o economista.

    Segundo Beker, o investimento normalmente já deveria ter reagido ao atual ciclo de queda de juros. A taxa Selic recuou de 14,25% em agosto de 2016 para 9,25% em julho deste ano.

    PIB por setores

    Mas uma série de fatores tem impedido uma reação mais rápida.

    Um deles é a incerteza em relação ao cenário político. Outro é a falta de crédito novo para as empresas, que ainda tentam equacionar as dívidas contraídas no passado.

    Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullet Prebon, ressalta que o nível muito alto de capacidade não utilizada pelas empresas também limita o investimento.

    Máquinas e equipamentos ociosos significam que é possível aumentar a oferta de bens sem investir em nova capacidade produtiva.

    Mas o economista da Tullet Prebon afirma que, com a melhora da confiança, alguns setores tendem a voltar a investir nos próximos meses.

    Igor Velecico, economista do Bradesco, concorda. "Há setores com mais ociosidade e outros com menos. Os que têm menos devem reagir à recuperação do consumo", diz.

    Segundo ele, as empresas têm percebido que, embora a alta do consumo no segundo trimestre tenha sido impulsionada pela liberação do FGTS, ela tem prosseguido.

    Os especialistas creditam essa continuação à melhora no mercado de trabalho e nas concessões de crédito a pessoas físicas.

    A expectativa é que o investimento reaja a esses sinais.

    Mas, dificilmente, segundo economistas, o ímpeto necessário a uma retomada mais forte da economia ocorrerá até que o cenário político para 2019 esteja definido.

    O risco, segundo eles, é que, em um ambiente sem a continuação de reformas para conter a explosão dos dados do governo e da dívida pública, o investimento continue patinando.

    Nesse contexto, a modernização da economia permaneceria limitada, o que limitaria o crescimento da produtividade da economia e, com isso, a capacidade de crescimento do país.

    Uma consequência desse eventual cenário negativo seria a volta de pressões inflacionárias, já que as companhias não aumentariam a sua oferta para atender a maior demanda das famílias por bens e serviços.

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